Macroeconomia


Análise | Agronegócio | Outubro 24

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Gustavo Menezes

Publicado 01/nov2 min de leitura

Safras e Clima

A segunda metade de outubro foi marcada pelo início do período chuvoso, mas com intensidade muito forte e em momento pouco oportuno para o agronegócio, gerando danos para algumas colheitas, como o café, que já foram feitas e não devem se recuperar completamente na próxima safra; enquanto isso, a pluviometria torrencial levou a mais atrasos no plantio de soja, que já estava com o calendário apertado por conta das secas.

Ficamos atentos à choques negativos de oferta por conta do clima americano: dados recentes indicam o avanço da estiagem mais intensa desde o final de 2023 nas culturas de milho e soja, com esta última registrando volumes fracos nas prévias de exportação.

Produção, Preços e Logística

Houve reversão no quadro de melhora das commodities observado anteriormente, em particular para a soja, que se aproxima das mínimas registradas em agosto. Porém, vemos oportunidade para um rebote nos preços, em meio ao menor pessimismo dos traders, ao aperto na oferta brasileira e americana e a redução importante nos estoques de farelo de soja na China.

Condições climáticas prévias também apoiam preços mais altos no açúcar: houve aumento do prêmio portuário em meio à usinas

reduzindo produção em consequência das queimadas, combinado com maior demanda de cana moída pelos pecuaristas, em detrimento do capim e farelo que ficaram mais escassos durante o período de seca. Adicionalmente, essa substituição na forragem reduz a produtividade do gado, mas o efeito no preço do boi gordo é ambíguo, por conta do efeito de substituição da carne bovina praticado por consumidores em meio à queda dos preços de suínos.

No café, a dicotomia entre robusta e arabica, responsáveis por 1/3 e 2/3 da produção brasileira respectivamente, continua. As condições climáticas do Vietnã seguem desfavoráveis e geraram nova deterioração na oferta de café, conforme o prêmio portuário, mas o Brasil não se beneficia substancialmente dessa conjuntura visto que a variedade predominante segue sendo produzida em patamares confortáveis na Colômbia.

Margens do produtor

Os custos ao produtor apresentaram alta de 0,6% no mês de setembro, puxados pelos fertilizantes que subiram 1,4% em meio a um cenário de tensões no Oriente Médio, fonte de 20% das importações de adubos do Brasil. Com a continuação do cenário geopolítico na área, em conjunto com demanda aquecida da Índia por ureia, espera-se uma perspectiva desfavorável, porém na margem, para os custos ao produtor.

Crédito

Repercutindo o evento de recuperação judicial da Agrogalaxy abordado anteriormente, o apetite por crédito rural continua em tendência de deterioração. Notavelmente, em comparação com julho, houve queda na concessão de crédito e incremento na taxa de inadimplência, que foi sentido predominantemente por pessoas jurídicas (que detém grande parte do crédito rural direcionado), onde a variação de doze meses nas concessões deslizou de 42,5% para -5,7%, já corrigindo pelos efeitos na inflação.

Apesar da ausência de grandes eventos de crédito desde então, o setor continua marcado por números crescentes de recuperações judiciais em meio às altas taxas de juros nos financiamentos.


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