Dólar fecha semana em R$5,69, marcado por dicotomia no fiscal e externo desfavorável
O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,69, alta de 1,46% ao longo da semana. Em outubro, o dólar tem alta de 4,66%, apreciando 15,77% no acumulado do ano.
Em resposta ao movimento brusco no câmbio da semana antepassada, a última semana começou com afirmações de Galípolo, próximo presidente do BC, de que a autoridade monetária pode intervir no câmbio em caso de falta de liquidez, gerando pressão de queda no dólar já no início do pregão de segunda em meio à percepção de possível intervenção vindoura do BC no mercado cambial.
Porém, visto que o movimento do bid-ask no forward cambial continua benigno, é mais crível afirmar que a desvalorização tem sido decorrente da deterioração nas percepções de risco fiscal, que continuaram a dominar a pauta ao longo da semana: apesar de Haddad ter assegurado que a isenção de IR anunciada será fiscalmente neutra, com reforço adicional da promessa de contenção de gastos na quarta-feira ao afirmar que as estatais também entrarão neste cômputo de revisão, toda a apreciação cambial decorrente foi devolvida com o pronunciamento do presidente Lula na sexta, onde foi feita uma promessa para a criação de uma linha de crédito especial para os afetados pelo apagão de SP, gerando uma dissonância na comunicação de responsabilidade fiscal. Em paralelo, notamos na nossa Revisão de Cenário mais recente que outras áreas do governo seguem com propostas que aumentam gastos e criam subsídios parafiscais.
Apesar dos fatores domésticos, o câmbio também sofreu com a dinâmica externa: o pronunciamento de Trump em favor de tarifas e a divulgação de dados amenos da economia chinesa geraram um movimento de depreciação relevante das principais moedas emergentes na terça, além de pressão adicional com os dados de seguro-desemprego americano na quinta, que vieram abaixo do esperado e apontaram para uma resiliência maior da economia americana, a despeito dos impactos do furacão Milton na Flórida, mitigando apostas de corte de juros do Fed.
Expectativas de mercado
Com a aproximação da eleição americana, já percebemos alguma materialização da volatilidade precificada no mercado, com declarações dos presidenciáveis e notícias de pesquisas impactando o movimento global do dólar e consequentemente o câmbio local.
Não houve alteração significativa na percepção estrangeira do risco doméstico, mas percebemos uma abertura nos prêmios de médio e longo prazo da curva prefixada que indicam maior desconforto fiscal conforme os eventos da semana, podendo vazar para o mercado externo de títulos e reduzir o apetite dos estrangeiros pelo carry trade, contribuindo para o resultado fraco na variação das reservas do BC, que apresentou mais outra redução na última semana.
Além disso, os índices de condições financeiras (ICF) e o índice de comprometimento dos traders (COT), que nos mostra a posição líquida de comprados e vendidos no dólar, indicam um mercado mais cauteloso. O ICF aponta, atualmente, condições mais estressadas do que o normal, apesar de apresentar melhora frente à semana passada, enquanto o índice COT indica um cenário pessimista acerca do dólar no médio prazo, com redução nas posições long após o rali recente.