Bom resultado operacional, apesar de tesouraria e PDD pressionarem
O Bradesco reportou um resultado positivo e acima das nossas expectativas, apesar de um NII prejudicado pelo resultado negativo com tesouraria. Seu lucro líquido foi de R$ 7 bilhões (+3,2% t/t e +2,7% Inter Research) e ROAE de 18,1% (+10 bps t/t e +20 bps Inter Research). O resultado mostrou um bom desempenho na margem com clientes, com spreads em alta, compensando o resultado negativo com tesouraria e a elevação das despesas com PDD, que acompanha o crescimento da carteira, assim como do risco com a inadimplência total - em pessoas físicas já reportando níveis pré-pandemia -, seguradas ainda por menores níveis em grandes empresas. O que também contribuiu para um resultado positivo foram as receitas com serviços, liderada pela renda com cartões, que continua refletindo o maior TPV vindo da retomada da atividade e da maior emissão de cartões. Além disso, o braço segurador do banco mostrou forte recuperação nos resultados com robusto faturamento, principalmente no ramo de vida e previdência, além de uma boa margem operacional e de um resultado financeiro também superior. Por fim, apesar de um aumento nas despesas operacionais, as outras despesas reduziram bem com menor despesa com comercialização de cartões e sinistros.
Os resultados do 1S22 também vão indicando uma tendência de superação do guidance, já ultrapassando o teto no realizado do crescimento da carteira de crédito, da margem com clientes e do resultado com seguros, apenas com as despesas com PDD sinalizando ficar na faixa alta do guidance. Apesar de bons sinais de uma estabilização de um ROAE em 18% em 2022, mantemos nossa recomendação neutra em BBDC4, com preço-alvo FY22 de R$ 26.
NII cai com tesouraria, mas margem com clientes segue em alta com maiores spreads e volume médio. A margem financeira - NII, totalizou R$ 16,4 bilhões mostrando queda de -4,1% t/t (-7,2% Inter Research), direcionada pelo resultado negativo com tesouraria (-R$ 587 milhões) que sofreu com o aumento do CDI nas operações de ALM. Por outro lado, a margem com clientes reportou bons números, totalizando R$ 16,9 bilhões e alta de 7,1% t/t (+3,6% Inter Research) com elevação na taxa média de 30 bps t/t para 10% e da taxa líquida de PDD de +10 bps atingindo 6,8% no 2T22, se beneficiando do maior volume médio e spread no período com um mix de produtos que favorece o desempenho como cartão de crédito, crédito pessoal, consignado e financiamento de veículos. Por outro lado as despesas com PDD pressionaram, mas menos do que esperávamos e totalizaram R$ 5,3 bilhões com avanço de 9,9% t/t (-4,2% Inter Research) desta forma o custo do risco (PDD/carteira de crédito) elevou 20 bps para 2,5% em nível quase próximo a média pré-pandemia.
Crédito avança para pessoas físicas em linhas mais rentáveis, mas inadimplência deteriora para níveis ligeiramente acima do período pré-pandemia no segmento PF. A carteira de crédito Bacen totalizou R$ 632,8 bilhões (+2,3% t/t e +15,8% a/a), com destaque para pessoas físicas que totalizaram R$ 341,6 bilhões representando 39,9% da carteira total do banco, em contínuo avanço, em detrimento da carteira de grandes empresas que se mantém na faixa de 40%. Destacamos o crescimento em Pessoas Físicas nas linhas de cartão de crédito (+7% t/t e +46,4% a/a), crédito pessoal (+4,2% t/t e +20,9% a/a) e consignado (+1,8% t/t e 9,8% a/a) e apesar de mais sensível a alta de juros, a carteira de financiamento imobiliário avançou 2,4% t/t e 17,2% a/a. No ramo de pessoas jurídicas, a carteira totalizou R$ 513,8 bilhões com crescimento de +2,1% t/t e 16,6% a/a, mantendo uma participação de 60,1% da carteira total. Destacamos o crescimento no crédito rural de +11,3% t/t e 32,1% a/a, seguido por Outros com 12,4% t/t e 50,2% a/a, além do financiamento imobiliário avançar 4,2% t/t e 8,2% a/a. A qualidade de crédito mostrou deterioração, direcionada pelo segmento pessoas físicas, e a inad. 90 dias total do banco foi de 3,5% (+30 bps t/t e 130 bps a/a) em linha com níveis observados em 2019, com a inadimplência em pessoas físicas sendo o principal vetor registrando 4,8% (+40 bps t/t e 140 bps a/a), este já acima de níveis pré-pandêmicos. Por outro lado, ajuda a segurar a inadimplência total o ramo de grandes empresas que continua mostrando um baixíssimo indicador, registrando 0,1% (estável t/t e -20 bps a/a). Com isso, o índice de cobertura do banco continua deteriorando, reportando 218,1% no 2T22 (-17,3 p.p. t/t e -106,6 p.p. a/a), um nível levemente abaixo da média histórica do banco.
Cartões direcionam alta em serviços e seguros com fortes números operacionais e financeiros. As receitas com serviços mantiveram bom nível de crescimento mesmo em um ambiente altamente competitivo e reportaram saldo de R$ 9 bilhões (+4,2% t/t e +0,9% Inter Research), com um crescimento esperado e ditado pelo segmento de Rendas de Cartão (R$ 3,5 bilhões +10,3% t/t e +25,3% a/a), dado o forte crescimento no volume transacionado (+10,4% t/t e 32% a/a). Destacamos também o avanço da emissão de cartões nos canais digitais de 70% a/a. Por outro lado, as receitas com conta corrente sofrem leve pressão e permeiam na estabilidade/queda entre os períodos e registrou R$ 1,9 bilhão (-0,3% t/t e -2,8% a/a) com pressão da competição no setor e do Pix em transferências bancárias, mas o banco ainda avança em clientes correntistas, que cresceram 1,6% t/t e 9,9% a/a, totalizando 37,6 milhões. As receitas com seguros foram grande destaque no 2T22 reportando saldo de R$ 3,7 bilhões, com crescimento de 12,8% t/t e 135,5% a/a (+0,9% Inter Research). O bom desempenho veio de forte faturamento no período (+19% a/a) em todos os negócios, com destaque aos ramos de vida e previdência e auto, além de boa performance no resultado financeiro (+18,5% a/a) acompanhando a alta da taxa de juros no mercado. Com isso, o resultado com seguros tem voltado a contribuir para o lucro do Bradesco de maneira mais relevante e voltando aos patamares de 30%, registrando no 2T22 26% (+210 bps t/t).
Despesas operacionais avançam com pessoal e administrativa, mas alivia em outras despesas. As despesas de pessoal mais administrativas totalizaram R$ 11,1 bilhões (+4,5% t/t e +9,2% a/a), avançando principalmente por conta de maiores gastos com pessoal advindo do acordo coletivo ocorrido no ano passado e de maiores despesas com participação em resultados, nos gastos administrativos de maiores investimentos na ampliação da plataforma digital e pelo crescimento no volume de negócios, além de maiores gastos com publicidade e propaganda. Por outro lado, retiraram a pressão das despesas operacionais totais, as outras despesas operacionais, que registraram R$ 468 milhões (-58,1% t/t e -45,5% a/a). No 2T22, o Bradesco contava com 2.926 agências (-0,7% t/t e -7,6% a/a) e seu índice de eficiência operacional mostrou ligeira melhora de 110 bps t/t totalizando 42,4%, refletindo o movimento de crescimento das receitas.
Avanços ESG. No trimestre, o Bradesco atingiu 52% de negócios sustentáveis fomentados pelo banco, totalizando R$ 129 bilhões de uma meta de R$ 250 bilhões até 2025. O Bradesco também foi o primeiro banco brasileiro a mensurar e publicar emissões financiadas da carteira PJ, totalizando 7,3 MtCO2e em 2021, além de atingir cerca de 20% da carteira de crédito PJ comprometida com a descarbonização. Na diversidade, o banco apresentou um quadro de pessoal com 51% composto por mulheres, preenchendo 35% dos cargos de liderança, 28% de pessoas negras, preenchendo 22% dos cargos de liderança. Além disso, a performance do banco nos principais índices e ratings ESG apresenta-se acima da média.