Abertura da semana
A semana começou agitada, com o Ibovespa acelerando para 131 mil pontos novamente, na expectativa de que o governo dê algum sinal sobre o pacote de corte de gastos, que era esperado ser divulgado após as eleições municipais. Papéis de bancos, varejistas e Vale empurraram os ganhos do índice na sessão. Além disso, a Azul ganhou destaque com alta de 14% após novo acordo com os arrendadores da companhia.
No cenário global, a melhora na percepção de risco após Israel atacar o Irã sem atingir instalações de petróleo no país manteve os mercados sem pânico. Contudo, o petróleo caiu cerca de 6% com a notícia. Investidores estrangeiros tem uma semana agitada, com dados macroeconômicos importantes como o relatório de emprego Jolts na terça, pesquisa ADP de criação de empregos no setor privado e a leitura do PIB no terceiro trimestre dos EUA. Além disso, o indicador de inflação PCE, e payrolltambém serão divulgados. Acabou? Não, também teremos resultados das Big Techs no radar como Alphabet, Meta, Microsoft e Amazon.
E por aqui, também se preparem que teremos indicadores como IGP-M, relatório de emprego do Caged e a produção industrial. A temporada também estará cheia e trataremos no texto de hoje.
Acompanhando a temporada de resultados
Na semana passada foi dada a largada na temporada de resultados e tivemos nomes importantes como Vale, Usiminas e Suzano reportando seus números. Começamos com números mistos, com destaque positivo para a Suzano. Nesta semana entre os principais nomes teremos: Intelbras, Auren, Log, Weg, Transmissão Paulista, Santander, Bradesco, CCR, Eztec e Irani.
Vale: Impacto do Preço do Minério e Acordo de Reparação de Mariana ganham destaque. A Vale registrou um lucro líquido de US$ 2,4 bilhões, uma queda de 15% em relação ao mesmo período de 2023, principalmente devido à baixa nos preços do minério de ferro. Comparando com o segundo trimestre de 2024, o recuo foi de 13%, refletindo o ambiente desafiador das companhias do setor. Paralelamente, a Vale assinou um acordo de reparação para os impactos do desastre de Mariana, que implica compromissos contínuos em relação à mitigação dos danos ambientais e sociais. As ações da companhia sobem 5% desde a divulgação dos resultados, com boas perspectivas quanto aos imbróglios ora resolvidos com o acordo. Das maiores mineradoras do mundo, Vale é a mais descontada entre os pares, negociando a 3,9x EV/EBITDA, mas o mercado segue pressionando os papéis de mineradoras em geral devido aos desafios do principal demandante da commodity, a China, que ainda luta para estimular a economia e o setor imobiliário, importante demandante de aço no mundo.
Usiminas: Recuperação nos Resultados e Otimismo com a Siderurgia. A Usiminas apresentou uma reviravolta positiva, registrando um lucro líquido de R$ 185 milhões no terceiro trimestre, revertendo o prejuízo do mesmo período em 2023. Seu EBITDA ajustado alcançou R$ 426 milhões, alta de 72% em relação ao trimestre anterior, impulsionado pela demanda doméstica sazonal e uma leve recuperação nos preços de aço no mercado interno. A empresa também atualizou suas projeções de investimento para R$ 1,1 bilhão para 2024, reafirmando sua estratégia de expansão e melhoria operacional. Os papéis da Usiminas subiam 8% na semana passada e negociam a 5x EV/EBITDA, em linha com pares no setor, mas o mercado segue de olho na pressão do aço barato chinês sendo desovado no mundo e no Brasil. Questões regulatórias sobre o preço do aço importado seguem na mesa, enquanto as siderúrgicas seguem com o desafio dos preços.
Suzano: Revertendo prejuízo com vendas e preços ajudando. A companhia reverteu o prejuízo do mesmo trimestre do ano anterior, reportando lucro líquido de R$ 3,2 bilhões, superando as estimativas de mercado, que eram de R$ 2,3 bilhões. Com aumento no volume de vendas tanto de celulose quanto de papel e pelo avanço nos preços médios no período, a companhia avançou 76,5% em seu EBITDA ajustado consolidado, registrando R$ 6,5 bilhões, maior patamar desde o 4T22. E desta vez o resultado final contou com a ajuda no resultado financeiro, favorecido pela marcação à mercado nos derivativos e variação cambial sobre a dívida em moeda estrangeira. No mesmo trimestre do ano passado o resultado financeiro foi grande detrator, já neste, o saldo positivo contribuiu para o bom resultado. O endividamento segue reduzindo, e foi para 3,1x ante 3,2x registrado no trimestre passado e continua se afastando do limite estabelecido pela política de endividamento da companhia de 3,5x. Os papéis da Suzano subiam quase 6% na semana passada, refletindo o bom resultado, mas ainda vemos um setor pressionado pelos preços da celulose. SUZB3 negocia a 6x EV/EBITDA descontado frente à Klabin e em linha com asua média dos últimos 5 anos e ainda esperamos muita volatilidade no setor.
Expectativas versus realidade. Fique de olho
Você já deve ter ouvido aquele famoso jargão do mercado: Sobe no boato e cai no fato. O contexto por trás desse jargão é de que o mercado frequentemente impulsiona as ações de uma determinada empresa, antes que esses eventos de fato aconteçam, em uma tentativa de se antecipar e precificar uma ação de acordo com determinado evento, seja ele positivo ou negativo.
Aswath Damodaran, famoso professor de finanças da NYU e mestre do valuation de todo financista no mundo, destaca que a narrativa é uma das ferramentas mais poderosas do mercado. A criação de expectativas permite que certos ativos sejam valorizados acima do seu valor justo no momento, o que acaba em seguida, levando a correções quando o fato real acontece e a narrativa se alinha com a realidade dos números. Este processo revela a diferença entre o valor real e o valor especulativo, reforçando que o mercado oscila entre esses pontos devido às decisões rápidas de investidores, que se ajustam constantemente às novas informações.
Esses movimentos acabam gerando uma disparidade entre a valorização no momento de uma notícia ou de boatos, e quando de fato aquilo acontece e é divulgado pela companhia. Acontecendo então, um ajuste nos preços, com muitos investidores que tentaram se antecipar, realizando lucros.
O exemplo da temporada de resultados.Você já deve estar acompanhando o nosso calendário e logo acima nesta newsletter trouxe as expectativas para os resultados da semana. Em algumas ocasiões, o mercado fica de olho em 3 fatores, quando o resultado de uma empresa é divulgado: i) o desempenho da empresa contra ela mesma no passado; ii) o desempenho da empresa contra as expectativas do mercado; e iii) projeções da própria empresa sobre os negócios pela frente. Além dos três fatores, existem eventos que podem junto com o resultado também fazer preço nos papéis, que são intensamente monitorados pelo mercado.
Desta forma, em alguns casos podemos ver uma empresa apresentar um ótimo desempenho no trimestre e a depender das expectativas do mercado e da intensidade de novas projeções dadas pela companhia, o movimento pode não ser tão positivo, ou o contrário. Então muita coisa depende aqui, nem sempre é de fato subir no boato e cair no fato. É uma série de checks que precisamos validar para entender para onde está indo uma ação.
Exemplo da Vale no 3T24: As ações subiram 3,4% no dia seguinte da divulgação. Vamos acompanhar os três fatores para avaliar esse movimento.
Primeiro fator: O desempenho da Vale contra ela mesma foi positivo ou negativo? No caso do 3T24 foi negativo, o lucro caiu ligeiramente contra o trimestre anterior e também contra o mesmo trimestre do ano passado. Assim como as receitas e o EBITDA. Logo, por esse fator seria esperado um desempenho negativo. Menos um ponto.
Segundo fator: O desempenho da Vale contra as expectativas do mercado foi positivo ou negativo? Neste caso, o mercado já esperava que os resultados seriam negativos contra ela mesma, dado que o mercado acompanha os movimentos de preços da commodity que dita a precificação de venda para a companhia e também outros indicadores como os de produção e vendas divulgados pela própria companhia e indicativos de demanda na China. As expectativas do mercado eram de lucro de cerca de US$ 10,9 bilhões, mas a companhia reportou um lucro de R$ 13,7 bilhões, ficando bem acima das expectativas e o ponto positivo com fatores operacionais. Mais um ponto.
Terceiro fator: Agora para desempatar o placar. Houve algum guidance da empresa? Foi bom ou ruim? Neste caso, a companhia não revisou um guidance geral, mas trouxe uma revisão nas suas projeções de custo do cobre que na visão da companhia reduziu a faixa anteriormente prevista. Ponto positivo.
Agora, como mencionei, além desses fatores, eventos além de resultados e guidances podem também afetar o desempenho. Como a divulgação pela companhia da assinatura do acordo de Mariana, que trazia de forma definitiva os custos e questões envolvidas sobre o caso que se desenrolam há anos. O mercado, que não gosta de incertezas, já monitorava esse evento, e a chegada nele apenas deu mais força positiva aos três fatores que vimos.
Espero que tenha ajudado, sabemos que entre o céu e o inferno há coisas que até Deus duvida, e é assim no mercado financeiro, às vezes tentamos buscar narrativas que façam sentido para o movimento das ações, para o que a gente acredita sobre os fundamentos de uma companhia, mas nem sempre conseguimos prever os movimentos do mercado, que sempre serão aleatórios.