Abertura da Semana
Bolsas em Wall Street começaram a semana em queda, ainda digerindo os dados de emprego que vieram acima do esperado na sexta-feira. Para o mercado isso pode ser um sinal de que o Fedpode ser mais brando no corte de juros da próxima reunião.
Por aqui o Ibovespa foi na contramão do exterior, e abriu em alta com ajuda de Vale e Petrobras. Na Vale, a ajuda vem da alta do minério de ferro, que segue precificando os estímulos na China. Já na Petrobras, a guerra no Oriente Médio vai empurrando os preços do petróleo para cima, com temores que Israel ataque campos de petróleo no Irã e também que o furacão Milton afete a produção no Golfo do México.
Na semana, o mercado espera dados importantes como o CPI norte-americano, a ata do Fed e o início da temporada de balanços no exterior com grandes bancos começando os trabalhos. Por aqui, também ficaremos de olho na inflação com o IPCA de setembro, além de dados da atividade industrial, das vendas no varejo e a sabatina de Gabriel Galípolo no Senado.
O devir de Heráclito, a bolsa e a 25 de março
Estamos em tempos intensos e que tudo muda muito rápido. Heráclito de Éfeso, filósofo da época pré-socrática ficou conhecido com a analogia sobre o devir, onde afirma que é impossível banhar-se duas vezes no mesmo rio, dado que no segundo banho, nem as águas do rio, nem a própria pessoa, continuam sendo os mesmos.
A única coisa permanente é a mudança. Como a arte, o mercado imita a vida e como Heráclito já proferia, tomo a liberdade de dizer também que é impossível banhar-se nas águas do mercado com ele se mantendo o mesmo de quando você entrou.
Eventos globais e relevantes têm acontecido a todo instante e cada um deles tem sido capaz de mudar a narrativa nos mercados em minutos.
Uma hora é a inflação elevada nas maiores economias do mundo, e jogando todos os olhares para a política monetária nos principais bancos centrais globais. Outra hora são preocupações de hard landing nos EUA com o desemprego subindo, e aí os mercados de olho no carrytrade japonês, e lá diga-se de passagem, o banco central tem lidado com alta de preços, após décadas de deflação. Depois o tão esperado corte nos juros pelo Fed.
E eu que queria acordar quando setembro acabasse (pegue a referência aqui), estou aqui, querendo dormir de novo porque entramos em um ciclo de alta de juros no Brasil. E a narrativa do risco fiscal, que acompanha o investidor brasileiro desde que ele existe, segue suprimindo nosso potencial de ganhos por aqui.
Que mundo é esse? Que mundo é esse?- reverbero em alusão ao meme da garotinha revoltada para entrar no Xou da Xuxa, meme esse que na minha singela opinião, já está cansado e sem graça. Mas preciso utilizar os virais do momento pra ter atenção, certo? Aceitam dancinhas no TikTok?
Perdendo a graça também está a bolsa brasileira, atolada em commodities, bancos e utilities e que nem a forte alta da China está sendo capaz de puxar o nosso índice. Só em duas semanas o Xangai Composto subiu mais de 20% e nós aqui subindo apenas 0,4% no mesmo período. Os papéis da Vale até tentam ajudar, mas uma andorinha só, apesar desta ser pesada, não faz verão. E ainda temos Petrobras que também nesta mesma janela sobe 4%, com o petróleo subindo acompanhando as preocupações do mundo inteiro com a Guerra no Oriente Médio. Mas e o resto? Nada demais setores seguem ou de lado ou em queda no ano.
Na minha opinião, o Ibovespa segue barato, todo mundo tem essa percepção, ou melhor, convicção. E ele está assim desde 2021 a 1 desvio padrão abaixo da média histórica a cerca de 8x lucro esperado.
A bolsa brasileira comprovando Heráclito sob dois aspectos. No primeiro aspecto, a bolsa brasileira não é mais a mesma, sua média histórica era de cerca de 12x lucro esperado entre de 2014 a 2019. Naquela época, pré-pandemia, o mundo era outro. No segundo aspecto, na janela de 2021 até hoje sua média é de 8x lucro e quem mudou mesmo foi o mundo. Companhias de óleo e gás não são precificadas como antes, mineradoras e siderúrgicas estão diante de uma China desacelerada e de olho na performance do novo pacote de estímulos. E o Brasil de lá para cá também relaxou com o compromisso fiscal. O mercado e a Moody’s tem visões diferentes, já que recebemos aumento na nota da agência de risco, mas seguimos com a curva de juros abrindo por aqui.
Mas quem sabe o devir pode nos ajudar? Se tudo muda, por que o Brasil não pode mudar? Se for pra melhor, depende de muita coisa, mas comprar Brasil a 8x lucros é de certa forma ter uma margem de segurança para que, tudo dando certo, você não pagou caro pelo risco de se investir hoje em um ambiente de negócios difícil como o nosso.
É como ir na 25 de março e encontrar um “achadinho”, você sabe que não está indo comprar no Shopping Cidade Jardim para pagar muito caro por um produto de qualidade extremamente elevada com nome, marca etc e etc. Na 25, você conhece os riscos do produto e sabe que ele vai te oferecer uma alegria por um determinado prazo e está tudo embutido no preço. Como no Ibovespa, está tudo ali: preço, prazo e promoção.