Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário | Out.24

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Rafaela Vitória

Publicado 18/out4 min de leitura
Principais Indicadores Projetados

Qual a magnitude do ciclo de alta?

Revisamos nossa expectativa para a Selic de 11,25% para 11,75% ao final de 2024. Para a próxima reunião do Copom, esperamos uma alta de 50 p.b. considerando a comunicação anterior, que indicou o início gradual de alta, o que antecipou a aceleração no ritmo de alta para novembro e dezembro.

Nosso cenário base considera a Selic em 11,75% ao final do ciclo, mas as incertezas são maiores e podemos ter um ciclo mais longo, que contempla o risco de dominância fiscal. O cenário de maior incerteza vem pressionando o câmbio, o que por sua vez pode trazer novas pressões inflacionárias adicionando à alta recente advinda dos efeitos climáticos em energia e alimentos.

Por outro lado, a contenção de gastos anunciada pelo governo pode ter o efeito inverso, desaquecendo a demanda e reduzindo a percepção de risco, permitindo a continuidade do processo de desinflação, e o recente choque de energia e alimentos seria dissipado. Nesse caso, o ciclo pode ser mais curto e os cortes na Selic retomados ao longo de 2025.

Inflação no curto prazo tem impacto de alta de energia e alimentos

Elevamos nossa projeção para o IPCA de 4,4% para 4,5% em 2024 mas mantemos em 3,8% em 2025. A inflação em setembro acelerou com a alta de energia e alimentos, ambos efeitos do recente choque climático. Por outro lado, a inflação de serviços e medidas de núcleos desaceleraram e os demais sinais de desaquecimento da atividade, juntamente com a maior restrição monetária, podem conter uma contaminação maior do novo choque.

A maior aversão a risco, no entanto, continua pressionando o dólar, que teve nova valorização e chegou a R$5,65, acima da nossa expectativa de R$5,40 o que pode trazer pressão inflacionária adicional. O risco de crescimento dos gastos públicos acimo do esperado em 2025, com o não cumprimento do arcabouço, também pode ser fonte adicional de pressão pelo lado da demanda, no atual cenário de baixa capacidade ociosa.

Sinais de desaceleração da atividade

Após PIB mais forte no 2o trimestre, os dados de atividade mostram um desaceleração no 2o trimestre. Após o recuo dos dados de serviços e varejo, estimamos crescimento mais próximo de 0,5% no 3o trimestre. Ainda assim, o crescimento do PIB no ano deve ficar próximo de 2,9%.

Com a desaceleração global em curso em 2025 e a política monetária mais restritiva aqui no Brasil, juntamente com a ausência de novo estimulo fiscal da mesma magnitude observada em 2023 e 2024, esperamos um crescimento mais modesto de 1,8% do PIB no próximo ano.

Risco fiscal e cenários para 2025

A aceleração na dívida pública e o desafio de cumprir o arcabouço fiscal permanecem como principal risco no cenário. Apesar do anúncio do governo de revisões de gastos para 2025, a estimativa entre R$30 e R$50 bilhões foi recebida com bastante ceticismo pelo mercado. Em paralelo, outras áreas do governo seguem com propostas que aumentam gastos e criam subsídios parafiscais.

Para cumprir a meta em 2024, o gasto fiscal nos últimos três meses de 2024 deve ter uma queda aproximada de 6% em relação à média dos últimos 12 meses, o que já pode trazer uma sinalização melhor, além de reduzir o impulso fiscal. Ainda assim, o ano deve encerrar com despesas R$400 bilhões superiores a 2022, um crescimento de 17,9% para 19,1% do PIB.

Para 2025, a previsão é de um crescimento dentro do limite do arcabouço, 2,5% acima da inflação, mas com a provável reprovação das medidas de aumento de arrecadação, o déficit estimado pode chegar a R$110 bilhões, ou 0,9% do PIB. Com o alto custo da dívida e despesas de juros acima de 7% do PIB, a aceleração da dívida/PIB deve continuar e ultrapassar 81% no próximo ano.

Uma contenção mais significativa do crescimento dos gastos e a volta do debate da desvinculação de despesas às receitas ainda são pontos fundamentais para o equilíbrio das contas públicas e redução dos juros no Brasil.

Economia americana continua robusta, mas não deve impedir Fed de continuar ciclo de cortes

Os dados de setembro apontam uma economia americana ainda robusta, afastando os temores de uma desaceleração mais intensa do mercado de trabalho, que adicionou 254 mil novos empregos em setembro, com a taxa de desemprego recuando para 4,1%. Por outro lado, a inflação dá sinais de persistência, apesar de manter trajetória de queda no acumulado em 12 meses, mas com a inflação de núcleo ainda elevada, em 3,3%. Enquanto isso, o PIB continua crescendo em patamar robusto, com a estimativa em tempo real sugerindo um crescimento anualizado de 3,4% no 3o trimestre.

Ainda assim, mantemos expectativa de que o Fed corte 25 pontos base em cada uma das duas reuniões restantes desse ano. Apesar dos dados mais fortes em setembro, ainda há espaço para ajuste da política monetária, entretanto, a robustez da economia americana deve introduzir maior incerteza acerca da taxa terminal de ciclo, com o Fed, talvez, não sendo capaz de entregar todos os cortes que estão precificados. Antes da próxima reunião do FOMC teremos mais uma divulgação de payroll que ajudará a elucidar os próximos passos da política monetária americana.


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