Abertura da semana
Mercados começam a semana ainda processando o corte de juros do Fed e investidores no exterior seguiram com apetite ao risco e de olho em falas de dirigentes do Fednesta segunda-feira. A semana vai contar com dados importantes pelo mundo como PMIs, leitura do PIB americano e o dado de inflação preferido do Fed, o PCE.
Por outro lado, o Ibovespa segue caindo após a super quarta, que contou com aumento de juros por aqui. Ontem, tivemos pressão negativa de diversos lados, com aumento de expectativas de inflação e Selic no Relatório Focus. Além disso, preocupações quanto ao risco fiscal seguem pesando sobre o Ibovespa. O mercado reagiu mal o ajuste de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões em redução de gastos nos ministérios estimados pelo governo. Teremos nesta semana aqui no Brasil, a ata do Copom e dados de emprego e inflação. Haja coração!
Selic subiu e juro americano caiu! E agora o que fazer com as minhas ações?
Você já deve ter visto que na semana passada tivemos a super quarta e decisões importantes para o rumo das políticas monetárias nos Estados Unidos e também por aqui.
A Fed FundsRate (taxa de juros referência nos EUA) acabou caindo 50 pontos base e agora está a uma faixa de 4,75% a 5% e por aqui a Selic, ao contrário de quase todo mundo, subiu 25 pontos base, agora a 10,75%.
Entenda o movimento. Se você quer entender melhor esses movimentos dos juros, o que motivou e as perspectivas para o cenário macroeconômico seja lá nos EUA ou aqui, recomendo a leitura destes materiais feitos pelo time de análise macro aqui do Inter. Veja o comentário sobre o Fomc aqui e sobre o Copom aqui.
Resumindo: O Fedestá mais preocupado com o emprego, já considerando que a inflação está indo para a meta de 2% e que a atividade econômica caminha para um pouso suave. Expectativas por lá estarão voltadas para os dados de emprego. Já por aqui, o Copom foi mais duro, reforçando que está comprometido com a meta de inflação e colocando um viés de alta nos juros, considerando a atividade mais aquecida e expectativas de inflação desancoradas por um longo prazo.
O tão esperado corte de juros nos EUA veio, e em primeiro estágio, isso seria positivo para as ações por aqui, dado que o investidor estrangeiro começou a ter maior apetite a ativos de risco, incluindo emergentes, o que nos engloba. Os mercados por lá reagiram positivamente após a decisão e o S&P 500 sobe 1,5% desde quarta-feira, com a NASDAQ avançando cerca de 2%.
O Ibovespa e o juro americano. Recentemente ganhou notoriedade o aumento da correlação entre a Bolsa brasileira e a curva de juros norte-americana. Isso porque o investidor estrangeiro possui participação relevante nas movimentações da nossa bolsa por aqui. Contudo, essa correlação sempre foi mais forte com a nossa curva de juros. Mas dado que a taxa de juros americana ficou bastante atrativa o jogo mudou de lado. Isso têm acontecido desde novembro de 2023, quando tivemos um fluxo forte de entrada e a medida que víamos o sobe e desce da curva de juros americana a nossa bolsa ia acompanhando. Por isso, é de se esperar que esse corte de juros nos EUA possa aumentar o fluxo por aqui e o Ibovespa ter algum impulso. Mas...
Mas nossos juros aqui podem frear os ânimos. Isso porque estamos em um movimento contrário ao exterior, com os juros aumentando para controlar a pressão inflacionária e com um comunicado que também foi visto como mais duro pelo mercado. Fato que coloca o Brasil em um cenário de juros altos por mais tempo.
Cenário um pouco apertado para as ações. Dado que o cenário de juros aqui ainda é restritivo, os ativos de risco podem continuar pressionados e o cenário pode trazer alguma cautela para as ações por condições macro, dado que juros elevados novamente pressionam as companhias em alguns aspectos.
Havia uma desaceleração no crescimento das despesas com juros, mas voltaram a crescer. As despesas com juros estavam desacelerando desde o terceiro trimestre de 2022, quando a curva de juros começou a fechar um pouco mais e o movimento foi intensificado em 2023 à medida que íamos tendo perspectivas de maior controle inflacionário e redução dos juros. Mas esse ciclo virtuoso ficou para trás e a curva voltou a fechar desde o início do ano, com preocupações sobre o risco fiscal, que fez com que novamente as despesas com juros das companhias voltassem a acelerar.
Mas o ciclo pode ser curto.Dado que o ciclo pode ser curto e que ano que vem podemos ver algum sinal de redução de juros, se as condições fiscais contribuírem, claro, poderemos ter uma alta marginal no custo da dívida das companhias, mas nada do que vimos em 2022 com o juro a 13,75%. Portanto, apesar da bolsa estar com oportunidades o ciclo de alta por aqui ainda pode ser um entrave no mercado.
Ciclo de queda no exterior pode continuar trazendo fluxo estrangeiro?Apesar dos pesares no cenário doméstico, o investidor estrangeiro pode continuar buscando por ativos de risco à medida que os juros por lá continuem caindo, o que traz para nós um fluxo que pode, em partes, ignorar nosso mini ciclo de alta, fato que ocorreu recentemente, dado que a correlação entre a bolsa brasileira e a curva de juros norte americana aumentou.
Cenário entendido o que fazer com minhas ações? Mais do que nunca, o Ibovespa continua barato e por aqui achamos que o atual momento traz oportunidades. Contudo, dado o cenário com algumas incertezas, entendemos que o stock picking se faz mais que necessário e por aqui, gosto sempre de repetir o mantra em qualquer cenário: comprar boas empresas a bons preços é a melhor forma de prevenir riscos à sua carteira de ações.
Quem sobe e quem cai com o vai e vem da Selic?
Se você já leu esta newsletter, já deve saber que a minha escola é a fundamentalista, o bom e velho value investing e o que eu acho que faz sentido mesmo é a análise micro das empresas, ou seja, do negócio em si, das forças competitivas, dos resultados e etc.
Mas... toda vez que começa um ciclo na política monetária, os investidores sempre se perguntam, que setores vão bem ou que setores vão mal na Bolsa de valores em um ciclo de queda ou em um ciclo de alta?
Pois bem, se olharmos para trás temos alguma pista de quais setores se posicionar, o que não pode ser dito como regra, afinal de contas, em cada ciclo geralmente estamos vivendo razões distintas e o momento macroeconômico, político e global é outro.
O que a história nos diz? Primeiramente o Brasil sempre brigou contra a inflação elevada e somos um país que temos experiência nisso. Para além da inflação, também temos nossos vai e vem de crises e risco fiscal. Desde os anos 2000, tivemos um total de 8 ciclos de alta, 3 estáveis e 9 ciclos de baixa. Veja abaixo como se comportou a Selic e a Bolsa.
Até que não estamos tão mal. A média de juros no país de lá para cá é de cerca de 13% na fase terminal, enquanto a média de retorno da bolsa em todos esses anos foi de 14% em torno de 1 ano. Estamos acostumados com taxas elevadas. Ex-subprime e Covid essa taxa é até maior em média de 13,25% terminal com o Ibovespa retornando em média de 17% em torno de 1 ano.
Se observarmos a média dos últimos 20 anos, onde tivemos cerca de 9 ciclos de alta nos juros com uma média de 1 ano de duração cada, os setores que melhor desempenharam foram: Agro, Alimentos e Bebidas, Telecom, Indústria, Financeiro e Óleo e Gás. Já, setores que apresentaram pior desempenho em ciclos de alta foram: Varejo, Imobiliário, Saúde... Setores mais dependentes do ciclo e da atividade doméstica.
E nos últimos 10 anos? Nos últimos 10 anos a coisa ficou pior, vivemos em tempos mais voláteis e com efeitos pós-Covid impactando o mundo todo, seja em cadeia de suprimentos, elevada inflação e agora até economias desenvolvidas ainda brigam contra a inflação. Para essa nova realidade, os setores que tiveram melhor desempenho em ciclos de alta foram poucos: Indústria e Agro, alimentos e Bebidas.Já no piores desempenhos destacamos: Siderurgia e Mineração (aqui muito pelo efeito China recentemente), Varejo, Moda e Vestuário e Imobiliário.