Macroeconomia


Análise | Agronegócio | Novembro 24

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Gustavo Menezes

Publicado 02/dez2 min de leitura

Novembro encerra com aperto nos preços de café e incerteza na recuperação da soja

A intensidade da chuva de outubro perdurou na primeira metade de novembro e contribuiu, também, para mitigar o quadro de secas que havíamos observado no último relatório. Porém, o período de chuvas perdeu cadência na segunda quinzena num quadro ainda marcado por déficit hídrico em boa parte do território central brasileiro. Vimos também uma melhora nas condições climáticas da soja dos EUA depois do estresse observado no mês passado, ainda que as prévias de exportação continuem substancialmente abaixo da safra anterior.

Apesar dos choques climáticos, notamos um avanço significativo no plantio da safra de soja, porém ainda existe incerteza acerca dos impactos da seca na produtividade das culturas, e a menor velocidade de colheita, comparado com o plantio, implica em impactos negativos para a produção de milho na safra de 2024/25.

Produção, Preços e Logística

A deterioração climática no café notada no último relatório impulsionou os preços da commodity, que atingiu preços antes vistos somente em 1997 e 2011, períodos também marcados por estresse de oferta. Apesar disso, esperamos que os repasses de preço aos consumidores seja limitado, visto que parte do aumento de preços advém de agricultores brasileiros atrasando a entrega da commodity aos mercados globais visando fins especulativos, com menos prejuízo para a absorção no mercado doméstico. Ainda, notamos que as condições de oferta do Vietnã e Colômbia melhoraram na margem frente ao mês anterior, aliviando preocupações de uma restrição de oferta generalizada.

Em tempo, percebemos que a conjuntura da soja favorece um quadro de apoio para os preços da commodity, que já pode ter encontrado um piso na faixa dos $10 por bushel. Apesar da atividade ainda amena da economia chinesa, a atividade pecuária aparenta melhora com mais outra redução nos estoques de farelo de soja, e a eleição de Trump gera maior senso de urgência nos estímulos do governo que, com alguma defasagem, devem beneficiar o setor. Em conjunto, notamos que o pessimismo dos traders ainda está alto, indicando espaço de melhora com eventual reversão a média, e a incerteza acerca dos resultados da colheita de soja brasileira gera um risco de cauda que pode materializar como alta nos preços nos próximos meses.

Margens do produtor

As margens do produtor melhoraram desde o último relatório, com alta de 5,5% nos preços de venda motivados pela pecuária e baixa de 5,3% nos custos motivados pelos fertilizantes e maquinário. A situação de oferta de fertilizantes importados apresentou melhora frente ao não-progresso das tensões no Oriente Médio, ainda que restrições locais de oferta tenham sido notadas recentemente, junto com um pressão maior de compra por parte dos agricultores.

Crédito

Por conta da defasagem na atualização de limites de crédito por parte do BC em meio a uma demanda forte (apesar de desacelerada) por financiamentos, tem-se visto uma dependência crescente por crédito a taxas de mercado pelo produtor rural. Por consequência, a participação das concessões dessa linha aumentou substancialmente nos últimos anos, chegando a superar as concessões por taxas reguladas. Nessa conjectura, realçamos cautela: ao mesmo tempo em que a maior liberação de financiamentos a taxas de mercado alivia o gargalo gerado pelas concessões reguladas mais restritivas, isso tem tornado as firmas do setor mais vulneráveis à política monetária, que está em ciclo de aumento de juros. Assim, temos visto alta nas taxas de inadimplência por parte do produtor rural, com encargos financeiros mais onerosos sendo potencialmente prejudiciais para a atividade do setor nos próximos trimestres.


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