Dólar fecha semana em R$5,71, marcado por Campos-Haddad-Picchetti no G20
O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,71, alta de 0,26% ao longo da semana. Em outubro, o dólar tem alta de 4,94%, apreciando 16,08% no acumulado do ano.
Apesar da estabilidade no fechamento da semana, e até mesmo nos fechamentos diários, as aberturas e movimentos intradia sofreram volatilidade associada a eventos importantes de mercado.
A semana começou com os agentes econômicos digerindo informação adicional acerca das eleições americanas, com formadores de preço já se antecipando à uma vitória de Trump por conta das pesquisas em estados pêndulos. Com isso, a sessão de segunda presenciou um movimento brusco de 10p.b. nas taxas americanas de 10 anos em conjunto com apreciação do dólar, apesar da divisa fechar neutra no dia com o pronunciamento hawkish de Campos Neto, que fez pressão adicional no pregão de terça, com abertura na curva de DI.
Ao longo da semana, outros membros do BC deram declarações adicionais, com Picchetti ressaltando o “prêmio de risco fiscal” na quarta- feira e a necessidade de manter o ciclo de aperto monetário em meio ao mercado de trabalho mais aquecido desde 2014. Em conjunto, Campos Neto mencionou que o BC fará “o que for necessário” para reancorar a inflação. De fato, apesar do mandato de Campos Neto já estar se encerrando, Guillen reforçou que não deve haver alteração na função de reação do BC (frente à dados econômicos) com a posse de Galípolo, demonstrando coesão interna na equipe do Banco Central.
Essa percepção de coesão interna foi expandida na quinta, com pronunciamento conjunto de Campos Neto e Haddad após a reunião de banqueiros centrais no G20. As mensagens, de tom similar e convergentes, enfatizaram a necessidade de um esforço fiscal e monetário coordenado, visando a manutenção do arcabouço fiscal e o comprometimento com o centro da meta de inflação. Tal comunicação amenizou a tensão recorrente acerca da divergência entre os dois lados do governo, que tem, segundo o presidente do BC, criado expectativas “esticadas” no câmbio e na curva de juros. Mesmo assim, o dólar voltou a ganhar força na sexta, motivado por fatores técnicos associados ao posicionamento de investidores institucionais frente ao dia anterior.
Expectativas de mercado
O efeito eleitoral americano se acentuou nas expectativas de volatilidade do câmbio, como resultado de expectativas de uma corrida eleitoral mais acirrada, com os movimentos mais bruscos sendo esperados na semana que vem, entre 4 e 8 de novembro. Nota-se que ainda há volatilidade residual na curva após o período eleitoral: é importante prestar atenção nas decisões a serem tomadas ao longo do processo de transição presidencial, em particular acerca de declarações envolvendo as pautas de política fiscal e comercial americanas.
Conforme relatado na semana passada, a abertura dos prêmios na curva de juros por conta de risco fiscal aparenta ter vazado para a percepção de risco externa com aumento no risco-país ao longo da semana, em conjunto com um enfraquecimento do ritmo de compra financeira de dólares. Todavia, houve melhora na margem das reservas internacionais do BC, por conta de um fluxo forte de antecipação de exportações na terça-feira.
Ressalta-se, também, uma deterioração maior que a usual nas condições de liquidez do câmbio, merecendo atenção tendo em vista os comentários recentes do BC.
Glossário
- ICF: Índice de Condições Financeiras, estimado em alta frequência conforme metodologia do Banco Central. Ele serve como um barômetro para o nível de estresse enfrentado pelo mercado financeiro doméstico e internacional (quanto maior, pior o estresse), tendo consequências para a formação de preço do dólar.
- Índice COT: Índice de Comprometimento dos Traders, representa a diferença entre o tamanho da posição líquida de traders e de instituições comerciais no mercado de futuros. Um índice COT maior indica que traders estão, em média, mais otimistas com a tendência do dólar, sendo uma boa medida de curto e médio prazo.
- Carry trade: Estratégia onde investidores internacionais fazem empréstimos em moedas com juros baixos, para comprar títulos de moedas com juros altos. Tipicamente, no caso do Brasil, os investidores estrangeiros efetuam compras de NTN-F e LTN nos leilões do Tesouro, trazendo dólares para o mercado e apreciando a moeda brasileira.
- Bid-ask spread: Refere-se à diferença entre os preços cotados para os compradores e vendedores de algum ativo financeiro. Quanto mais próximo de zero, mais os compradores e vendedores se “encontram” na transação, sendo um indicador de liquidez do mercado.
- Forward/NDF: No mercado cambial, os forwards são o meio mais utilizado por estrangeiros e instituições para tomar posições de compra ou venda na moeda brasileira. Constituem promessas de entrega futura de dólares, a partir de reais, com prazos (“vértices”) que usualmente variam entre 1 semana até 1 ano datados da contratação.
- Hawkish/Dovish: Referem-se a percepções de mercado sobre a trajetória de juros a ser decidida pela autoridade monetária. Um sentimento hawkish indica juros maiores do que previamente esperado, e um sentimento dovish indica juros menores do que previamente esperado.
- Abertura/Fechamento de curva: A curva de juros “abre” quando há um aumento nos juros cobrados para todos (ou quase todos) os prazos de títulos em geral. Similarmente, a curva de juros “fecha” quando há uma redução nos juros cobrados para todos os prazos de títulos em geral.