Cinco passos para uma boa carteira de renda fixa
Tratamos bastante do cenário da renda fixa nas últimas News, falando sobre os diferentes títulos e com foco especial no IPCA.
Entretanto, hoje resolvi abordar o tema de uma maneira diferente. Tratar sobre os cinco passos para se montar uma boa carteira de renda fixa. Caso vocês gostem do conteúdo, podemos avançar em estratégias neste sentido, o canal fica aberto para feedbacks e sugestões de temas.
Dito isto, acredito que o balanceamento entre curto e longo prazo, risco e retorno, as diversas classes de indexadores e a autoavaliação do seu perfil de risco são a chave para o sucesso no longo prazo.
Por fim, o analista que vos escreve entra de férias na semana que vem. Excepcionalmente, não teremos a nossa News de renda fixa na próxima quarta. Não fique com saudades, é só uma semaninha, ninguém é de ferro, risos.
O primeiro passo: perfil de risco e objetivos
Definir o seu perfil de risco é o primeiro passo para uma boa carteira de renda fixa. Me perdoe o clichê, o autoconhecimento é de suma importância, visto que lhe ajudará a traçar melhor os seus objetivos.
Mas por quê? A maioria dos investidores, se não todos, querem o maior retorno possível de sua carteira, o que é normal, todo mundo quer ganhar dinheiro ao investir. Porém, muitos se esquecem do risco, que pode se apresentar de muitas formas, oscilação de mercado, atraso, não pagamento, recuperação judicial, entre outros.
Com isto em mente, abrimos este pequeno parêntese, é bom que a sua carteira tente mitigar dois principais riscos:
1)Risco de mercado. Falamos bastante na News passada sobre marcação a mercado, o quão importante é que domine este conceito, visto que o seu patrimônio, até na renda fixa, oscila com o mercado, o qual pode variar entre perdas e ganhos.
2)Risco de não pagamento. Sim, ao investir em crédito privado você incorre risco de não receber o dinheiro aplicado, em casos extremos quando uma empresa quebra. Observem bem aquelas empresas que pagam taxas elevadas, você incorre de risco.
Assim, o ponto em que levantamos aqui é: o quanto estaria disposto a correr algum risco? Eu sei, você quer ganhar dinheiro, mas ao fazer uma aplicação o quanto de risco você está disposto a absorver sem tirar seu sono à noite?
Há várias formas de determinar o perfil de risco: autoconhecimento, algum teste que lhe ajude ou um consultor financeiro, mas tenha em mente que, quanto maior o retorno exigido, maior o risco.
O segundo passo: a reserva de emergência e caixa.
A nossa Head de estratégia de investimentos, Gabriela Joubert, fez um conteúdo bem completo quanto a reserva de emergência, vale a pena a leitura. Estabelecer a sua reserva para momentos especiais como imprevistos e entre outros é primordial, e um passo importante na construção de uma boa carteira. Não ignore este processo, surpresas acontecem.
Em minha opinião, Tesouro Selic e algum título bancário com liquidez diária e de baixíssimo risco é uma ótima alternativa para a sua reserva. Aqui o conservadorismo prevalece.
Já para o caixa, existe uma linha bem tênue que o separa da reserva e do curto prazo. A estratégia aqui é que você consiga pegar ativos que tem uma liquidez alta e consiga fazer movimentos. O que quero dizer é que deve usar o caixa de forma estratégica, a fim de usá-lo para aproveitar as oportunidades de mercado.
Manter caixa e reserva de emergência entre 25% de sua carteira de renda fixa pode ser uma boa opção. Isso varia bastante de perfil de investidor, e digo mais, de realidade para realidade. De qualquer forma, aqui você se atrelará majoritariamente à Selic e seus derivados, principalmente pelo alto patamar que se encontra hoje.
Terceiro passo, o médio prazo
Neste próximo passo, é necessário que o investidor já alongue um pouco o prazo dos seus investimentos, em busca de retornos mais atrativos. Os CRIs, CRAs, LCIs e LCAs caíram na graça da pessoa física, por diversas razões, como por exemplo sua isenção quanto à cobrança de imposto de renda (leia mais sobre os isentos aqui).
Apesar de servirem também para a alocação de curto prazo, aqui a sugestão cabe uma vez que a isenção pode ser um grande impulsionador da rentabilidade de sua carteira a médio e longo prazo. Com uma boa diversificação de nomes, ponderando sempre risco e retorno, entenda que a sua estratégia aqui é superar a Selic.
Avançando, outras categorias também devem ser consideradas. Atualmente, os títulos públicos com taxa pré apresentam um uma boa rentabilidade para uma janela de até 24 meses, em minha opinião. Lembrando que aqui existe marcação a mercado e bastante volatilidade, portanto, o que lhe sugerimos, de modo geral, que sua carteira toda tenha no máximo 5% de exposição a essa classe.
De modo geral, uma concentração entre 35% da sua carteira fica no médio prazo.
É claro que no médio prazo também se deve considerar IPCA+, que é um ótimo indexador, existindo várias alternativas muito interessantes, diversifique bem a sua carteira. Mas a inflação é uma categoria que vai predominar mais no próximo passo...
Quarto passo, longo prazo
Visando o longo prazo, como dito, IPCA+ é o indexador que deve predominar neste segmento de sua carteira, os cerca de 40% restantes. Como as taxas de inflação no Brasil são elevadas e os juros reais também, é uma ótima forma de proteger seu patrimônio e ter uma boa performance em termos de rentabilidade real.
Se você já acompanha as nossas News, viu os diversos estudos que fizemos com relação ao IPCA e como temos boa oportunidade agora com as elevadas taxas disponíveis no mercado. No gráfico a seguir fica claramente evidenciado a excelente janela de oportunidade que não se apresenta a todo momento, então garanta parte do seu futuro.
As debêntures também são uma ótima opção para o longo prazo. Existem muitas incentivadas, principalmente ligadas à infraestrutura e energia elétrica que tem um risco relativamente baixo e com taxas bem atrativas. Então, observe essa categoria para compor o longo prazo de sua carteira.
Quinto passo, rebalanceamento
Sugiro que ao menos duas vez por ano observe o balanceamento de sua carteira. É importante que nenhuma das partes fique “grande ou pequena” demais. Vender faz parte do jogo, comprar também, então se acostume. Todos os meses nós divulgamos o Market Strategy, que compila o cenário interno e externo, ajudando também em calls táticos, se tornando uma ótima forma de se manter informado.
Dica cultural
A dica cultural de hoje vai para A Loja de Tudo, de Brad Stone. É uma obra muito interessante que conta a histórica de Jeff Bezos e o surgimento da Amazon. O livro transcorre pelos bastidores da empresa, mostrando a obsessão de Bezos por inovação e tecnologia. Vale muito a pena a leitura!