A nova trend da Inteligência Artificial e os resultados das Big Techs
A temporada de resultados nos Estados Unidos vai chegando ao fim, mas com relaçãoàs Big Techs é apenas o começo de uma nova era. A era da Inteligência Artificial. Depois da febre das dot.com, a evolução da Blockchain e os criptoativos, temos um novo frisson no mercado.
Não se fala em outro assunto a não ser o novo ChatGPT e suas implicações na vida cotidiana, no futuro das grandes empresas de tecnologia e sobre o futuro de algumas profissões, especialmente após o programa ter tido sucesso em algumas importantes provas de conhecimentos como OAB aqui no Brasil, BAR nos Estados Unidos, bem como exames para área de medicina. Com isso, vimos uma corrida entre as grandes companhias e atém mesmo outras menores para impulsionar seus negócios de inteligência artificial. A Microsoft ganhou ainda mais notoriedade com o impacto do próprio ChatGPT, desenvolvido pela startup OpenAI, investida da companhia, e já anunciou a implementação da ferramenta em seus produtos, como a ferramenta de busca, Bing, e o Microsoft Teams. A Alphabet (Google), por sua vez, anunciou o Bard, robô de inteligência artificial para competir com a Microsoft, mas ainda com necessidade de ajustes, após o fiasco na primeira demonstração ao mercado. As ações da Google seguem pressionadas, com a letargia da companhia em apresentar seus novos produtos de AI, mesmo tendo sido pioneira em tecnologias que hoje são usadas pelo próprio ChatGPT, (como, por exemplo, seu experimento LaMDA – Language Model for Dialogue Applications). Além disso, vale ressaltar que existem discussões no âmbito judicial sobre a responsabilidade destas companhias e suas ferramentas de inteligência artificial e o impacto de vieses, bem como utilização e aplicabilidade.
Com a atenção voltada para o novo passo da batalha tecnológica, os números postados pelas companhias e os guidances revisados por conta de um cenário desafiador para 2023 ficaram em segundo plano. E apesar da sinalização do FED de que a taxa de juros no país deve seguir subindo e se manter em patamar elevado por mais tempo, portanto pressionando os balanços das empresas e restringindo a demanda consolidada, as ações das empresas no setor seguem desafiando os valuations e avançam. No ano, o Nasdaq acumula alta de 14%, após recuo de mais de 30% em 2022. No geral, vimos receitas em linha com o consenso para as companhias, com exceção da Apple, mas o LPA das empresas divergiu bastante diante de impactos diversos de custos na cadeia. A Microsoft reportou números estáveis, comprovando sua maior resiliência dentre os pares. Na surpresa positiva, Netflix, com uma visão mais positiva para o ano, principalmente pelas mudanças em seus planos de assinaturas. Destaque também para a Amazon, com números bem acima do esperado. A Alphabet (Google) enfrenta desafios com receitas de propaganda, enquanto ainda lida com o avanço da concorrente Microsoft e o Chat GPT.
A seguir, um resumo da temporada.
Amazon – (AMZ/AMZO34)
A companhia apresentou em seu top line números acima das expectativas, apesar do bottom line menor, concomitante a projeções mais fracas para o próximo trimestre. No segmento de e-commerce, a Amazon reportou uma queda de 2% vs 4T21 diante a maior pressão inflacionária no período e retomada do varejo físico. Seguindo a linha do e-commerce, o segmento de nuvem - Amazon Web Services (AWS) – também ficou abaixo das expectativas com a política de redução de gastos das empresas. Já as receitas de publicidade tiveram um bom desempenho, crescendo 19% em relação ao ano anterior e superando suas principais concorrentes do ramo. Sendo assim, lucro operacional foi de US$ 2,7 bilhões com impacto negativo dos custos de rescisão relacionados às demissões. Por fim, o CEO Andy Jassy sinalizou que a Amazon está buscando maior eficiência em seus custos com a pausa de expansões, cortes de projetos e demissões.
Apple – (AAPL/AAPL34).
Com as vendas de seus principais produtos - iPhone, Mac e wearables – ficando bem abaixo do esperado em todo o globo, a companhia entregou um resultado fraco deixando em cheque a demanda por seus produtos em um ambiente macroeconômico desafiador. O segmento de iPhone reportou um volume de vendas de US$ 65,8 bilhões vs consenso de US$ 68,3 bilhões, afetada diretamente por problema de produção na China. Na venda dos computadores Mac, a companhia reportou uma venda de US$ 7,7 bilhões, muito inferior ao consenso de US$ 9,3 bilhões bem como o resultado de wearables, que teve um resultado 8% inferior ao consenso. Apesar disso, a receitas na venda de Ipad e serviços tiveram uma performance acima do esperado de 29% e 6% respectivamente. Para o futuro, o diretor financeiro Luca Maestri indicou que as vendas no 1T23 ainda devem sofrer com impacto cambial concomitante a maior dificuldade no ramo de publicidade e jogos.
Alphabet (Google) (GOOGL/GOGL34).
No 4T22, a Alphabet, controladora do Google, entregou um resultado aquém das expectativas, tanto no top line quanto no bottom line. A companhia foi prejudicada principalmente pela fraca receita no segmento de publicidade bem como a maior concorrência do TikTok. Sendo assim, a receita foi de US$ 59 bilhões, com o Youtube faturando US$ 7,9 bilhões vs. US$ 8,2 bilhões esperado pelo consenso. Nos custos, o dispêndio foi de US$ 22,5 bilhões impactado, principalmente, pelo crescimento de despesas de pessoal, menores gastos com anúncios e cobranças legais. Posto isso, o resultado líquido foi de US$ 13,6 bilhões demonstrando uma queda de 34% vs o mesmo período de 2021. Daqui para frente a diretora financeira Ruth Pora anunciou que a Alphabet reduzirá o ritmo de contrações, após demitir 6% de seus funcionários no mês passado.
Meta (Facebook) (META/M1TA34).
Após a preocupação de elevados custos no 3T22, a Meta demonstrou maior compromisso com custos no 4T22 concomitante a sinalização de eficiência para o ano de 2023 com planos para reduzir as despesas de construção de data centers e movimentos para abandonar projetos não-cruciais. Outro ponto importante foi o forte resultado por recompra de ações realizadas pela companhia, totalizando US$ 6,91 bilhões em ações no trimestre e US$ 27,93 bilhões no ano. Além disso a companhia já aprovou um novo plano de recompra de US$ 40 bilhões. Com o forte crescimento nas métricas do usuário, a companhia reportou uma receita de US$ 31,3 bilhões no segmento de aplicativos e US$ 727 milhões no segmento e vertentes do metaverso, chegando em uma receita total de US$ 32,2 bilhões, ficando acima do consenso. Por fim, a Meta totalizou um lucro por ação de US$ 1,76 vs US$ 2,27 esperado, impactado por encargos de restruturação e impactos de indenizações da demissão em massa de 11 mil funcionários.
Microsoft (MSFT/MSFT34).
Os resultados da Microsoft trouxeram um sentimento misto ao mercado. Se por um lado, no trimestre, os números apresentaram certa resiliência, por outro a companhia já antecipa que poderá reportar números abaixo do esperado para 2023. O segmento de nuvem superou as expectativas, totalizando em uma receita do segmento de US$ 21,5 bilhões. O negócio de nuvem voltou para os holofotes com a viralização do chatbot ChatGPT, que é uma criação da startup OpenAI, na qual a Microsoft está investindo pesadamente e que requer intensos serviços de computação em nuvem. Além disso, a Azure, segmento de nuvem da Microsoft, encerrou o ano de 2022 com market-share de 30%, uma evolução de 10 p.p em relação a 2018. Por fim, a companhia reportou uma receita liquida de US$ 52,7 bilhões vs uma estimativa média de US$ 52,9 bilhões. No lucro líquido, a Microsoft teve uma queda de 12% para US$ 16,4 bilhões, porém com lucro por ação superando as estimativas, no montante de US$ 2,32 vs US$ 2,29 esperado.
Netflix (NFLX/NFLX34).
A Netflix surpreendeu positivamente ao adicionar 7,66 mm de novos clientes, batendo as expectativas do consenso de 4,57 mm, mesmo com uma velocidade de crescimento mais baixa frente aos anos anteriores. A empresa retoma, após ter ficado sob escrutínio ao perder assinantes na primeira metade de 2022, conforme a concorrência acirrada, com Disney, Apple e Amazon. O alto número de compartilhamento de senhas ainda pesa na tese de investimentos da companhia, no entanto a empresa já lançou recursos neste trimestre para tentar converter mais usuários de senhas em assinantes pagantes, isso depois de anunciar um plano mais barato, porém com propagandas, em novembro do ano passado. No entanto, o streaming estreou grandes lançamentos (Wednesday, Glass Onion e Harry & Meghan) elevando o engajamento e resultando em um crescimento de receita de 1,9% a/a para US$ 7,85 bilhões, em linha com as expectativas. Por fim, o lucro líquido reportado pela companhia foi US$ 55,3 milhões, sendo US$ 0,12 por ação, e abaixo das expectativas, mas as projeções para o ano animaram os investidores, que seguiram apostando no papel.