Desaceleração continua e desta vez piora da qualidade de crédito teve também contribuição da PJ
Concessões de crédito somaram R$466,7 bilhões em janeiro, 15,3% menor do que o saldo observado em dezembro devido à sazonalidade. No acumulado em 12 meses, as concessões crescem 13,9%, em tendência de queda. Cabe ressaltar que esse são os primeiros resultados de crédito desde a eclosão do rombo nas Lojas Americanas que, devido à exposição dos principais bancos do país, tem desacelerado a concessão de crédito no país. Entretanto, os dados de janeiro ainda são preliminares e é cedo para concluir o tamanho do impacto desse evento no mercado creditício.
As concessões de crédito livre recuaram 13,9% no mês, alcançando R$424 bilhões. Entre as pessoas físicas, o montante alcançou R$242,4 bilhões, uma queda de 2,3% na comparação com dezembro. Destaque para crédito consignado, que avançou 41%. Por outro lado, cartão de crédito recuou 5,5% no mês, interrompendo uma sequência de 3 meses de crescimento. Ainda assim, essa modalidade acumula alta de 32% no acumulado em 12 meses, mostrando a recuperação do consumo nesse período. Por fim, a inadimplência na pessoa física aumentou 0,2 ponto percentual, alcançando 6,1%, maior valor desde outubro de 2016.
Entre as pessoas jurídicas as concessões de crédito livre recuaram 24,8% na comparação com dezembro, alcançando o montante de R$181,6 bilhões. Destaque para desconte de duplicatas e recebíveis que recuaram 39% no mês. Ainda assim, no acumulado em 12 meses, as concessões para as empresas apresentam forte alta de 15,9%. Por fim, a inadimplência também aumentou 0,2 ponto percentual, alcançando 2,3%, maior valor desde maio de 2020.
Financiamento imobiliário recuou 9,8% no mês, aprofundando tendência negativa que já se observava nos últimos meses. No acumulado em 12 meses, as concessões para financiamento de imóveis recuaram 3,8%, resultado do aumento nas taxas de juros, que no período aumentaram em 1,3 ponto percentual. De maneira geral, as taxas de juros aumentaram 1,2 ponto percentual para as pessoas físicas e 2,2 pontos percentuais para as pessoas jurídicas, na comparação com dezembro. Reflexo do aperto monetário implementado pelo banco central, que faz com que em 12 meses as taxas tenham aumentado 10,3 pontos percentuais para as pessoas físicas e 4 pontos percentuais para as jurídicas.
De maneira geral, os dados de janeiro mantiveram a tendência de desaceleração no crédito. A conjuntura que já era delicada por conta da alta da Selic e consequente desaceleração econômica, piorou com o rombo das Lojas Americanas. Desde então, observamos outras empresas com elevado risco de crédito, principalmente no setor varejista. Dado o tamanho da exposição dos bancos às Lojas Americanas, aumenta-se o receio de um credit crunch na economia brasileira. Os dados de janeiro não permitem negar essa hipótese, mas ainda é cedo para concluir algo.
Inadimplência segue deteriorando em linhas sem garantia na pessoa física e dessa vez o segmento PJ também contribuiu para a piora da qualidade de crédito. A inadimplência total registrou 3,2% com avanço de 20 bps m/m e +70 bps a/a, acima da média de 2019, com o segmento PF reportando taxa de 4,0% (+10 bps m/m e +80 bps a/a), impulsionado pelas linhas de cartão de crédito, crédito pessoal não-consignado, cheque especial e veículos. No segmento PJ a inadimplência foi de 1,9% (+20 bps m/m e +50 bps a/a) com forte avanço das linhas de cartão de crédito, capital de giro e leve avanço em desconto de duplicatas.
Taxas de juros seguem em ritmo de alta e neste mês o segmento PJ mostrou maior avanço. As taxas médias de juros registraram 31,2% em janeiro (+110 bps m/m e +560 bps a/a) e mantiveram a tendência de alta e elevando spreads que registraram taxa de 20,5% (+120 bps m/m e +390 bps a/a) para níveis de 2019 em todos os ramos (PF e PJ). As taxas para PJ aceleram em maior velocidade neste mês registrando 22,2% (+200 bps m/m e +350 bps a/a), enquanto na PF a evolução foi de 60 bps m/m e 640 bps a/a registrando taxa de 36%.