Market Strategy
Setembro foi uma repetição do que vimos em agosto, praticamente. A aversão ao risco seguiu no radar dos investidores e ganhou força depois que os Bancos Centrais globais confirmaram a mensagem de que veem a inflação acima da meta ao longo de 2024, o que implica em juros mais altos por mais tempo. Os juros das Treasuries de 10 anos bateram as máximas de 17 anos e os juros das T-Notes de 2 anos, que mostra expectativas do mercado quanto à inflação e a política monetária, seguiram acima de 5%. Esta percepção levou a correções nos portfólios globais com queda generalizada nos índices de ações.
Entretanto, aqui no Brasil, o Ibovespa divergiu dos pares e subiu 0,64% no mês, puxado por um melhor otimismo com China, onde aparentemente os recentes estímulos anunciados pelo governo começam a surtir efeito. Vendas ao Varejo, lucros industriais e PMIs mostraram números melhores que o esperado, o que ajudou a impulsionar as commodities e consequentemente os papéis das exportadoras brasileiras, beneficiando a bolsa local. Na agenda local, a queda da arrecadação e a dificuldade de aprovação de medidas de aumento de impostos ainda mantém elevado o risco fiscal e os juros de mercado tiveram nova alta no mês, mesmo após dados melhores de inflação. Em suma, a Selic segue em queda no curto prazo, mas os juros longos mostram ainda o desafio à frente.
Para outubro, após o Congresso norte-americano evitar, mais uma vez, um shutdown na economia, a atenção se volta para a política monetária e as expectativas quanto aos juros, que continuam nas máximas. As incertezas permeiam os mercados, espelhadas em indicadores que, por muitas vezes, mostram leituras com sinais divergentes. Se por um lado a economia norte-americana continua resiliente, dissipando as apostas de uma recessão, por outro a inflação teima e os preços das commodities em alta trazem mais um fator de atenção ao radar, especialmente agora com provável estabilização da economia chinesa, o que pode elevar a demanda por insumos básicos. A verdade é que as leituras seguem díspares e em momentos como estes, a cautela deve prevalecer. Seguimos no nosso credo da diversificação. Ao mesmo tempo em que continuamos vendo mais oportunidade na Renda Fixa, em especial via proteção contra inflação, seguido pelo pós-fixado, mantemos uma parte da exposição em renda variável, este mês mais otimistas com bolsa local do que internacional, a qual deve ser puxada por uma agenda política mais favorável aos ativos domésticos, bem como os papéis das exportadoras por conta de China. O maior ponto de atenção segue com Estados Unidos, o rumo da política monetária e da economia, e se haverá um soft ou hard landing. No momento, o que temos é um “no landing at all”.
Bons investimentos!
Cenário Internacional
As incertezas continuam
Estados Unidos
A economia americana continua com a atividade em patamar robusto, mas com o mercado de trabalho e a inflação desacelerando. Enquanto isso, o Fednão dá sinais de reversão de curso e, apesar de não ter elevado a taxa de juros, ele se mostra comprometido em manter os juros elevados por mais tempo, garantindo a convergência da inflação à meta de 2%.
Entretanto, as incertezas permanecem, principalmente acerca da política fiscal americana, que em parte tem sido o motor por trás dessa atividade robusta. Em setembro observamos novo rallynos juros longos americanos em resposta ao aumento da oferta de títulos, mas também com um receio de que a economia americana possa estar iniciando um período de dominância fiscal. Ao mesmo tempo, o preço do petróleo apresentou uma forte alta, criando receios de novas pressões inflacionárias. Para complicar ainda mais, voltou ao radar o risco de um shutdown do governo norte-americano, por ora sanado, mas que pode trazer ainda mais volatilidade aos mercados, especialmente nos bonds americanos.
Resto do mundo
Na China, o mercado imobiliário continua claudicante, o que foi intensificado pelas novas notícias negativas sobre a Evergrande, que culminou na prisão do seu presidente. A Europa continua sua tendência de desaceleração, que tende a piorar uma vez que o banco central europeu surpreendeu os mercados com nova alta na taxa de juros em meio às pressões inflacionárias de energia e piora nas suas projeções. Finalmente, o Japão continua com inflação pressionada enquanto o banco central mantém os estímulos monetários, o que mantém as pressões no Iene.
Cenário Macro - Brasil
Expectativa de queda mais lenta da Selic
O mês de setembro trouxe boas notícias sobre o comportamento de queda da inflação no curto prazo, mas revisamos nossa expectativa para uma redução mais moderada da Selic até o final de 2024 devido ao aumento do risco no cenário externo. Esperamos a Selic em 11,75% em dezembro e 9% ao final de 2024.
As curvas de juros também refletem essa maior preocupação com os riscos, tanto o fiscal interno como os juros maiores lá fora, e tivemos um mês de forte elevação das taxas longas, pré e real. Internamente a discussão fiscal continua em torno da dificuldade em cumprir a meta de zerar o déficit no próximo ano e a possibilidade de novas flexibilizações de gastos, incluindo a antecipação do pagamento de precatórios, que havia sido adiado para 2026. Essa nova expansão fiscal juntamente com a alta dos juros pode significar um aumento maior da dívida em 2024 e dificultar o ajuste até 2026.
Por outro lado, a arrecadação segue desapontando, apesar do maior crescimento da economia. Depois da surpresa do PIB no segundo trimestre, as revisões de crescimento para o ano chegam próximas de 3% (a nossa está em 2,8%) mas com baixo impacto para as receitas do governo, devido principalmente ao arrefecimento das commodities. A queda da arrecadação acumulada no ano já chega a 5% em termos reais. No entanto, a atividade mais resiliente tem tido impacto positivo no mercado de trabalho, que segue com nova queda na taxa de desemprego, que em agosto chegou a 7,8%, e um recorde na massa salarial.
A inflação mais baixa foi a boa notícia do último mês, principalmente a queda da inflação de serviços. Projetamos IPCA de 4,8% para o final de 2023 e 3,7% para 2024, mas com risco de alta em 2024 tanto pelo recente repique dos preços das commodities energéticas lá fora, como pelo risco de maiores gastos públicos e desancoragem das expectativas por aqui. O cenário de desaceleração mais branda da economia pelo lado do consumo e risco de repique da inflação são os principais motivos para a cautela do BC na redução dos juros.
Movimento dos Ativos Globais
Petróleo é o grande campeão do mês, seguido pelo dólar
Setembro deu continuidade ao sentimento de maior aversão ao risco iniciado em agosto, após a mensagem conjunta dos bancos centrais globais de que a inflação ainda preocupa e que os juros deverão seguir em patamar elevado por mais tempo. No geral, vimos os juros das Treasuries avançarem novamente, puxando o dólar em detrimento das demais moedas e dos índices acionários.
Na Ásia, sinais de possível estabilização da economia chinesa reacenderam a esperança de que o pior já pode ter ficado para trás. Apesar disso, o call ainda é de cautela, mas já se nota um menor pessimismo para o restante da economia, excluindo o setor imobiliário, onde a crise persiste e parece não ter fácil solução. Por outro lado, produtos importados pela China voltam a inundar os mercados internacionais e retornam as preocupações com medidas anti-protecionistas.
Na Europa, uma bateria de dados divergentes mostra a falta de coesão nas economias locais. Alemanha já está em recessão e a inflação pelo continente persiste com a alta dos preços de energia. Mesmo assim, isto não foi suficiente para inibir o BCE de anunciar mais uma alta nos juros, de 0,25 p.p., e manter seu discurso mais hawkish, sinalizando que os juros devem continuar elevados ao longo de todo 2024.
As dinâmicas de oferta e demanda global impulsionaram as commodities e, no mês, o petróleo Brent avançou mais de 10%, em meio à recuperação de demanda na China e restrições de produção pela OPEP+.
No Brasil, o cenário político pesou com fiscal novamente no radar dos investidores, mas as notícias de China ajudaram a limitar as perdas da bolsa local, que fechou o mês em patamar positivo. Os juros por aqui voltaram a subir e já esperamos desaceleração no ritmo de cortes da Selic e inflação desacelerando, mas ainda em nível elevado.
Desempenho no mês
Rentabilidade das principais classes de ativos
Estratégia de Alocação
Desempenho das Bolsas Globais
Bolsas globais caem, exceto pelas mais expostas às commodities
Estados Unidos
Com a continuidade da alta dos juros das Treasuries, os índices norte-americanos mantiveram a tendência de queda de agosto e recuaram novamente em setembro. Pesou também o forte recuo dos papéis de tecnologia, que vinham com desempenho positivo ao longo do ano e que, neste mês, foram pressionados tanto pelos juros, quanto pelo cenário mais incerto apresentado por alguns fabricantes de chips quanto à demanda na ponta.
Resto do Mundo
No mês, dentre as principais bolsas globais, apenas a bolsa inglesa (FTSE/UKX) tiveram desempenho positivo, ambas puxadas pelos papéis de commodities, em razão da melhora de sentimento com China. No entanto, os demais índices europeus refletiram a maior preocupação com os juros e inflação elevados e o cenário de recessão que já se desenha no velho continente. Na Ásia, apesar de levemente otimistas com China, os investidores estrangeiros continuam reticentes e longe da bolsa local, que teve apenas o capital interno movimentando as altas, majoritariamente.
Desempenho Ibovespa
Juros pressionam ativos domésticos, mas exportadoras limitam perdas
A alta consolidada dos juros reais e nominais pesaram nos setores mais sensíveis aos juros, como Varejo e Construção Civil, que acabaram fechando o mês em queda de 8,52% e 7,34%, respectivamente. Também vimos recuo nos papéis do setor de Educação e nas siderúrgicas, fortemente influenciadas pelos riscos de maior competitividade de produtos chineses importados.
Por outro lado, as commodities foram beneficiadas por perspectivas de estabilidade na segunda maior economia do mundo, efeito dos recentes estímulos anunciados pelo governo chinês. As mineradoras avançaram, mas o destaque positivo foi sem dúvidas o setor de Óleo&Gásque avançou 7% no mês, puxado pela alta do petróleo nos mercados internacionais. O setor de Papel e Celulose também teve importante avanço, com a alta do dólar e melhores perspectivas no mercado consumidor de papel, principalmente China.
Fundos Imobiliários
Fundos de papel apresentam leve recuperação no mês
O IFIX teve alta de 0,2% em setembro, impulsionado pelo melhor desempenho da classe de papel. O segmento de papel apresentou uma alta de 0,7% no mês, junto com a queda de 0,68% nos ativos de tijolo. Com isso, o segmento já acumula alta de 14%. Já os fundos de papel registram alta de 6,1%, ainda sofrendo forte impacto da série de defaults realizados nos últimos meses. Nossa carteira apresentou um desempenho positivo de 0,54%, superando o benchmark em 0,34 p.p, puxado pela bom desempenho dos ativos VILG11, PVBI11 e KNIP11.
Com as expectativas de inflação em níveis mais elevados, a exposição ao segmento de papel continua taticamente importante, uma vez que os fundos de recebíveis seguem com eficiente indexação à inflação e juros no longo prazo. Em função de um cenário de crédito mais deteriorado e eventuais riscos de cauda, continuamos com nossa sobre-exposição ao perfil de crédito high-gradee/ou com elevado colateral, bem como maior equilíbrio da carteira em termos de indexadores.
Em meio à volatilidade registrada no segmento de tijolo, os fundos ligados a essa categoria são negociados a múltiplos atrativos, o que eleva as oportunidades de ganhos de capital no longo prazo. No curto prazo, adotamos um tom mais otimista para o setor, com a continuidade na queda dos juros e priorizando veículos com bons fundamentos e segmentos com maior solidez operacional.
No segmento de FoFs, mantemos nossa exposição à potencial recuperação da classe de tijolo, a ser desencadeado diante de uma eventual melhora do cenário top-down, podendo apresentar o ganho do duplo desconto apresentado na classe.
Carteiras Recomendadas
Confira cada uma das nossas carteiras recomendadas para o mês de Outubro!