Investimentos no Exterior


Bigh Techs - Temporada 4T23

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Gabriela Joubert

Publicado 05/fev

As Seven Magnificent seguem brilhando, contrariando os mais céticos

Desde o ano passado, as empresas de tecnologia, mais especificamente as Sete Magníficas, incluindo Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Google, Nvidia e Tesla (e fora das sete, mas também monitorada, Netflix) têm desempenhado bem acima do restante do mercado, levando consigo o S&P 500, mas distorcendo o real valor de mercado dos índices que as têm na composição. O índice NYFANG, que inclui as 7 Magníficas, desde fevereiro de 2023 já avançou mais de 54%, contra 23% do S&P500 que, quando considerado pesos iguais, acumulou alta de apenas 12% no período. Em 2023, este grupo de empresas foi responsável por 62% do retorno total do S&P 500, com papeis avançando de 50% a 240% entre elas. O forte desempenho destes papéis tem levado tanto S&P 500 quanto Nasdaq às máximas históricas, mas com uma concentração muito acima do observado em outros períodos. A discrepância entre a evolução dos papeis destas empresas e o restante do mercado eleva os questionamentos sobre uma possível nova bolha como a vista à época do auge das dotcom.

Se no ano passado o mercado apostou no setor, comprando a tese da nova trend da Inteligência Artificial, contudo, o que vemos agora são os investidores um pouco mais cautelosos em suas alocações, demandando muito mais resultado das empresas vis-à- vis os investimentos e promessas feitas para alavancar os negócios por meio da AI. Mas essa preocupação não tem limitado o apetite que vemos para elas, que continuam valorizando acima das demais companhias no índice. A temporada de balanços trouxe números acima das expectativas para a maioria destas empresas, salvo algumas exceções, e os investidores têm se colocado mais exigentes sobre os desembolsos e investimentos anunciados pelas companhias para seguirem avançando na agenda da AI e o que isso realmente trará de retorno.

Dentre as empresas que compõem nossa carteira recomendada, Amazon e Microsoft ficam como as representantes das Big Techs, considerando sua capilaridade e presença global, bem como o mercado consolidado que atuam e a expertise que ambas detêm em seus segmentos de negócios, além da menor volatilidade, quando comparado aos seus pares. Já na alocação global estratégica, via nossa carteira ETFs (veja aqui o link), estamos nos protegendo para uma eventual correção destas altas extremas dos últimos meses via índices que replicam o S&P 500 em pesos iguais, o que minimizaria os efeitos de uma possível realização das 7 Magníficas.

A seguir, um resumo dos resultados das empresas do setor.

Amazon (AMZN/AMZO34): A Amazon reportou números robustos no trimestre, impulsionados pelo avanço das vendas online, bem como de seu negócio de nuvem. A novidade é que ambos os desempenhos foram impulsionados pela aplicação de ferramentas de Inteligência Artificial em seus próprios negócios. A segmentação de nuvem apresentou crescimento estável, apesar das incertezas econômicas, e a companhia reforça que tem investido em novas aplicabilidades de AI nos negócios, visando implementar a tecnologia em praticamente todas as suas linhas de consumidores. A empresa recentemente anunciou investimentos de US$ 4 bi em seu novo chatbot, o Anthropic, além de contínuos desembolsos em sua área de AI generativa. A AWS, braço de Cloud da empresa, reportou uma receita de US$ 24,2 bi no trimestre, em linha com o esperado, mas a margem da operação ainda segue bem abaixo da líder de mercado, a Microsoft. Ressaltamos que, apesar da elevação do Capex previsto para o ano, a empresa tem focado em compensar os maiores dispêndios via redução de despesas com pessoal, tendo demitido mais de 27 mil colaboradores desde o pico na pandemia.

No negócio de e-commerce, a companhia surpreendeu positivamente, mais uma vez, com as vendas durante o período festivo, incluindo Natal, Black Friday e Cyber Week, mesmo com os dados macro mostrando arrefecimento no consumo. Não obstante, o braço de Streaming da empresa, Prime Video, lançou recentemente a versão com anúncios, o que deve elevar as receitas extras para este ano. No 4T23, a receita com anúncios e propagandas somou US$ 14,65 bi, 27% maior a/a, em linha com as expectativas.

No trimestre, as receitas totalizaram US$ 170 bi, 2,25% acima do consenso e crescimento de 13,9% comparado ao mesmo trimestre do ano passado. O lucro líquido fechou em US$ 10,7 bi, o que resultou em um LPA de US$ 1,00, 27% maior que o esperado.

Apple – (AAPL/AAPL34). Mais uma vez, apesar da companhia ter batido o consenso do mercado tanto no top quanto no bottom line, a Apple acabou decepcionando ao reconhecer que deverá vender menos iPhones na China do que o previsto, uma vez que os chineses passaram a buscar opções mais baratas e “made in China”, como a concorrente Huawei. As vendas no mercado chinês totalizaram US$ 20 bi no trimestre, menos que os US$ 23 bi esperados pelo consenso, e as perspectivas para o próximo trimestre são de queda destes números, conforme sinalização da própria companhia. Com isso, a Apple espera receitas totais de US$ 90 bi no próximo período, sendo US$ 46 bi vindos da venda de iPhones, bem abaixo das estimativas de US$ 96 bi e US$ 50 bi, respectivamente. Do lado positivo, as vendas de iPhones neste trimestre bateram US$ 69,7 bi, 6% maior a/a e acima das expectativas, refletindo crescimento em mercados emergentes ex-China. Além disso, destacam-se outras frentes de negócios da companhia, como por exemplo, Apple TV+, Apple Store e iCloud, onde o avanço nas receitas foi de duplo-dígito. Em hardware, as vendas do Mac subiram em linha com o estimado, enquanto iPad recuaram. De mesma forma, as vendas de AirPods e Apple Watches vieram como esperado, apesar dos percalços com a disputa legal sobre um dispositivo de medição de oxigênio no sangue, componente do Apple Watch. Por fim, o novo Vision Pro deve aparecer nas receitas da companhia nos próximos período, com o lançamento para o público neste primeiro trimestre do ano.

No trimestre, as receitas totalizaram US$ 119 bi, 1,36% acima do consenso e crescimento de 13% comparado ao mesmo trimestre do ano passado. O lucro líquido fechou em US$ 33,91 bi, o que resultou em um LPA de US$ 2,19, um valor 16% superior ao consenso.

Alphabet (Google) (GOOGL/GOGL34). Na contramão de seus pares e com resultados, na opinião do mercado, não tão magníficos assim, a Alphabet, empresa mãe do Google, bateu as estimativas, mas decepcionou ao trazer projeções de dispêndios acima do esperado para o ano. As receitas de anúncios no trimestre vieram abaixo das expectativas, prejudicadas pela maior competição no setor, em especial com outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok. As receitas de propaganda no varejo totalizaram US$ 65,5 bi, acima dos US$ 59 bi vistos no mesmo trimestre de 2022, mas abaixo dos US$ 66 bi esperados no consenso. Já na corrida da Inteligência Artificial, a companhia – que tem ficado para trás – anunciou investimentos e mais recursos a serem direcionados para alavancar o segmento em 2024. O Capex deverá chegar a US$ 11 bi, aumento de 45% a/a. Assim como os pares, na contrapartida da elevação destes desembolsos, a empresa tem cortado projetos e efetuado processos de demissão em massa para reduzir despesas. Já as vendas no Google Cloud superaram o consenso, totalizando US$ 9,2 bi, aumento de 26% a/a, potencializada pela aplicação de AI nas ferramentas de produtividade. Mas, o crescimento anual ficou aquém do observado pelos concorrentes, como Microsoft, por exemplo.

No trimestre, as receitas totalizaram US$ 86,3 bi, 1,1% acima do consenso e crescimento de 13,5% comparado ao mesmo trimestre do ano passado. O lucro líquido fechou em US$ 20,8 bi, o que resultou em um LPA de US$ 1,64, 3% maior que o esperado.

Meta (Facebook) (META/M1TA34). A dona do Instagram e do Facebook surpreendeu positivamente ao trazer não só números acima do esperado, mas entregar o pacote completo com programa de recompra de ações e distribuição de dividendos, sendo a primeira dentre as companhias de mídia social a alcançar este feito. Os papéis subiram 15% após o pregão, com investidores celebrando as entregas, mesmo em meio às polêmicas com seus aplicativos sobre incitação da violência, violação de dados privados e segurança dos conteúdos para público infantil. A companhia revisou para cima o guidance de 2024, enquanto manteve as projeções de despesas em mesmo patamar. Até mesmo os questionáveis investimentos no Metaverso trouxeram resultados no período, com as vendas de US$ 1,1 bi vindas da Unidade de Reality Labs. Outra aposta da companhia, os óculos inteligentes em parceria com a Ray-Ban, tem agradado os consumidores e surge como nova via potencial de negócios. Os resultados mostraram um ano de evolução e entregas, dando base para novas frentes, de fato, mas mais importante, voltando novamente a atenção ao foco da companhia, que vem retomando crescimento: receita com anúncios.

Os papéis da companhia seguem recuperando, após a queda de 2022, refletindo a volta do crescimento de novos usuários e receitas com anúncios. No balanço do 4T23, as receitas totalizaram mais de US$ 40 bi, um avanço de 24% a/a e acima das expectativas. Mais expressivos ainda foram os lucros, que totalizaram US$ 14,0 bi, alta de 200% a/a, levando a um LPA de US$ 5,33, um crescimento de 202% a/a e 8% maior que as estimativas dos analistas.

Microsoft (MSFT/MSFT34). A Microsoft, que ganhou os noticiários o ano passado com a explosão do ChatGPT e sua parceria com a OpenAI, bateu as estimativas do mercado tanto em receita quanto lucro, com resultados potencializados pelas novas aplicabilidades de AI, os quais ajudaram a trazer novos clientes ao negócio de Nuvem da empresa, que o utilizam para desenvolvimento, por exemplo, de seus próprios serviços de AI. As receitas da Azure, braço de Nuvem da companhia, cresceram 30% a/a no trimestre, com a chegada de cerca de 17 mil novos clientes à plataforma nos últimos doze meses. O negócio de Inteligência de Nuvem, que abrange outros segmentos além da Azure, totalizou receitas de US$ 25,9 bi, aumento de 20% a/a. Nas outras linhas de negócios, a companhia também apresentou bons números. No segmento de Personal Computing, o qual inclui Windows e games, reportou avanço de 19% a/a nas vendas, as quais ficaram em US$ 16,9 bi, reflexo também da aquisição da marca Call of Duty. O segmento que inclui o LinkedIn e Pacote Office cresceu 13% ante o mesmo período do ano anterior. Apesar dos números surpreendentes, a revisão para cima das despesas previstas para este ano pesou e as ações no pregão do dia da divulgação recuaram. A empresa deve desembolsar cerca de US$ 46 bi em capex no atual ano fiscal. A cifra colocou em dúvida se os dispêndios seriam compensados por receitas crescendo em mesma magnitude. Entretanto, mesmo com a queda recente, a alta constante do último ano levou a Microsoft a superar a Apple como empresa mais valiosa do mundo, chegando a um valor de mercado de US$ 2,88 trilhões no meio de janeiro.

No período corrente, as receitas totalizaram US$ 62,2 bi, 1,4% acima do esperado e avanço de 17,5% comparado ao mesmo trimestre do ano passado. O lucro líquido fechou em US$ 21,8 bi, o que resultou em um LPA de US$ 2,93, um total 5,5% maior que o esperado e 26% acima a/a.

Netflix (NFLX/NFLX34). Abrindo a temporada de balanços para as Big Techs, a Netflix reportou a adesão de 13,1 milhões de novos assinantes, o maior crescimento trimestral de sua história, bem acima das projeções de 8,7 milhões, e levando o total de usuários a 260 milhões, garantindo sua liderança entre as plataformas de streaming. As vendas foram impulsionadas por conteúdos como a temporada final de “The Crown” e o filme “The Killer”. A empresa também ressaltou a contribuição dos seus conteúdos próprios para o aumento de assinantes, dentre eles o reality show Squid Game: The Challenge, com base na série Squid Game (Round 6), e Lupin. A companhia também deve retomar os investimentos para aquisição de conteúdos licenciados, abrindo novas opções ao público e direcionando a conteúdos já conhecidos e de sucesso, minimizando o risco de erros com conteúdo próprios. Olhando para frente, a empresa vê oportunidades em conteúdos ao vivo, dando continuidade aos investimentos e parceria com o grupo TKO, cujo acordo de US$ 5 bi trará o “RAW”, programa ao vivo da World Wrestling Entertainment para a programação. Por fim, a empresa espera crescimento de dois dígitos nas receitas para o ano, conforme adiciona mais assinantes e evolui nas receitas com anúncios.

No último trimestre do ano, as receitas totalizaram US$8,83 bi, 1,4% acima do esperado e avanço de 12,5% comparado ao mesmo trimestre do ano passado. O lucro líquido fechou em US$ 937 mm, o que resultou em um LPA de US$ 2,11, um total 3,44% menor que o esperado, mas 1.658% acima a/a.

Tesla (TSLA/TSLA34). Dentre as Big Techs, nenhuma enfrenta tanta polêmica quanto a Tesla, até mesmo questionando se ela deveria ser considerada uma empresa de tecnologia e não uma fabricante de veículos. Em meios às discussões na plataforma X envolvendo seu CEO e fundador, Elon Musk, além de desafios de custos mais elevados de produção e aumento da concorrência com as fabricantes chinesas, a empresa vem tentando estratégias para não perder market-share e manter a sua marca como principal referência de carros elétricos no mundo. No entanto, os resultados recentes decepcionaram um pouco. A empresa reportou queda nas vendas de veículos no trimestre e antecipou forte queda de vendas para o restante do ano, impactada pela ascensão dos veículos elétricos (EVs) das fabricantes chinesas. O mercado projeta que a empresa venda 2,2 milhões de automóveis em 2024, um aumento de 21% ante 2023, mas bem acima do guidance previamente fornecido pelo management. A revisão para baixo das vendas vem seguida da perda do podium de maior vendedora de EVs no mundo, agora liderado pela chinesa BYD. Os custos, apesar de terem reduzido no período, preocupam, uma vez que a empresa ressaltou que já chegou no “limite natural” de otimização de sua operação e que também deve seguir investindo no Cybertruck e em AI. No entanto, Musk aproveitou para criticar a quantidade de EVs chineses a preços subsidiados que tem chegado aos mercados, sinalização já elencada pelo governo alemão no meio do ano passado. As margens da empresa também reduziram no trimestre, ressaltando a política de volume sobre preço adotada pela empresa desde 2022. A Tesla deve iniciar a produção de veículos mais acessíveis em sua nova fábrica no Texas em 2025, visando competir em equivalência com as fabricantes chinesas. Entretanto, a venda de EVs nos Estados Unidos também tem recuado em razão dos juros mais altos.

No 4T23, o crescimento das vendas da empresa foi o menor em três anos. As receitas totalizaram US$ 25,1 bi, alta de 3,5% a/a e 1,6% abaixo do estimado pelo mercado. O lucro aumentou 114% ante o mesmo período de 2022, ficando em US$ 7,92 bi, mas o LPA encerrou em US$ 0,71, 40% menor a/a e 3,2% abaixo do consenso.


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