Receita em linha, mas custos corroem EBITDA
Conforme esperado, a Vale reportou evolução nos resultados quando comparado ao 1T23, trimestre no qual vimos efeito além do esperado da sazonalidade de chuvas, o que prejudicou os embarques da companhia. No entanto, apesar desta recuperação e de ter trazido receitas em linha com nossas expectativas, em US$ 9.673 mm (-1,5% R/E), o montante foi 13% menor do que o observado no ano passado e o EBITDA ficou 11% menor que nossas estimativas e do consenso, em US$ 3.874 mm, prejudicado por custos mais altos e prêmios de qualidade mais baixos. Os resultados vieram acompanhados de alguns pontos de destaque como revisão para cima de guidance de custos, distribuição de JCP no valor de US$ 1,7 bi a serem pagos em setembro e venda de 13% da operação de Metais Básicos, por US$ 3,4 bi.
Em nossa opinião, os resultados do trimestre mostram os desafios enfrentados pela empresa em seu principal mercado consumidor, a China, que segue lidando com demanda enfraquecida no setor imobiliário e, consequentemente, menor consumo de aço e minério de ferro, pressionando preços nos mercados internacionais, o que se reflete nos menores volumes vendidos e nos menores preços realizados, conforme falamos em nosso relatório sobre o resultado operacional da empresa (leia aqui). A operação de Metais para Transição encontra um novo parceiro para fazer jus ao robusto plano de investimentos para alavancar a capacidade produtiva da companhia, no entanto, primeiro precisamos ver estabilização da operação atual, que vem enfrentando problemas há tempos. Mantemos o preço-alvo de VALE3 em R$ 77/ação e para VALE ADR de US$ 16/ação com a recomendação Neutra para ambos os papéis.
Soluções de Minério de Ferro: preços e prêmios para baixo e custos para cima. As receitas do segmento somaram US$ 7.776 mm, 1,2% acima das nossas projeções, reflexo da recuperação de volumes vendidos t/t e alta de US$ 2,4/t dos prêmios de qualidade, com maior representatividade de produtos do Sistema Norte e pelotas. O preço realizado de minério de ferro da Vale ficou em US$ 98,5/t, seguindo a queda dos preços referência. Contudo, o custo caixa C1 ex-terceiros registrou US$ 23,5/t, em linha com o 1T23, o que levou a companhia a revisar para cima seu guidance de custos para o ano, de US$ 20 – 21/t para US$ 21,5 – 22,5/t, em razão das maiores pressões inflacionárias, efeito do real mais apreciado e prêmios menores.
Metais para transição energética: novo parceiro estratégico para destravar valor. A Vale anunciou a parceria estratégica com a Manara Minerals, JV entre a Ma’aden (Saudi Arabian Mining Company) e o PIF (Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita) para alavancar o seu negócio de Metais Básicos, com plano ambicioso de investimentos de US$ 25 – 30 bi na próxima década para elevar a produção anual de cobre para de 350 kton para 900 kton por ano e de níquel de 175 kton para 300 kton. Além disso, a Vale fechou acordo com mesmos termos econômicos com a empresa de investimentos Engine No.1 e o valor total a ser pago com ambos os acordos será de US$ 3,4 bi, correspondentes a uma participação de 13%, sendo 10% para a Manara e 3% à Engine. A chegada de novos parceiros estratégicos poderá permitir que a Vale finalmente consiga extrair o potencial de suas operações, após longo processo de reestruturação, preparando-se para um futuro eletrificado que, em nossa opinião, deverá chegar ao longo das próximas décadas.