Top line surpreende e compensa alta dos custos
A Suzano surpreendeu positivamente nos resultados de ontem, com receitas e EBITDA 10% acima do estimado, com desempenho superior tanto em celulose quanto em papel. As dinâmicas de mercado, mostrando desequilíbrio entre oferta e demanda, têm contribuído para repasses e implementação de preços que, juntamente com maiores volumes vendidos, impulsionaram o top line da companhia, compensando os elevados custos observados – e esperados – no trimestre, mantendo as margens em linha com nossas expectativas. Mantemos a visão positiva para a empresa, tanto para o curto prazo, no qual vemos os desequilíbrios ainda favoráveis para, ao menos, manutenção de preços, quanto para o longo prazo, por entendermos que os fundamentos quanto à substituição de plástico por papel nas embalagens, bem como a continuidade no avanço da demanda por tissue, podem seguir impulsionando as receitas e resultados da companhia no futuro. Desta forma, reiteramos nosso preço-alvo para SUZB3 YE22 em R$ 70/ação, com recomendação de Compra.
No trimestre, a companhia comunicou a aprovação de uma nova fábrica de tissue em Aracruz, com capacidade anual de 60 kton, investimentos de R$ 600 mm, a ser financiada via crédito de ICMS devidos no estado do Espírito Santo. Ainda, o Projeto Cerrado segue de acordo com o cronograma, com 21% da parte física e 15% do financeiro. Ainda, a Suzano anunciou contrato de compra e venda de participação societária com Parkia e Caravelas, visando garantia de terras e florestas para novas capacidades entrantes com Projeto Cerrado. Com isso, a companhia revisou para cima seu guidance de 2022, de R$ 13,6 bi para R$ 16,1 bi. Por fim, ontem, a companhia divulgou novo Plano de Recompra de Ações, visando aquisição de 20 milhões de ações ordinárias, com prazo de 18 meses, a contar de julho de 2022.
Agenda ESG: Damos destaque aos avanços na agenda e compromissos ESG da Suzano no trimestre, com a divulgação de seu Relatório de Sustentabilidade 2021, bem como a Central de Sustentabilidade, que inclui indicadores como GRI e TCFD. Mais uma vez, a companhia providenciou seu ESG Call, aberto a todos os stakeholders, e neste trimestre lançou o Programa Cuida da Água, focado em seus fornecedores. A Suzano também fechou parceria com o Fundo Brasileiro para Biodiversidade, para operar na Amazônia e desenvolver uma cadeia de extrativismo sustentável.
Resultado Consolidado: maiores volumes e preços elevados compensam alta de custos. A receita líquida da companhia somou R$ 11.520 mm, 10% maior que as nossas estimativas, 18% acima do 1T22 e 17% maior a/a, refletindo receitas maiores tanto em celulose quanto em papel, resultado da alta de volumes vendidos e preços no período. O CPV totalizou R$ 6.123 mm, 6,3% maior que o projetado pelo Inter Research e 13% acima t/t, sentindo os efeitos de preços mais elevados de insumos, principalmente combustível. As despesas VG&A registraram recuo, ajudadas por outras receitas com variação positiva no ativo biológico, uma vez que o preço da madeira segue evoluindo, seguindo o avanço dos preços das commodities no exterior. Contudo, as despesas com vendas avançaram 7% t/t, refletindo o maior volume vendido no período e as maiores despesas com logística no exterior. Assim, o EBITDA fechou em R$ 6.303 mm, também 10% acima das nossas projeções, e 23% maior que o reportado no 1T22. A margem EBITDA, por sua vez, veio em linha com nossas expectativas, em 54,7%.
Endividamento e Resultado Líquido. A dívida bruta da companhia ficou em R$ 75,2 bi, ao passo que a dívida líquida totalizou R$ 54,9 bi. O custo se manteve em 4,5% na dívida dolarizada e o prazo ficou inalterado, em 87 meses. A alavancagem, medida pela dívida líquida sobre o EBITDA, subiu de 2,1x para 2,3x em R$ e ficou em 2,3x em US$, mais uma vez abaixo da meta de 3,0x. O resultado financeiro fechou negativo em R$ 6.975 mm, com as despesas financeiras totalizando R$ 1.133 mm, receitas ficando em R$ 194 mm, efeito de variação cambial e monetária contribuindo negativamente em R$ 4.460 mm e operações de derivativos fechando também negativo em R$ 1.576 mm. Assim, a companhia reportou um lucro líquido de apenas R$ 182 mm, ante os R$ 10.306 mm no trimestre anterior. O FCL ajustado, ex-Capex e Dividendos, somou R$ 4.488 mm.
Celulose: dinâmica de oferta vs demanda segue desequilibrada, permitindo repasses de preços. Os preços da celulose continuaram avançando nos mercados internacionais, que seguem em desequilíbrio com restrições de oferta, em virtude de fechamentos de capacidades, problemas logísticos, e demanda ainda aquecida, principalmente para tissue e papel de Imprimir e Escrever na Europa e Estados Unidos. Vimos avanços no FOEX de 25% e 8% na comparação trimestral, na China e Europa, respectivamente, e o spread entre as fibras curta e longa continua acima de US$ 100/t (valor considerado de equilíbrio), impulsionando a substituição pela fibra curta. O preço médio realizado da Suzano no trimestre ficou em US$ 726/t, 13% maior t/t, o que, juntamente com o avanço de 12% no volume de vendas, levou a uma receita líquida no segmento de R$ 9.508 mm, 9% acima das nossas estimativas, 19% maior t/t, e 13% acima do 2T21. Já o custo caixa C1 ficou em R$ 854/t ex-parada, -2% t/t, refletindo (i) maior diluição de custo fixo, (ii) maiores receitas com energia, (iii) maior pressão de custos de insumos, em especial químicos, fibras e combustíveis e (iv) efeitos de variação cambial. Por fim, o EBITDA do segmento totalizou R$ 5.600 mm, 23% maior que o 1T22.
Papel: mais avanços. Dando continuidade ao desempenho observado nos últimos trimestres, ex-sazonalidade, o negócio de papel da companhia continua surpreendendo positivamente. As vendas de papel avançaram 4% t/t e 10% a/a, para 324 kton, com o mercado interno demandando mais papel de IE, conforme a população volta aos escritórios e às escolas. No segmento de cartão, já vemos estabilização, especialmente na comparação anual, após o processo de reestocagem em 2021, pós-pandemia. O preço médio do papel da Suzano avançou novamente, ficando em R$ 6.200/t (+10% t/t e +31% a/a), reflexo dos aumentos anunciados e implementados. A Receita do segmento totalizou R$ 2.012 mm, 15% maior t/t, 44% acima a/a e superou em 15% nossas expectativas. O EBITDA, por sua vez, finalizou o trimestre em R$ 703 mm, 25% maior que o 1T22.