Carteiras


Market Strategy: Asset Allocation Fev.25

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 03/fev

Palavra da Estrategista – Fev.25

O mundo começa mais protecionista

Os 31 dias de janeiro mais pareceram meses com todos os acontecimentos, esperados e não esperados, que impactaram os mercados no período.

Desde o discurso de posse de Trump, carregado de mensagens sobre a volta da soberania norte-americana e contando com a presença de grandes líderes do setor de tecnologia, até mesmo do inesperado surgimento da deepseek como uma possível ameaça ao reinado das Big Tech.

Os mercados iam bem, beneficiados pelos resultados corporativos acima do esperado, além de uma economia que segue forte e um mercado de trabalho que continua resiliente. O Fedmanteve os juros, preocupado com a inflação, e o mercado corrigiu em toda a curva, suas expectativas.

Entretanto, fevereiro começa sob ameaças de uma guerra comercial em nível global, com países adotando uma postura defensiva ante as imposições de Trump, o que poderia levar a um impacto negativo no PIB mundial e pressões inflacionárias adicionais.

No Brasil, o mês foi positivo, apesar do fiscal ainda pesar nas decisões de investimentos.

Os prêmios continuaram refletindo as incertezas e o descontentamento com as contas públicas, mas isso não foi suficiente para impedir a volta do capital externo, com estrangeiros voltando a comprar a bolsa brasileira.

No mês, as expectativas de inflação continuaram sendo ajustadas para cima e, de fato, as últimas leituras ainda mostram pressão de preços. Em sua última reunião, o Copom decidiu por um aumento de 100 p.b. nos juros, conforme esperado, levando a Selic a 13,25% e deixando contratada mais uma alta de 100 p.b. No câmbio, o real ganhou força ante o dólar e fechou com valorização de mais de 5%.

Para o mês que se inicia, temos mudança no Legislativo, com liderança favorável ao governo na Câmara, mas opositora no Senado. Reforma ministerial deve ser o foco para os próximos meses. A temporada de balanços tem início com o resultado dos grandes bancos e poderemos ver movimentações pontuais, conforme os números das empresas vão sendo divulgados.

Bons investimentos!

Como começa 2025?

Posse de Trump, tarifas e questionamentos sobre a hegemonia das Big Tech

Janeiro foi um mês agitado, fazendo com que 31 dias parecessem seis meses. No período, tivemos altos e baixos nas bolsas-norte americanas, com a hegemonia das Big Techssendo questionada por uma empresa chinesa de AI, a deepseek. Tivemos também a posse de Trump com discurso voltado ao retorno da supremacia norte-americana perante o mundo.

A temporada de balanços começou com resultados muito fortes dos bancos, que agora brigam com as Big Tech como setor com maior crescimento nos lucros na comparação anual. E falando nas Big Tech, a chegada da deepseekagitou o setor, colocando em xeque a hegemonia destas companhias na corrida da IA bem na semana de divulgação de seus resultados. No geral, vimos números bons, com receitas crescentes e, em alguns casos, batendo as estimativas de Wall Street, mostrando que os investimentos que vêm sendo feito, seguem gerando resultado.

No campo político, de acordo com o que vimos no discurso de posse, Trump deixou claro que deverá beneficiar a indústria local, via imposição de tarifas e corte de impostos, mas também avançando na desregulamentação da economia. Neste sentido, vimos já acontecer uma rotatividade entre os grandes setores da bolsa, com setores como financeiro, consumo discricionário e saúde liderando os ganhos no mês.

Por fim, tivemos a decisão do FOMC que manteve os juros no mesmo nível, mas mudando um pouco o direcionamento do discurso, pontuando a resiliência da economia norte-americana, mostrando desta vez menor preocupação com o mercado de trabalho, mas receios mais elevados quanto à trajetória da inflação.

Juros, inflação e uma pitada de resultados corporativos:

No Brasil, um pouco mais do mesmo para este início de ano. A narrativa sobre austeridade fiscal perdura e segue impactando nos prêmios de risco. Os investidores locais continuam descrentes do posicionamento do governo, mas ao mesmo tempo, vimos uma retomada do capital estrangeiro na bolsa brasileira, com entrada de cerca de R$ 7,2 bi.

No cenário político, governo agora lida com as novas lideranças no poder legislativo, com a nomeação de Hugo Motta para a Câmara e Davi Alcolumbre para o Senado. De acordo com a Arko Advice, consultoria política, a relação entre o Executivo e o Congresso deverá ser marcada por altos e baixos, assim como foram os dois primeiros anos de governo e isso deve demandar um foco maior do governo agora para entrega da Reforma Ministerial.

No cenário macroeconômico, o Copom elevou a Selic em 100 p.b., para 13,25% e precificamos um pico de 15% na nossa taxa de juros para este novo ciclo, considerando que a inflação ainda deva seguir acima da meta por um tempo.

Já para o corporativo, teremos a temporada de balanços fazendo seu preço, com boas expectativas em termos de receitas e lucros, apesar do cenário de juros mais restritivo. O dólar em alta no último trimestre do ano deve impactar positivamente as receitas das exportadoras, enquanto o crédito mais limitado pode refletir em dificuldades para demais segmentos.

Asset Allocation Fev.2025

Juros e prêmios elevados, renda fixa ainda lidera na alocação

Como falamos no nosso relatório de estratégia para 2025, o Brasil segue sendo o país da Renda Fixa, então não tem como remar contra a maré. Nos atuais prêmios, fica difícil ignorar, mesmo com os questionamentos que surgiram ao longo da semana sobre o risco de “calote” em se manter um ativo IPCA+8% no longo prazo.

Sendo assim, hora de voltar os olhos à qualidade do emissor. Continuamos sobrealocados na renda fixa, visando aproveitar os patamares de juros que temos hoje. Seguimos com exposição maior aos ativos atrelados a IPCA+, mas sem abrir mão dos pós-fixados. Aqui, sugerimos um mix entre títulos governamentais e corporativos, atentando para a duration da carteira, já que o cenário doméstico ainda deve trazer volatilidade aos ativos mais longos.

Na alocação de renda variável, apesar de diminuirmos a alocação ótima, seguimos diversificados na bolsa brasileira. No entanto, preferimos setores mais defensivos e empresas consolidadas neste momento, que tendem a sofrer menos com as pressões do cenário e devem seguir pagando bons dividendos, para compensar a limitação na precificação dos ativos.

Buscando otimizar a rentabilidade do portfólio e diversificação do risco país, na alocação internacional estamos sugerindo exposição à renda fixa americana, principalmente por conta do cenário de menos cortes de juros pelo Fed, mas aqui também, importante atentar à durationdos títulos, em razão da alta volatilidade. Portanto, ficamos mais confortáveis com bonds de médio prazo (5-7 anos) e mantemos ainda posição maior em liquidez. 

Na renda variável, seguimos com nossa posição neutra em S&P500, mas ressaltamos preferência por setores que podem se beneficiar do novo governo, como indústria e financeiro.

Cenário Doméstico

Início de 2025 se mostra mais ameno

A taxa de câmbio que chegou a testar o patamar de R$6,30 ao longo de dezembro, encerrou janeiro no menor valor desde 26/11 com a menor incerteza fiscal e externa.

Entretanto, a decisão do Copom de janeiro, teve impacto significativo nos mercados. Apesar da decisão já ter sido adiantada na reunião de dezembro, a nova alta de 100 bps foi acompanhada de um comunicado lido pelo mercado como dovish. Cabe lembrar que essa foi a primeira reunião sob comando do novo presidente do Bacen, Gabriel Galípolo, reacendendo as desconfianças de um eventual alinhamento do Comitê ao governo federal.

Nos últimos dias, porém, os sinais de desaceleração da economia acentuaram. Os dados da indústria, varejo e serviços, referentes a novembro, já foram piores que o esperado. Mas foram os dados de mercado de trabalho que fizeram preço. Os dados de geração de emprego formal para dezembro foram bem piores que o esperado, enquanto a taxa de desocupação medida pela PNAD aumentou em dezembro. Portanto, podemos estar próximo de um ponto de inflexão no mercado de trabalho, em que começamos a ver um esfriamento das condições empregatícias.

Assim, vimos nos últimos dias a curva de juros devolver boa parte do seu prêmio e o mercado reduzindo a precificação de que a Selic chegará nos 16%, uma vez que uma eventual desaceleração mais forte que o esperado da economia faria o Copom encerrar o ciclo de alta prematuramente. 

Portanto, vemos o mercado convergir para o nosso cenário base de que a Selic alcançará o pico do ciclo em maio, a 15%, enquanto a economia desacelera gradualmente, crescendo apenas 1,7% em 2025, ante o crescimento esperado de 3,5% para 2024.

Cenário Internacional

Posse de Trump e suas políticas

No âmbito internacional, as atenções estiveram voltadas para a posse de Trump e suas políticas, principalmente a tarifária, que mostrou a adoção de 25% de tarifas para Canadá e México e 10% para China, além de promessas de mais para outros países. No geral, tivemos mais um mês em que a economia americana demonstra sua resiliência. Os dados do mercado de trabalho referente a dezembro vieram bem mais fortes que o esperado, reduzindo a taxa de desemprego para 4,1%. Por outro lado, a inflação de dezembro veio em linha com o esperado, mas com um núcleo levemente abaixo da expectativa dando um alívio para os mercados.

Assim, como esperado, o Fed manteve a taxa de juros no atual patamar na reunião de janeiro, justamente por conta da resiliência da economia americana. O que se vê hoje é que a economia americana não demanda cortes agressivos, tampouco há urgência por parte do Fed em levar a taxa de juros para o seu patamar considerado neutro, que estimamos estar por volta de 4%. Houve uma mudança no tom do comunicado, que foi sutil, mas significativa. No comunicado de hoje, o comitê indica que enxerga solidez no mercado de trabalho, enquanto a inflação permanece, na visão do comitê, elevada.

Outro fator que contribuiu para essa pausa é a incerteza sobre as políticas econômicas de Trump, que poderão gerar impacto inflacionário. Assim, o Fed se mostra cauteloso em aguardar novos desenvolvimentos para poder reagir de maneira adequada. E, como Powell deixou escapar, essa incerteza pode fazer com que a pausa se estenda até a reunião de março. De toda forma, o que se vê é o espaço para novos cortes diminuírem, mas a expectativa do Fed de realizar mais dois cortes em 2025 ainda é factível, especialmente se houverem surpresas inflacionárias benignas.

Renda Fixa

Juros em alta

2025 começou sem alívio para os juros, com as curvas bastante estressadas e em elevado patamar. As expectativas com a inflação, resultado fiscal do Governo, câmbio e outras variáveis tem levado a bastante volatilidade, impactando diretamente os ativos de renda fixa.

Na última semana tivemos a decisão do Copom, passando a Selic para 13,25% e endereçando outra alta de mesma magnitude, o que fez a volatilidade ficar um pouco mais modesta. Todavia, o cenário externo com Trump e suas medidas tarifarias podem impactar na vol em fevereiro.

Em termos de performance, os destaques tem sido ainda os ativos pós fixados, visto o elevado patamar do CDI, onde no ano acumulam alta de 1% e nos últimos 12 meses de 10,9%. Em contraponto, o IMA-B, que mede os ativos IPCA+, tem performance de 1% no ano e -1,1% nos últimos 12m, aproximadamente.

Vale lembrar que como o IPCA+ tem uma taxa que é parte pré a alta dos juros leva a uma marcação a mercado negativa. Todavia, é anda o principal call, em nossa opinião, para 2025. Assim, aproveite com moderação.

Ibovespa

Um mês atípico e temporada de resultados no radar

O mercado surpreendeu em janeiro e a bolsa brasileira, representada pelo Ibovespa, avançou 4,9% no mês, destoando das projeções pessimistas para o índice. Claro, o mercado segue reticente com investimentos em ativos de risco no Brasil. A situação fiscal ainda é um alerta e os juros seguem em trajetória elevada, com o Copom indicando mais uma alta de 100 bps na próxima reunião de março e deixando em aberto a decisão para maio, o que fez com que o mercado se animasse um pouco em relação à trajetória dos juros por aqui.

Desta forma, setores que estavam sentindo na pele os efeitos dos juros elevados, como varejo, imobiliário, educação, tecnologia entre inúmeros outros, acabaram recebendo o fluxo estrangeiro que veio com força neste início de ano, atingindo até 30 de janeiro um saldo de R$ 7,2 bi.

De resto, apesar da alta recente, o Ibovespa segue subavaliado, negociando a 7x lucros esperados para 2025, trazendo inúmeros descontos na maioria dos setores, mesmo com as altas recentes.

No mês de janeiro, os destaques ficaram para o setor de Educação, que avançou cerca de 22%, seguido de Tecnologia, com alta de 23%. Nos avanços mais modestos, tivemos o ramo imobiliário com alta de 11%, seguido pelo financeiro e varejo. Com o único setor em queda sendo o agro, alimentos e bebidas, com ações de frigoríficos em destaque reagindo a relatos de gripe aviária nos Estados Unidos.

Fevereiro começa com esse fluxo positivo pra bolsa, mas também com pé atrás sobre como será o ano diante das incertezas não só internas com os ruídos políticos, mas também globais, com Donald Trump tarifando quem passar na sua frente. Além disso, para movimentar o mercado, a temporada de resultados estará a todo vapor. Confira o que esperar aqui.

Real Estate

Mercado brasileiro aquece na margem; EUA sem retomada clara

A atividade no Brasil demonstrou melhora frente a última leitura, com o qualitativo regional dos preços e aluguéis indicando uma assimetria ainda não resolvida entre a oferta e demanda de imóveis ao redor do país que continua pressionando estoques e aumentando preços.

No lado da demanda, o crédito continua firme, com recorde mínimo de inadimplência e poucos sinais de impacto do ciclo de alta da Selic no apetite dos financiamentos, que segue sustentado por um mercado de trabalho apertado e ritmo robusto de crescimento da massa salarial. No lado da oferta, vemos comportamento misto na evolução dos lançamentos, que não parecem reagir às proporções da demanda atual, gerando espaço para continuidade no aumento dos preços de vendas residenciais. Ainda em custos, ficamos atentos à possíveis pressões vindas dos materiais de construção, enquanto os custos de trabalho arrefeceram na margem.

Nos EUA, notamos ligeira melhora nos lançamentos, que seguem 13% abaixo dos níveis de 2022 e com entregas de imóveis que arrefeceram recentemente. O patamar de juros hipotecários segue restritivo e piorou na margem frente a última leitura, mantendo a demanda baixa ainda que ligeiramente melhor desde a última divulgação. Apesar da ausência na pressão de custos, os estoques permanecem altos e desencorajam uma retomada mais robusta na atividade de construção.

Fundos Imobiliários

Ruídos penalizam os fundos no mês

O setor seguia uma tentativa de recuperação ao longo de janeiro, refletindo uma leve melhora de percepção de risco, mas acabou sendo afetado pelos ruídos sobre taxação no processo de locação dos fundos imobiliários, o que foi entendido como mais um componente a contribuir para pressões inflacionárias à frente. Em razão do mal-estar gerado, Haddad veio a público se explicar, revisitando o veto presidencial e colocando panos quentes na discussão.

De qualquer maneira, olhando para frente, o cenário ainda segue desafiador. Dentre os possíveis gatilhos que vemos afetando o setor, a retomada das discussões sobre tributação de dividendos poderia jogar mais um componente de incerteza à classe, além da pressão advinda da conjuntura atual de juros ainda restritivos e o impacto na economia como um todo.

No entanto, nestes momentos de grande pressão surgem oportunidades e estamos vendo algumas opções interessantes. O flight to quality se faz presente e em alguns casos, o duplo desconto, em Fundos que investem em cotas de fundos imobiliários ou títulos de dívida, abre uma janela interessante de entrada, uma vez que a cota patrimonial subprecificadapermite o investimento a preços atrativos e o carrego de alguns fundos adicionam um percentual de retorno além do trivial. Mas, importante lembrar que apenas o fato de estar barato não é suficiente. É preciso fazer o dever de casa. Fundos de alta qualidade, estáveis e com boa gestão apresentam boas oportunidades neste momento.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail