Investimentos no Exterior


Global Markets - DeepSeek e as Big Tech

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 27/jan3 min de leitura

A corrida da AI tomou um novo rumo?

A semana começou agitada nos mercados, em especial com as Big Tech, que sofreram um baque com a ascensão da DeepSeek, empresa chinesa de AI, que prometeu funcionalidades similares às entregues pela OpenAI, por exemplo, mas a uma fração do custo, e tudo isso em open source, ou seja, aberto e gratuito para quem quiser fazer uso.

Os papéis do setor despencaram, com destaque para as ações da Nvidia que recuaram mais de 12%, com investidores questionando a real necessidade de se investir em microchips tão poderosos e tão caros para fazer frente ao avanço da AI.

Aliás, investidores já vinham se questionando sobre o montante de recursos direcionados ao desenvolvimento de infraestrutura para projetos no segmento feitos pelas grandes empresas de tecnologia, como Microsoft, Google, Meta e outros e o retorno destes investimentos. A chegada desta nova tecnologia chinesa acalora ainda mais estas discussões. Para a Nvidia, ainda mais um agravante para o seu tão esperado superchip, o Blackwell, que talvez não seja mais tão necessário assim.

O movimento ocorre em momento complexo, considerando todo o posicionamento do governo norte-americano sobre garantir a supremacia do país perante demais economias globais. E para as Big Tech, a ameaça de um novo concorrente mais eficiente e aberto ao público pode trazer novos desafios à frente diante do oligopólio mantido até então. Confira nosso relatório!

Quem é a deepseek?

Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, responsável por AI e gestão quântica no fundo de hedge da High-Flyer, a deepseek é uma empresa chinesa que desenvolve modelos de AI open-source, nos quais a comunidade pode ajudar a desenvolver, inspecionar, modificar e aprimorar o código-fonte do produto.

Um de seus produtos, o R1, oferece funcionalidade similar ao oferecido por concorrentes como OpenAI, por exemplo, no entanto com uma fração dos custos para treinar e desenvolver seus modelos, utilizando microchips de segunda geração.

A divulgação do R1 mostrou que as empresas chinesas supostamente conseguiram driblar as restrições impostas pelo governo norte-americano no que tange a exportação de tecnologia de ponta como a dos semicondutores GPU atuais. Ou seja, mais ou menos como o visto na trilogia O Dilema dos Três Corpos (aqui uma boa dica de leitura para os fãs de ficção), a limitação de recursos e tecnologia exige um desenvolvimento mais eficiente e criativo com as ferramentas disponíveis. E foi isso que a empresa fez: ao entregar uma solução similar a menor custo, colocou em xeque as justificativas do setor de que o avanço em AI só aconteceria em meio ao dispêndio de grandes recursos monetários e uso intensivo de energia.

Altos investimentos podem ser ainda mais questionados

A queda dos papéis da Nvidia e seus pares hoje refletem a ameaça à hegemonia destes grandes fornecedores de capacidade computacional para as grandes empresas de tecnologia com a chegada de um concorrente mais eficiente. No entanto, reflete também um pouco da insatisfação de investidores com um setor que vem gastando muito para construção de datacenters e infraestrutura para impulsionar seus negócios de AI, mas sem que os retornos tenham sido confirmados até o momento. Em 2025, serão bilhões de dólares investidos no setor, especialmente voltados para o aprimoramento do processamento de dados para as plataformas de AI.

Além disso, no mercado financeiro, tudo tem seu preço e após dois anos de desempenho acima da média, os preços das empresas de tecnologia estão esticados, conforme consenso de Wall Street, que mostram os múltiplos destas empresas em patamares muito mais altos que o histórico. De fato, ao longo dos últimos trimestres vimos bons resultados destas companhias, com avanços de receitas e margens, mas com o avanços dos preços de suas ações, mercado começa a se questionar sobre o quão rentável ainda é investir nessas empresas.

Por fim, esta semana a maioria das Big Tech divulga seus balanços trimestrais e os investidores virão com ainda mais questionamentos sobre os investimentos anunciados e os retornos esperados. As expectativas de Wall Street para este trimestre são de que as companhias entreguem um crescimento de 22% nos lucros na comparação anual, percentual abaixo do observado nos últimos trimestres.

Lembramos que empresas como Apple, Microsoft, Meta, Amazon e Alphabet juntas representam 45% do Nasdaq e pouco mais de 30% do S&P500, o que eleva os receios de qualquer correção no setor.

O que muda com AI e o open source?

As Big Tech dominam o setor de AI, isso é inquestionável. Especialmente para empresas como a Microsoft, que passou a liderar o movimento ao financiar a OpenAI, a chegada de um concorrente como a deepseek pode ressignificar a maneira como estas empresas operam.

Ao disponibilizar os códigos-fonte de seus produtos, a deepseek disponibiliza também sua tecnologia a outras empresas que poderiam se aproveitar destas informações para implementá-las em seus ambientes ou até mesmo aprimorá-las e utilizá-las em seu benefício com custos muito menores. A Suze, empresa de soluções de softwares open source, por exemplo, é uma das que utiliza ferramentas como Linux para a base de seus serviços, oferecendo suporte aos usuários e cobrando por isso.

A partir de agora, poderíamos ver movimentos como estes também no segmento de AI, aumentando a competitividade no setor e exigindo um reposicionamento das Big Tech daqui para frente. Há poucos dias, o governo norte-americano discutia o banimento do TikTok e recentemente anunciou investimentos de US$ 500 bi em AI, apenas para ver hoje o app da deepseek liderar a lista de downloads na Apple Store.

Por fim, o fato de a deepseek ser uma companhia chinesa também traz à discussão o posicionamento do governo chinês quanto ao desenvolvimento e investimentos nos setores de Inovação e Tecnologia. Notícias como esta poderiam ser mais comuns no futuro e poderíamos estar falando das Big Tech chinesas também na próxima década.

Receba nossas análises por e-mail