Primeiras impressões
Com frases de impacto como “Make America Great Again” e “Put America First”, Donald Trump trouxe um discurso que oscilou entre o moderado e o fervoroso, sem grandes novidades, reforçando as promessas de campanhas e o posicionamento em favor da retomada da soberania norte-americana na geopolítica e economia global. O evento contou com a presença de grandes líderes das Big Tech, como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Tim Cook, assim como muitos líderes globais. Trump também assumiu em meio a uma maior aceitação geral quando comparado ao mandato anterior.
O 47º presidente dos Estados Unidos aproveitou o momento para passar a mensagem de que uma nova era se inicia para os americanos, a Golden Age (Era de Ouro), a qual deverá ser marcada pela volta da supremacia norte-americana, por meio não só do fortalecimento da economia via impulsionamento da indústria e elevação do protecionismo, mas também via expansão territorial (e considerando espacial, também).
Políticas imigratórias. Conforme esperado, Trump ressaltou sua posição anti-imigração e reforçou o projeto de deportação em massa de imigrantes ilegais. Declarou situação de emergência na fronteira com o México, direcionando forças especiais e recursos para reforço da segurança local. Ainda, apontou a luta contra o narcotráfico com ponto focal da restauração da segurança no país.
Inflação e a crise energética. Trump associou as pressões inflacionárias aos preços de energia em razão de menores investimentos, em especial em combustíveis fósseis. Desta forma, proferindo um “Drill, babe, drill”, reforçou a necessidade de se voltar a investir no setor de Óleo & Gás, declarando situação de emergência nacional para o segmento de energia, visando a colocar os Estados Unidos como grande exportador global de combustível.
País da indústria. Outra promessa de campanha, o fortalecimento da indústria nacional, também não foi esquecida no discurso. Trump ressaltou seu objetivo de fazer dos Estados Unidos novamente o país da indústria, com foco não só no segmento de Energia, mas também no setor automotivo.
Protecionismo: a marca de Trump. Liberation Day! Put America First like never before! As frases usadas ao longo do discurso reforçam a posição protecionista de Trump e que deve marcar seu novo governo. A implementação de tarifas para bens importados não só da China, mas de países parceiros e aliados, deve acontecer gradualmente e ser utilizada como poder de barganha pelo atual presidente. Trump informou a criação de um serviço de arrecadação externa, por meio do qual deverá administrar as taxações a produtos importados, o que poderá, em suas palavras, ser usado para compensar os futuros anúncios de redução de tributação aos americanos. Ainda sobre reformas governamentais, a criação do DOGE, Departamento de Eficiência Governamental, deve buscar a desregulamentação da economia e diminuir a participação do Estado.
Geopolítica e a era da expansão. Outro ponto que ganhou atenção nas últimas semanas foi o anúncio da intenção do presidente de anexar territórios como Groenlândia, Canadá, Golfo do México e Canal do Panamá. Em discurso que ocorreu internamente, em razão das temperaturas mais baixas (Canadá e Groenlândia?! Talvez os Estados Unidos ainda não estejam preparados), Trump focou suas falas sobre retomar o Canal do Panamá que, de acordo com ele, está atualmente sendo controlado pelos chineses. Além disso, o Golfo do México, alterado em discurso para Golfo da América também foi ponto de destaque por sua importância geográfica. Quanto à Canadá e Groenlândia, estes ficaram de fora neste momento. Mas Trump mencionou que a expansão territorial poderia acontecer, inclusive, no espaço.
Guerras e defesa nacional. Também com grande ênfase, o novo presidente reforçou a mensagem de campanha de que seu governo será um governo de paz e que fará o que for possível para acabar com as guerras em curso. Ao mesmo tempo, informou que deverão investir na defesa nacional, trazendo os Estados Unidos ao pódio das potências militares globais.
O que estamos olhando e o que estamos evitando?
- Com base em seu discurso, reforçamos nossas impressões pré-eleições. Setores que se beneficiam do processo de desregulamentação, como o setor financeiro, devem ser beneficiados ao longo do novo governo, conforme já vimos nos resultados dos grandes bancos divulgados na semana passada.
- Contrariando o que víamos de tendência nos últimos anos, a chegada de Trump ao poder enfraquece a agenda ESG e energia renovável deverá ter um retrocesso durante a sua administração em prol de uma agenda voltada a investimentos no setor de Óleo & Gás.
- Não só a indústria petroleira deve se beneficiar, mas toda a indústria nacional, com destaque para indústria de base, como siderurgia, e o setor automotivo, explicitamente mencionado em seu discurso.
- O discurso em favor da defesa nacional deve impulsionar os setores ligados a defesa, como aéreo, tecnologias voltadas a radares, armamentos e outros. Neste sentido, empresas de tecnologia voltada para monitoramento podem sair beneficiadas, assim como fabricantes de aeronaves.
- A presença de grandes líderes do setor de tecnologia ao evento de posse do presidente mostra a força com que Trump chega em seu segundo mandato. Com maior proximidade, estas empresas buscam também benesses prometidas a outros segmentos parceiros, em especial com políticas de regulamentação no setor.
- Por outro lado, a política protecionista de Trump pode trazer de volta as pressões inflacionárias vistas no passado, o que exigiria juros em patamares ainda elevados por mais tempo. Nesse sentido, setores mais sensíveis a juros, como as smallcaps, consumo e imobiliáriopoderiam ter alguma pressão adicional.
- A deportação em massa poderia impactar indústrias dependentes de mão de obra menos qualificada, como agricultura e a construção, elevando custos no setor e comprimindo margens das empresas. No entanto, aqui, vale ressaltar que empresas que demandam profissionais mais qualificados, com alta produtividade e margens, como tecnologia, por exemplo, seriam pouco ou nada afetadas.