Menos do mesmo
Sem grandes novidades, a não ser pela expectativa de menor contribuição da China em seus negócios de Minerais Ferrosos, a Vale sediou seu Vale Day hoje (07/12/22) em Nova Iorque, reforçando o direcionamento do ano anterior sobre a reformulação da companhia em uma mineradora sustentável via simplificação de seu portfólio e foco em ESG, mas com amplo destaque – também como esperado – à operação de Metais Básicos. Com o exposto, concordamos com a visão e objetivo da companhia em focar na ascensão de uma economia mais sustentável e, finalmente, reconhecer que a produção siderúrgica chinesa deve operar em ritmo abaixo do precificado anteriormente. Também vemos com bons olhos o direcionamento da empresa às operações de Níquel e Cobre e o provável destrave de valor como importante fornecedora de insumos para baterias, visando o crescimento do mercado de veículos elétricos.
Atualizando os modelos com o novo guidance divulgado pela companhia, consideramos: (i) produção de minério de ferro ultrapassando 360mt apenas em 2033, (ii) vendas de minério de ferro desacelerando, em virtude dos rumos ainda incertos da crise imobiliária chinesa e desaceleração global esperada para o próximo ano,(iii) preços do MF62 padrão em US$ 60/t no longo prazo, porém com prêmios de qualidade em níveis próximos aos esperados pela empresa, (iv) preços de níquel e cobre em US$ 19.500 e US$ 8.000 no longo prazo, respectivamente.
Assim, chegamos a um preço-alvo visando o final de 2023 de US$ 18 para VALE ADR e R$ 94 para VALE3 e, considerando o cenário ainda incerto com China, que deve comprometer a demanda, mas mantendo o otimismo quanto à eficiência operacional da companhia, mantemos a recomendação em Neutra. Naturalmente, reafirmamos os papéis para compor uma carteira voltada a proventos, uma vez que ainda vemos a companhia entregando forte geração de caixa ao longo do próximo ano.
Vale: menos China em Ferrosos e foco na agenda ESG. A Vale corroborou a estratégia apresentada no Day anterior e manteve-se ancorada nos seus quatro principais pilares de (i) de-risking, (ii) reshaping, (iii) re-rating e (iv) alocação de capital. Dentro do pilar de-risking, a companhia deu continuidade ao processo de melhoria na segurança de suas barragens e aos acordos e processos com envolvidos em Mariana e Brumadinho, além do foco na retomada da produção. No re-shaping, vimos a companhia encerrar seu processo de venda de ativos, eliminando redutores de caixa e permitindo foco em ativos mais aderentes aos seus objetivos de longo prazo rumo a uma mineradora verde. Aliás, destaque para os avanços na agenda ESG, dentro do pilar re-rating, por meio do qual a companhia tem atuado ativamente com metas para redução de emissão de Escopos 1, 2 e 3, além dos investimentos em P&D para desenvolvimento de soluções de baixo carbono a todo o ecossistema (briquete verde, níquel certificado etc.), além de parcerias anunciadas ao longo do ano para soluções na siderurgia, materiais para transição energética e o já conhecido foco em materiais de alta qualidade. Por fim, a empresa se confirma como grande geradora de caixa e entra no rol das grandes pagadoras de dividendos do país, resultado de um processo de alocação de capital eficiente, bem como controle de capex. Ainda no escopo estratégico, os direcionamentos mostram uma empresa em busca de alternativas ao método convencional de operação, consistente de vendas de minério de ferro às siderúrgicas chinesas e que funcionou durante muito tempo, mas que agora, exige uma reformulação. Com o foco em novos negócios e novas parcerias dentro da mineração, a empresa diversifica sem sair de seu core business, usando sua expertise em seu favor.
Minerais Ferrosos. Desafios com China entram no radar, mas futuro é acolhedor. Dentre os pontos apresentados pela empresa, destacamos o otimismo quanto à demanda de minério de ferro para os próximos anos, a qual deverá vir principalmente de regiões emergentes, como Índia, Sudeste asiático, Oriente médio e África, em substituição ao esperado arrefecimento da demanda siderúrgica na China. A tese se baseia no crescimento populacional econômico global, em especial das regiões mencionadas, bem como o processo de urbanização, movimento onshore observado e reforçado pós-pandemia e, principalmente, a agenda de transição energética. Neste sentido, a Vale tem reforçado sua atuação junto a parceiros/clientes buscando o desenvolvimento de soluções de baixo carbono, tornando-se importante fornecedor na cadeia de suprimentos de produtos de maior qualidade e melhor eficiência operacional, além de atuar como protagonista no processo de transição energética da rota de alto-forno e do crescimento da rota de redução direta. Por fim, a companhia revisou para baixo seu guidance de produção de minério de ferro, projetando um volume total de 360Mt a partir de 2030, refletindo a estratégia de priorizar qualidade sobre volume. S11D deverá contribuir com ~70Mt, aumentando gradativamente, preservando as reservas futuras do site. Contudo, o trade off será produtos de qualidade abaixo do previsto anteriormente, retomando os 63,5% - 64% apenas após 2026.
Metais Básicos. Arrumando a casa. Assim como explicitado no Vale Analyst & Investor Tour (veja nosso relatório aqui), a Vale tem direcionado esforços para o desenvolvimento e destrave de valor de suas operações de Metais Básicos, visando fomentar o potencial mercado de baterias que deverá expandir com o crescimento do consumo de veículos elétricos e eletrificação das coisas. Conforme mencionamos anteriormente, vemos dois principais desafios nesta operação: o de organizar a casa e o de estar preparada para quando o momento chegar. Para 2023, a companhia revisou também para baixo suas projeções de produção para as operações de níquel, enquanto manteve o crescimento de volumes produzidos de cobre para o ano. Importante ressaltar os planos de expansão previsto para as operações, os quais podem levar a capacidade anual de níquel dos atuais 180 kton (2022e) para mais de 300 ktpa em 2030, e de cobre dos atuais 360kton (2022e) para mais de 900ktpa no longo prazo, mas que deverão ocorrer paulatinamente e condicionantes a parcerias nos projetos de exploração e desenvolvimento. Concordamos com o potencial da operação e destrave de valor via novos negócios e ancorados pelo processo de transição energética da indústria, bem como o posicionamento estratégico da companhia como principal fornecedor de produtos de qualidade e em praças importantes, como o mercado norte-americano. Mesmo assim, ressaltamos os desafios de preços das commodities, que podem ainda oscilar em patamar mais baixo e menos rentável, enquanto a demanda via carros elétricos não chega, podendo limitar os potenciais ganhos esperados para as operações.
Veremos dividendos robustos? Nossa aposta é que sim! Mesmo com os prováveis desafios que entram no cenário, ainda vemos a Vale entregando robustos resultados ao longo de 2023 e nos próximos anos, considerando sua excelente e diferenciada estrutura de custos, principalmente na operação de ferrosos, além do portfólio e produtos de qualidade que seguem como diferencial da empresa. Além disso, a companhia tem reforçado uma política estrita de novos investimentos, com foco em parcerias para desenvolvimento de novos negócios, otimizando sua alocação de capital. Com isso, mesmo não vendo tanto espaço para upside via valorização de suas ações no curto prazo, entendemos que a companhia segue como excelente opção para uma estratégia de investimentos voltada a proventos, uma vez que projetamos ainda forte geração de caixa para os próximos trimestres, derivando em robusta remuneração ao acionista, seja por meio de dividendos, JCP ou programas de recompra.