Dólar quebra recorde histórico e fecha em R$5,97 com divulgação do pacote fiscal
O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,97, alta de 2,83% ao longo da semana e de 21,43% no acumulado do ano.
A semana começou marcada por pouca movimentação no câmbio, com o mercado em aguardo pelo anúncio do pacote fiscal frente a um cenário externo benigno, que foi favorável à cesta de moedas emergentes no geral. Após quase um mês, as medidas foram divulgadas e, conforme apontadas em nosso relatório, os resultados são mais negativos do que positivos frente ao que se era esperado.
Apesar do anúncio de cortes de gastos totalizando R$71 bilhões nos próximos dois anos, o pacote foi ofuscado pela promessa simultânea de expandir a isenção de IR para R$5 mil, que já havíamos colocado no radar desde meados de outubro. A reforma de renda, mesmo sendo pleiteada como fiscalmente neutra com o aumento de impostos para remunerações acima de R$50 mil, deverá gerar impulso fiscal via aumento do consumo, situação que não é bem-vinda em meio a uma economia cujo desemprego já se situa em mínimas históricas e uma inflação que não dá sinais claros de convergência para o centro da meta mesmo com uma política monetária que opera em nível restritivo.
O último pregão da semana foi particularmente volátil, atingindo R$6,10 na primeira hora da sessão por motivos técnicos, com investidores americanos se reposicionando no mercado de futuros que abriu após o feriado de Ação de Graças. A reação aguda foi fator de consternação para o governo, motivando discursos dos presidentes da Câmara e Senado que afirmaram compromisso com o arcabouço fiscal e que a reforma do IR só acontecerá caso as condições fiscais sejam condizentes. Isso trouxe certo alívio para as percepções de risco fiscal e motivaram baixa no dólar, invertendo os ganhos da moeda americana no dia.
De todo modo, o câmbio persiste em patamares historicamente esticados e significativamente acima das nossas estimativas de equilíbrio de médio prazo, situação que deve persistir enquanto o condicionante de risco fiscal não for resolvido em meio à tendência de endividamento crescente do governo federal, como vimos novamente hoje com a divulgação de dados fiscais.
Expectativas de mercado
Com a volta dos temores fiscais à pauta, o mercado voltou a precificar maior volatilidade nas próximas semanas. Tendo em vista os eventos da semana, porém, realçamos mais atenção para a volatilidade implícita nos vértices mais longos que pouco se alterou, indicando que não houve desancoragem adicional nas expectativas de câmbio, ainda que a situação atual esteja entre as mais estressadas ao longo do último ano.
Notamos ainda que, a despeito das apostas mais agressivas em aumentos de juros no atual ciclo de aperto monetário, o patamar atual ainda não está atrativo o suficiente para mitigar o desposicionamento institucional que tem acontecido ao longo das últimas semanas. Entendemos que a moeda brasileira está significativamente descontada, tanto em termos absolutos quanto relativo aos pares emergentes, e que a situação atual está bem propícia para o carry trade de estrangeiros, mas a entrada adicional de divisas só deverá acontecer em maior intensidade com uma solução enfática para os desequilíbrios fiscais atualmente enfrentados.