Investimentos no Exterior


Fed corta, mas não alivia

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Gabriela Joubert

Publicado 19/set2 min de leitura
  1. Fed corta os juros em 50 p.b. para 4,75% - 5,00%, mas volatilidade segue forte nos mercados.
  2. A ambivalência continua entre os que reconhecem a possibilidade de um soft landing e os que apostam na recessão à frente
  3. Preços das commodities podem sugerir que o Fed está atrasado.
  4. No que tange a estratégia de investimentos, podemos dizer que a mensagem principal disto tudo já está dada: o ciclo de cortes está aí!

Fed corta os juros, mas não alivia e volatilidade continua

Após a tão esperada Super Quarta que trouxe um corte de 50 p.b. pelo Fed, vemos ainda investidores divididos quanto ao como se posicionar e a leitura após a fala de Powell ao mercado. Logo após a decisão, os índices norte-americanos chegaram a ter alta forte, batendo máximas históricas, para então voltarem a patamares próximos à estabilidade, em seguida subirem cerca de 1% e encerrarem o dia com queda de cerca de 0,3%.

Os movimentos confirmam as expectativas unânimes de que, independentemente do que fosse decidido, a única certeza é que teríamos ainda muita volatilidade. O índice VIX continua operando próximo aos vinte pontos, indicando a presença de uma maior incerteza no mercado. Mark Howard pontuou bem isso em sua análise sobre riscos: a volatilidade é um indicador da presença do risco, mas não o risco propriamente dito.

E quais são estes riscos ponderados pelo mercado?

Até mesmo aqui, vemos divergências. Na semana passada, comentei sobre esta ambivalência com relação às expectativas do mercado sobre o futuro da política monetária norte-americana. O lado mais agressivo, que espera uma sequência de até 200 p.b. nos cortes até 2025, vê uma economia que desacelera com mais veemência, o que poderia levar a um quadro de recessão, caso o Fed não agisse mais rapidamente. O próprio movimento de alta do ouro, por exemplo, juntamente com o avanço dos preços das commodities globais, sugere que talvez o Fedesteja atrasado na curva. Para estes, a decisão de cortar já 50 p.b. no início do ciclo corrobora esta visão.

Do outro lado está a parcela do mercado que olha os dados com mais moderação, apostando que o soft landing é possível, com a inflação caminhando em direção à meta, enquanto a economia segue resiliente, apesar de desacelerar. Para estes, o corte de 50 p.b. foi visto com um movimento mais agressivo, podendo trazer uma flexibilização desnecessária e podendo trazer pressões inflacionárias novamente.

Nosso economista-sênior, André Valério, comentou a decisão do FOMC:

Fed reduziu a taxa de juros em 50 pontos base, deixando claro que, na visão do comitê, progresso com a inflação é suficiente para garantir a normalização da política monetária e passam a focar no objetivo de garantir o pleno emprego com uma inflação de 2% ao ano. Entretanto, o comitê não alcançou o consenso, com uma diretora votando pelo corte de 25, o primeiro dissenso no FOMC desde 2005. Além disso, as projeções divulgadas nessa reunião indicam que o Fed irá cortar mais 50 pontos base até o fim do ano, o que esperamos que sejam em doses de 25 pontos base em cada uma das duas reuniões até o fim do ano. As projeções de modo geral indicam que o Fed acredita estar próximo de alcançar o tão almejado soft landing, com a inflação em 2,3% até o fim do ano e o PIB mantendo crescimento robusto ano que vem e a taxa de desemprego estabilizada em 4,4%. Com a decisão de hoje o Fed deixa claro que sua preocupação é o mercado de trabalho, como Powell já havia antecipado em Jackson Hole. Em comparação com as projeções feitas em junho, a maioria do comitê vê riscos mais sérios de alta para a taxa de desemprego nesse momento, o que os levou a decidir por um corte mais intenso de partida. Havia a preocupação de que um corte inicial de 50 pudesse passar a mensagem de que o Fed sabe mais que o mercado e prevê uma piora da economia. Powell tentou tranquilizar nesse sentido, afirmando que a decisão de hoje é uma recalibração da política monetária, dado o progresso com a inflação e a mudança no balanço de riscos, não dando guidance mais firme, deixando as possibilidades em aberto para mover mais rápido ou devagar em direção à taxa vista como neutra.

Leia o relatório na íntegra.

A coletiva de Powell reforçou novamente as mensagens já passadas anteriormente pela instituição, de que o ritmo da política monetária vai depender da evolução dos dados macroeconômicos, em especial agora o mercado de trabalho.

No que tange a estratégia de investimentos, podemos dizer que a mensagem principal disto tudo já está dada: o ciclo de cortes está aí!, o que permite que ativos sensíveis aos juros possam performar melhor a partir de agora. A economia continua resiliente, os balanços das empresas seguem saudáveis e a inflação caminhando para a meta. Por outro lado, o consumo das famílias desacelera e a inadimplência deu sinais de elevação, mas o início do ciclo de cortes poderá trazer alívio aos custos financeiros, principalmente no cartão de crédito e hipotecas. Aliás, até mesmo o setor imobiliário que tende a se comportar pior em ciclos de juros mais altos tem se mostrado consistente mesmo em ambiente de política monetária mais restritiva. Hoje, vimos novamente números de Real Estate mostrando um setor ainda saudável, com novas construções e pedidos de alvarás avançando na base mensal, além de avanço de construção de imóveis multi e unifamiliares. Não à toa, o subíndice da Bloomberg de Homebuilders avança mais de 30% no ano.

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