Renda Variável


Vale | Resultado 3T22

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Gabriela Joubert

Publicado 28/out5 min de leitura

EBITDA pressionado, mas há potencial

Os resultados do 3T22 da Vale deixaram a desejar, impactados por volumes em níveis abaixo do potencial, principalmente em Ferrosos, bem como menores preços realizados tanto de minério de ferro quanto de níquel. As condições de mercado mais ácidas, principalmente – mas não-exclusivamente – na China, onde a produção siderúrgica desacelera por conta da crise no setor imobiliário e o PIB arrefece, têm impactado os resultados da companhia, que neste trimestre reportou receita líquida em linha com o esperado, mas EBITDA 9,3% abaixo das projeções, com custos pesando significativamente.

Do lado positivo, a Vale avança com novos projetos via parcerias, reduzindo a necessidade de aportes e o risco de execução. Além disso, a companhia segue atuando para potencializar seus resultados de Metais Básicos, o que em nossa opinião faz-se acertado, uma vez que aumenta a diversificação de seu portfólio, diminuindo a dependência da companhia em minério de ferro, e impulsionando o destrave de valor via operação com grande potencial. No trimestre, foi aprovado o projeto de níquel Bahodoni, com start up previsto para 2025, em parceria entre a PVTI, Tisco e Xinghai, com capacidade de 73 kton por ano. O capex previsto engloba US$ 2,2 bi para a planta, na qual a PTVI deterá 49% da participação, e US$ 400 mm para a mina, com a PTVI detendo 100% do ativo. Ainda, a Vale apresentou uma reorganização nas operações de metais básicos no Brasil, centralizando os ativos de cobre e níquel em duas sociedades para melhor gestão. Houve também a aprovação da construção do segundo forno em Onça Puma, no valor de US$ 555 mm, e com adicional previsto de capacidade de 12 – 15 ktpa a partir do 1S25. Por fim, a primeira fase do Projeto Copper Cliff Complex South Mine teve início em Sudbury, Canadá, devendo custas à companhia C$ 945 mm, e adicionando 10 kton à sua capacidade anual.

Mantemos a recomendação Neutra para VALE3 e VALE ADR, com preços-alvo para o fim de 2023 em R$ 84/ação e US$ 17/ADR.

Minerais Ferrosos: preços menores pressionam receitas. As receitas de Ferrosos somaram US$ 7.827 mm, 2,5% abaixo das nossas projeções e 12% menor t/t (-27% a/a), refletindo, especialmente, os preços menores da commodity nos mercados internacionais. O preço realizado de finos da Vale ficou em US$ 92,6/t ante US$ 113/t observados no 2T22, impactado pela queda do MF62 (minério referência), parcialmente compensado pelo sistema de precificação, com maior presença de produtos defasados. Contudo, ressaltamos também a queda do prêmio de qualidade pago aos produtos da companhia, que no trimestre ficou em US$ 0,9/t versus US$ 1,1/t no 2T22. O percentual de produtos premium no portfólio também recuou, para 78%, com menor contribuição da produção no Sistema Norte e de pelotas no Sistema Sul-Sudeste. O prêmio do minério de ferro caiu para US$ 6,6/t ante US$ 7,3/t no trimestre anterior, em reflexo à queda dos prêmios de produtos de baixa alumina, bem como ausência de dividendos sazonais das JVs, mas parcialmente compensados por maior participação de contratos de longo prazo de pelotas, com preços realizados melhores. Aliás, as receitas de pelotas somaram US$ 1.656 mm no trimestre, queda de 7% t/t, em razão dos menores volumes vendidos e menor preço do MF65 nos mercados internacionais. Os custos com frete avançaram, pressionando os custos gerais da operação. O Cash Cost C1 ex-terceiros registrou US$ 19,4/t, melhora de US$ 1,5/t ante o 2T22, refletindo (i) maiores volumes de produção, permitindo maior diluição de custo fixo, (ii) variação cambial positiva, (iii) menor custo demurrage, parcialmente compensados por (iv) maior consumo de estoques de produtos com preços mais elevados e (v) maior custo do diesel. Assim, o EBITDA da operação totalizou US$ 3.773 mm, ficando 27% abaixo do 2T22 e 44% menor que o 3T21.

Metais Básicos: importantes avanços. Com a volta das operações após as paradas observadas ao longo do 1S22, as receitas de Metais Básicos somaram US$ 2.042 mm, vindo 22% maior que nossas estimativas, apesar de 3,5% menor t/t. Nas operações de Níquel, vimos efeitos negativos de menores preços realizados de níquel no trimestre, que recuaram 17% t/t, fechando em US$ 21.672/t, mas recuando menos que o Niquel na LME, que caiu 24% no mesmo período. Neste sentido, vimos efeitos positivos na precificação em razão da maior participação de produtos Classe I Superior (baterias) e por maior demanda de produtos não-originados na Rússia. Para o Cobre, vimos desempenho satisfatório, com preços realizados avançando 2,6% t/t, registrando US$ 6.663, apesar da queda na LME de 18,6% no período. Os custos também melhoraram, com maior diluição de custo fixo pela retomada do desempenho operacional em Salobo e melhor desempenho com a volta do moinho em Sossego, expandindo volumes produzidos e vendidos.

Endividamento e Resultado Financeiro. A dívida bruta da companhia ficou em US$ 10,6 bi, enquanto a dívida líquida fechou em US$ 7,0 bi, levando a alavancagem para 0,3x. O resultado financeiro líquido fechou positivo em US$ 2.347 mm, refletindo receitas de US$ 141 mm, despesas de US$ 221 mm, impacto positivo de variação cambial de US$ 201 mm, adicionais de US$ 470 mm pelas Debêntures Participativas e operações com derivativos positiva de US$ 190 mm. Desta forma, o lucro líquido fechou em US$ 4.455 mm ante US$ 4.093 mm no trimestre anterior. O FCL ajustado (excluindo dividendos e recompra de ações) totalizou US$ 2.164 mm.

Resultado Consolidado: EBITDA pressionado, novamente. A Receita líquida da companhia totalizou US$ 9.929 mm, 1,4% acima das nossas estimativas, mas recuando de 9,2% t/t e 19,5% menor a/a, com preços menores de MF e níquel nos mercados internacionais. O CPV totalizou US$ 6.301 mm, 3,8% maior que nossas projeções (+2% t/t) pressionando o EBITDA, que fechou em US$ 4.002 mm, 9,3% abaixo das nossas estimativas, 16% menor que o 2T22 e 42% abaixo do 3T21.

Avanços em ESG

E. A companhia avançou na agenda de descarbonização com o projeto solar Sol do Cerrado em comissionamento e ramp-up da eletrificação até jul/23, visando atender 16% da demanda de energia elétrica da Vale no Brasil em 2025, reduzindo emissões de escopo 1 e 2. Além disso, a Vale assinou memorando com a Stahl-Holding-Saar para busca de soluções focadas no processo de produção de aço carbono-neutro. Por fim, a empresa recebeu dois caminhões movidos à bateria, reduzindo consumo de diesel nas operações.

S. O programa de descaracterização de barragens está 40% concluído e cinco barragens em Minas Gerais foram retiradas do nível de emergência no trimestre, recebendo a declaração de estabilidade.

G. Não houve menção sobre avanços em governança no período.

Fonte: Inter Research e Companhia

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