Macroeconomia


Câmbio | 04.Nov.24

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Gustavo Menezes

Publicado 04/nov3 min de leitura

Dólar bate máxima de 3 anos e fecha a semana em R$5,87 com fiscal e inflação americana

O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,87, alta de 2,85% ao longo da semana, apreciando 19,38% no acumulado do ano.

O início da semana foi marcado pela espera pelo pacote de ajustes fiscais prometidos por Haddad no seu pronunciamento no G20. Logo na terça-feira, porém, o mercado foi pego de surpresa pela notícia de que Lula irá definir a data para o pacote de cortes de gastos, sugerindo um papel mais ativo do presidente na medida em meio a um período onde declarações do chefe de Estado tem contrastado com as declarações do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central, podendo levar a um corte de gastos menor do que o necessário para afastar os temores de risco fiscal que tem dominado a ponta doméstica do câmbio recentemente.

Tais preocupações acerca do dimensionamento do pacote aumentaram na quarta-feira, com declarações do ministro do Trabalho indicando resistência para cortes nos gastos de seguro-desemprego, que já se situam em patamares altos enquanto a taxa de desemprego atingiu o menor nível da série histórica em bases dessazonalizadas, deixando a percepção de que cortes em demais áreas, com menos gastos a serem enxugados, serão difíceis de serem obtidos.

Apesar das tensões acerca da espera pelo pacote fiscal, as pautas externas também contribuíram para o câmbio no final desta semana: receios orçamentários no Reino Unido e a continuação do “Trump Trade” pressionaram as yields de ambos os países para cima, estressando as yields brasileiras como resultado de deterioração nas condições financeiras.

Esse cenário foi acelerado na sexta-feira, com a divulgação do payroll e dos dados de manufatura ISM americanos. Apesar do resultado bem fraco do payroll, o saldo não foi completamente inesperado por conta dos efeitos do furacão Milton e também das greves afetando o setor portuário e aeroespacial. Adicionalmente, a baixa inicial das yields foi revertida completamente com a digestão dos dados do ISM, que sugeriu surpresa inflacionária na cadeia de oferta e empurrou o índice global do dólar para cima. Por conta da situação sensível do fiscal brasileiro, o cenário global impactou particularmente a moeda brasileira em seguimento aos anúncios.

Expectativas de mercado

Em meio à proximidade da eleição americana, a volatilidade esperada no câmbio precifica uma reação brusca com o resultado do colégio eleitoral. Abordamos recentemente, no nosso relatório de Global Markets, quais deverão ser os impactos esperados caso Trump ou Kamala ganhem.

De todo modo, percebe-se que a volatilidade pós-eleição é maior do que a precificada nos últimos meses, como provável indicativo do agravamento de risco fiscal que temos visto domesticamente, e que não deve sumir sem um indicativo de consenso entre as partes do governo como vimos no último relatório. Caso as medidas sejam satisfatórias, podemos esperar um alívio razoável para o câmbio nos dois últimos meses do ano: apesar de ainda não ter atingido a máxima histórica, estimamos que a cotação do dólar está cerca de 27% acima de seu equilíbrio de médio prazo.

Percebemos também uma intensificação do fluxo de vendas financeiras no câmbio contratado, que está assimétrico frente ao volume de compras, e pode indicar um sell-off motivado pela rápida alta do câmbio que pode reverter à média nos próximos dias.

Glossário

ICF: Índice de Condições Financeiras, estimado em alta frequência conforme metodologia do Banco Central. Ele serve como um barômetro para o nível de estresse enfrentado pelo mercado financeiro doméstico e internacional (quanto maior, pior o estresse), tendo consequências para a formação de preço do dólar.

Índice COT: Índice de Comprometimento dos Traders, representa a diferença entre o tamanho da posição líquida de traders e de instituições comerciais no mercado de futuros. Um índice COT maior indica que traders estão, em média, mais otimistas com a tendência do dólar, sendo uma boa medida de curto e médio prazo.

Carry trade: Estratégia onde investidores internacionais fazem empréstimos em moedas com juros baixos, para comprar títulos de moedas com juros altos. Tipicamente, no caso do Brasil, os investidores estrangeiros efetuam compras de NTN-F e LTN nos leilões do Tesouro, trazendo dólares para o mercado e apreciando a moeda brasileira.

Bid-ask spread: Refere-se à diferença entre os preços cotados para os compradores e vendedores de algum ativo financeiro. Quanto mais próximo de zero, mais os compradores e vendedores se “encontram” na transação, sendo um indicador de liquidez do mercado.

Forward/NDF: No mercado cambial, os forwards são o meio mais utilizado por estrangeiros e instituições para tomar posições de compra ou venda na moeda brasileira. Constituem promessas de entrega futura de dólares, a partir de reais, com prazos (“vértices”) que usualmente variam entre 1 semana até 1 ano datados da contratação.

Hawkish/Dovish: Referem-se a percepções de mercado sobre a trajetória de juros a ser decidida pela autoridade monetária. Um sentimento hawkish indica juros maiores do que previamente esperado, e um sentimento dovish indica juros menores do que previamente esperado.

Abertura/Fechamento de curva: A curva de juros “abre” quando há um aumento nos juros cobrados para todos (ou quase todos) os prazos de títulos em geral. Similarmente, a curva de juros “fecha” quando há uma redução nos juros cobrados para todos os prazos de títulos em geral.


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