Trimestre em linha, mas dinâmicas começam a apertar
O 4T22 deve trazer números ainda em níveis saudáveis para os principais negócios das companhias, com volumes em linha, refletindo uma demanda ainda resiliente, mas preços em tendência de queda, resultado de maior pressão na ponta, por conta de incertezas quanto ao cenário à frente, especialmente quanto à retomada na China e recessão nos Estados Unidos. Europa desponta como surpresa positiva e expectativas já são melhores no ano para o Velho Continente. Na linha de custos, no geral, ainda veremos pressão de custo de madeira de terceiros na celulose, bem como impacto ainda relevante do alto preço de químicos, como a soda cáustica. Com isso, as margens poderão ter leve recuo no trimestre, apesar de ainda em patamares resilientes.
Celulose: China em modo “wait and see”. Mesmo com a euforia que tomou conta dos mercados no último trimestre do ano por conta do anúncio do fim das restrições na China, as negociações entre papeleiras e produtores de celulose ficaram em modo de espera, enquanto clientes aguardam sinais mais sólidos da recuperação econômica esperada para o país, principalmente após o Ano Novo Chinês. Os volumes devem vir em linha na comparação trimestral, beneficiados por uma demanda saudável na Europa e com viés de melhora para o ano, compensando parcialmente as incertezas na economia chinesa. Com um ambiente mais adverso, vimos a Suzano anunciar redução no preço da celulose em US$ 80/t para janeiro de 2023, conforme novas capacidades adentram a indústria e clientes pressionam na ponta. Para o trimestre, entretanto, ainda devemos ver preços estáveis t/t. Na linha de custos, o Custo Caixa C1 deverá mostrar, uma vez mais, custos mais altos com fibras, em razão do maior uso de madeiras de terceiros, visando a preservação de florestas próprias. O custo de insumos também deve pesar no trimestre, em especial a soda cáustica.
Papel: desempenho diferentes para segmentos diferentes. No segmento de papel, devemos ver comportamento misto nos diferentes subsegmentos da indústria. No setor de Cartões, as dinâmicas apertadas de oferta e demanda seguem beneficiando os números das companhias, que devem reportar mais uma vez volumes e preços em patamares elevados, contribuindo para receitas resilientes. Já no segmento de kraftliner, a desaceleração econômica global, em especial nos Estados Unidos, tem limitado a demanda nos mercados internacionais, pressionando também os preços, o que, juntamente com custos ainda elevados, deve pressionar as margens no negócio. Com relação ao segmento de papelão ondulado, o 4T22 deve trazer os impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco, ampliados ainda pelos efeitos negativos da Copa do Mundo na demanda, fazendo com que as vendas e preços ficassem menores na comparação trimestral.
Irani (RANI3): Sazonalidade pesa, e muito
Esperamos resultados abaixo na comparação trimestral para a Irani, refletindo uma sazonalidade mais fraca no trimestre, também afetada pelos efeitos negativos na demanda pela Copa do Mundo. O volume de vendas no segmento de embalagens sustentáveis deverá trazer um nível similar ao observado no 2T22, levando a receitas menores neste segmento, apesar da provável manutenção dos preços t/t. No segmento de papel, o efeito negativo foi menor e as receitas devem ficar levemente maiores ante o 3T22, com volumes maiores e preços em linha. Contudo, no segmento de resinas, os preços voltam ao patamar histórico, tendo expressiva queda no a/a e devem contribuir menos para os resultados da empresa neste trimestre.
Nos custos, os preços de aparas ficaram razoavelmente comportados ante o trimestre anterior e não devemos ver grandes alterações nesta linha. Contudo, as despesas de pessoais devem mostrar os efeitos sazonais de bônus e compensações.
Esperamos que a receita consolidada reporte R$ 392 mm 11% menor que o trimestre anterior e 5,2 menor que o 4T21. O resultado financeiro deve sentir o impacto dos juros mais elevados e da emissão do CRA no período. Já o EBITDA deve somar R$ 125,6 mm, 8,6% menor t/t e 6,4% abaixo do 4T21, com uma margem EBITDA de 32%, 0,9 p.p. menor t/t.
Klabin (KLBN11): Trimestre reflete dinâmicas mais apertadas em todas as linhas de negócios
Esperamos receitas menores na comparação trimestral para todos os negócios da companhia, por motivos distintos que afetaram a dinâmica do 4T22. Na celulose, a inércia por parte dos clientes chineses nas negociações limitou os avanços de volumes vendidos e, com preços levemente abaixo, devemos ver receitas 12% menor t/t. No segmento de papel, devemos ver menores volumes e preços no mercado externo limitando parcialmente os avanços observados no mercado interno, em especial para o segmento de cartões. No entanto, a linha de papelão ondulado vai refletir a menor demanda no trimestre por conta da sazonalidade e da Copa do Mundo, mas também o menor volume de safras de frutas.
Os custos deverão ser pressionados, novamente, pelos altos preços de insumos, em especial a soda cáustica, mas também pelo maior custo de madeira, em razão do maior percentual de madeira de terceiros. O frete deve seguir em linha, mas ainda em patamar elevado por conta dos preços também elevados de petróleo e demais commodities energéticas.
Assim, esperamos que as receitas totalizem R$ 5.027 mm, recuando 8,4% t/t mas 9,7% maior a/a. O EBITDA, por sua vez, deve ficar em R$ 1.895 mm, 18% menor que o 3T22 em linha com o 4T21, com uma margem de 38%, 4,0 p.p. abaixo t/t.
Suzano (SUZB3): Levemente abaixo, com China em modo de espera.
A Suzano deve reportar resultados levemente abaixo do trimestre anterior, com os negócios de celulose por um lado sendo afetados pelo modo de espera que se instaurou na China, onde clientes decidiram postergar negociações para depois do ano novo lunar, até que haja sinais mais claros quanto à retomada da economia no gigante asiático. Nesse sentido, vimos também pressão de preços por conta das ofertas adentrando o mercado, o que fez com que a companhia anunciasse um desconto de US$ 80/t nos seus produtos, mas que deverão ser sentidas mais plenamente no 1T23. Do lado positivo, a demanda na Europa apresentou-se mais resiliente, com menor efeito da crise energética esperada para o trimestre. Assim, esperamos que as receitas de celulose somem R$ 11.320 mm, levemente abaixo do observado no trimestre anterior. Na linha de custos, devemos ver novamente o impacto de custos de químicos, em especial a soda cáustica, mas também maiores gastos com madeiras de terceiros, em razão da estratégia da companhia de preservação de florestas próprias. Já no segmento de papel, os números seguem fortes e devemos ver receitas também levemente abaixo, com preços arrefecendo um pouco, e também com leve pressão de custos, mas ainda resultando em margens elevadas.
Assim, projetamos receitas consolidadas em R$ 13.441 mm, 5,1% menor t/t, enquanto os custos devem somar R$ 5.681 mm. O EBITDA, por sua vez, deve registrar R$ 8.130 mm, 5,4% menor que o 3T22, mas 28% acima do 4T21, com margem de 60,5%.