Ibovespa: o que mudou?
Olá investidor, esse breve relatório tem o objetivo de atualizar nosso cenário esperado para a renda variável local. Quando digo isso, quero dizer a bolsa no Brasil, representada pelo índice Ibovespa.
Em nossa última revisão (veja aqui), feita em novembro do ano passado, o cenário até então era de expectativas quanto ao anúncio do pacote fiscal. Lembra dele? Pois é, a coisa degringolou de lá para cá. O pacote não veio robusto, o investidor local desanimou e a bolsa desandou. Para completar, as perspectivas de inflação não param de subir desde então e por sua vez, o juro futuro considera uma Selic terminal próximo a 15% no final do ano, condições que não ajudam a nossa bolsa.
Desde a data da nossa última revisão em 19 de novembro, o Ibovespa passou por poucas e boas, no auge do pessimismo atingiu uma queda de 7,5% registrada na virada do ano no dia 3 de janeiro.
Nossa projeção de fato não era muito animadora. Veja bem, nosso target esperado de 143.200 para o Ibovespa era conservador no múltiplo, onde atribuíamos 8x Preço/Lucro esperado como justo para o índice, que era a média do mercado nos últimos 3 anos. Porém o risco fiscal estava na mesa e com o investidor local e gringo até o final do ano deixando o Brasil de lado, passamos a cair para cerca de 7x preço/lucro esperado após o anúncio de um pacote que não resolve o problema fiscal.

Muito barato para ignorar
Com o índice negociando a 7x lucros, e o cenário externo trazendo um Trump um pouco mais moderado em tarifas, o investidor estrangeiro passou a olhar os demais mercados, principalmente emergentes.
Sendo assim, chegou a vez do Brasil. Que só em janeiro deste ano recebeu uma entrada líquida de cerca de R$ 7 bilhões do investidor estrangeiro, sendo relevante para a alta de 4,86% em janeiro e trouxe o índice de volta a casa dos 125 mil pontos, que diga-se de passagem, segue barato demais para ignorar.

2025 começou diferente
Enquanto quem olha para trás só vê o quanto os índices norte americanos desempenharam bem no ano passado. Quem olha para frente está vendo oportunidades em outras geografias. Isso porque não só o fato dos valuations do mercado norte americanos se mostram esticados, o fator Trump com as tarifas tem incomodado o mercado que já vai precificando os riscos da pressão inflacionária que as tarifas trazem consigo. A inflação norte americana voltou a acelerar e o CPI já atinge 3% no acumulado dos últimos 12 meses, o que também não deixa o investidor confortável. Agora o Fed vai precisar acompanhar dado a dado de inflação para voltar a pensar em cortar os juros novamente.
É aí que a coisa muda para o Brasil. Com o investidor estrangeiro preocupado com o valuation da bolsa americana, com a inflação e guerra comercial, ele passou a olhar para o que ficou para trás não só nos EUA, o que tem feito o Dow Jones performar melhor que o S&P 500 e a Nasdaq, mas também para fora dos EUA. E é aí que emergentes como o Brasil passaram a ficar novamente atrativos. Hoje somos uma das bolsas mais baratas do mundo e novamente ficamos baratos demais para ignorar.

O bode na sala e uma eleição que já faz preço
Apesar do gringo que tem “enchido a mão” de bolsa brasileira neste início do ano, as mesmas preocupações do final do ano passado seguem reverberando e deixando o clima agridoce para os ativos de risco no Brasil. A primeira delas é o rumo das contas públicas, na qual o mercado já está desacreditado em um ajuste que resolva os problemas ainda neste governo. Fato que tem feito não só o investidor institucional mas o individual seguirem o fluxo vendido na bolsa.
A segunda delas é um fator que o investidor local tem acompanhado de perto, o noticiário pré-eleitoral de 2026. Temos observado alguns eventos no cenário político recentemente trazendo fortes movimentos na bolsa por aqui. Seja nomes do lado A ou lado B estaremos diante de um mercado com elevada volatilidade em torno do tema.

Fazendo as contas
Por fim, 2025 começa com a balança um pouco mais pesada para o lado do risco, diante do cenário que tínhamos em nossa última revisão. O fato de considerarmos a bolsa brasileira bastante barata frente a pares internacionais, não retira o riscos da balança, o que faz o investidor ainda não pagar mais que 10, 9 ou mesmo 8x os lucros das companhias do nosso índice.
Por isso, reduzimos o nosso múltiplo estimado nesta revisão. Se antes considerávamos um valuation de 8x lucros esperados para 2025, que já era conservador, mas era a média dos últimos 3 anos, com a maior percepção de risco no mercado essa média mudou com dados recentes e se encontra a 7,5x lucros atualmente. No outro lado da conta, as estimativas de crescimento de lucro aumentaram, o que segue comprovando nosso cenário de que o lucro das empresas segue sendo a pedra fundamental de sustentação do índice com as companhias se mantendo resilientes ao cenário adverso. As estimativas de lucro por ação do Ibovespa para 2025 eram de 17.900 na nossa última revisão e avançaram para 18.700, um aumento de 4,5% em 3 meses e versus o que é esperado para o fim da temporada de 2024 o crescimento de lucro em 2025 está em torno de 8% a/a.
Desta forma, nosso valor justo para o Ibovespa se encontra hoje em 140.200, considerando um múltiplo de 7,5x lucros esperados para 2025 com o LPA do Ibovespa a R$ 18.700. O novo preço-alvo atual implica em um retorno esperado em torno de 14% para o índice com a média pressionada pela precificação atual e a maior peso aos riscos locais.
