Renda Variável


Projeção Ibovespa 2023

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 23/mai5 min de leitura

Momento de inflexão? Perspectivas não ajudam, mas IBOV ainda está barato

O Ibovespa no ano de 2023 em termos de performance permaneceu praticamente estável; com retorno de 0,9% desde o final do ano passado. Muitas dúvidas pairavam e ainda pairam sobre o cenário macroeconômico do país, a começar pela responsabilidade fiscal, que antes era uma incógnita e hoje temos pelo menos uma cor de como será a condução fiscal após entrega do relatório do Arcabouço Fiscal na Câmara. A inflação tem convergido para a meta e no último dado de abril registrou 4,18% no acumulado de 12 meses, enquanto no mesmo mês do ano passado, o índice registrava 12,13% nos UDM. A política monetária restritiva do Banco Central tem trazido os efeitos esperados, mas por outro lado, a discussão agora é se já é hora de parar. Com uma taxa de juros a 13,75% há nove meses, o Bacen mostra ainda cautela em relação ao controle inflacionário. Contudo, os juros elevados seguem pressionando o endividamento das companhias e as mais fragilizadas ou já mostram resultados combalidos, ou em outros casos tem recorrido à recuperação judicial, o que coloca o mercado de crédito em modo restritivo e cauteloso. Enquanto bancos mostram ainda cautela com a inadimplência, seja na pessoa física onde os efeitos das condições macroeconômicas e juros elevados têm pressionado também o maior endividamento das famílias, seja com as empresas ligadas à economia doméstica, as quais sentem maiores dificuldades na geração de resultados – como varejo, construção civil e outros setores que amargam um momento de lucro mais ameno.

Contudo, o cenário parece que tem se desenhado para uma inflexão e fatores externos tem contribuído para uma percepção de que dias melhores virão. A começar pelo preço das commodities, com o petróleo e o minério de ferro com preços arrefecidos, o que traz menor pressão inflacionária, e já vemos a inflação mostrando conversão para a meta, aumentando a pressão para que o Bacen reduza os juros em breve.

Múltiplo em mínimas históricas há quase dois anos. Tendo em vista que o Ibovespa de lá para cá sofre com um valuation nas mínimas históricas, negociando a cerca de 7x lucros – o que também é reflexo de um juro elevado e revisão para baixo das projeções de lucros das companhias para o ano, esperamos dois fatores (controversos) para que o múltiplo se ajuste à média: i) revisão de lucros para baixo, fazendo com que o ajuste se faça via lucro e não preço e ii) melhora macroeconômica via redução da taxa de juros, o que beneficia o valuation e condições macro para lucratividade das companhias.

Em um momento em que os juros começarem a dar sinal de queda, uma reação positiva para o índice é esperada, ou seja, uma inflexão do comportamento atual. Primeiro, pela melhora no valuationdas companhias via taxas de desconto e segundo pela perspectiva de um ciclo econômico melhor pela frente, que pode trazer para 2024 dias melhores para as companhias.

O preço reflete os lucros das empresas e 2023 ainda turvo não ajuda. O jargão é clássico, mas pouco lembrado. No caso do Ibovespa se compararmos o movimento dos preços versus o lucro por ação da composição do índice, observamos a correlação e o movimento do Ibovespa acompanhando o lucro das companhias. O problema é que as estimativas têm sido revisadas para baixo, corroborando com nossas expectativas mencionadas acima.

Commodities são o principal motivo das revisões. Dos 16 segmentos dos quais dividimos o Ibovespa, 10 deles tiveram revisões positivas para os lucros em 2023. Contudo, o restante do que foi revisado para baixo é representativo e listam principalmente as companhias do setor de commodities, que representam 61% do índice, pressionando a correção do indicador via lucros para o ano.

E como está o Ibovespa ex-commodities e setor financeiro? Excluindo as companhias de commodities e do setor financeiro, o índice representa 40% das companhias e em termos de lucros é menos significativo, representando 17%. Mas falando de preços, o índice se mostra barato negociando a 18x lucros esperados para 2023, tendo uma média de 28x lucros e ainda conta com melhores perspectivas na revisão de lucros do mercado, principalmente vindo da indústria, Varejo, Real Estate e Saúde.

Enfim, o que estamos esperando para o Ibovespa em 2023? Primeiramente, é importante mencionar que ao considerarmos um target para o Ibovespa, não significa que estamos prevendo que o índice chegará neste preço, mas sim que, tendo em vista o lucro esperado das companhias e a pontuação atual do Ibovespa, entendemos que o target é um preço justo e não uma previsão, já que por aqui, ainda não temos uma bola de cristal.

Considerando que o Ibovespa negocia a 7x lucros de 2022 e a 7,5x lucros esperados para 2023 (perda via estimativas de lucro para baixo) e que historicamente o Ibovespa negocia a cerca de 13x lucros, temos um gap de dois desvios padrão dos múltiplos atuais. Se considerarmos um desconto conservador para o índice em relação a incertezas, utilizando o patamar de 9 vezes lucros, que significa um desvio padrão abaixo da média, significaria, mesmo nas condições atuais, que o índice deveria negociar a 118.000 pontos, considerando as estimativas atuais para 2023, o que representa um upside de 7%, o que corrobora com nossa precificação anterior feita em dezembro de 118.000 pontos, mantendo nossa convicção e expectativas para índice.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail