Qual título público comprar hoje?
Na News anterior, falamos sobre o atual cenário da renda fixa. Explicamos sobre o contexto, a situação do governo, as expectativas do mercado e como tudo influencia nas taxas e no mundo da renda fixa.
Mas qual título público comprar? Essa é a questão que nós nos propomos a responder nesta News. É claro que cada investidor possui uma realidade
própria, e pensando nisso apresentaremos algumas alternativas. Não existe uma fórmula secreta ou algum passe de mágica que resolverá a sua vida, mas tentaremos ajudar.
O primeiro passo: a boa e velha Selic
Quando observamos o retorno histórico da Selic, constatamos que existe uma performance bem interessante, na qual vemos um retorno real relevante (retorno real = Selic – Inflação), conforme explicitado na área escura do gráfico. O único momento de retorno real negativo nos últimos 20 anos, período do gráfico em questão, foi durante a pandemia, quando vimos o movimento de cortes de juros pelos bancos centrais globais, incluindo o Bacen, em meio à necessidade de estimular a economia.
Como o Tesouro Selic tem rendimento e liquidez diários, acaba sendo uma opção segura e prática, funcionando como uma excelente alternativa para você remunerar a sua reserva de emergência e o seu caixa.
O caixa pode ser considerada aquela parte da sua carteira destinada ao curto prazo. Seu percentual pode variar, a depender das condições de mercado: 5, 10, 15% possibilitando fazer movimentações, ora aumentando, sendo mais conservador, ora diminuindo, aproveitando as oportunidades do momento. Mas o fato é que a Selic é um bom começo para quem aloca pensando em um horizonte mais curto de tempo.
Agora falando do momento em si, as expectativas são de aumento da Selic entre 2024-25. No gráfico abaixo, demonstramos as expectativas do relatório Focus, que projeta uma alta considerável, o que reforça o retorno interessante neste indexador.
A grande oportunidade do mercado: IPCA+
Em nossa opinião, o IPCA+ é a grande oportunidade de mercado hoje. Sim, eu gosto bastante de demonstrar o que penso através de gráficos, mas eu explico todos, não fique cansado com tantas imagens. No gráfico abaixo, demonstramos o prêmio histórico da NTN-B (como era chamado IPCA+ antigamente), por meio da média dos ativos que têm vencimento superior a 10 anos ao longo do tempo.
A média histórica do IPCA+ é um pouco inferior a 6%, o que já é um excelente retorno. Em termos reais, repetindo, só em termos reais, você dobra o seu investimento a cada 12 anos. Em termos nominais (6% + inflação), considerando uma inflação de 4% no período, você dobra o seu investimento em cerca de 7 anos.
Atualmente o IPCA+ não rende a média, rende bem mais, cerca de 7% dependendo de qual vencimento você comprar. As contas anteriores para dobrar o investimento caem para 10 anos em termos reais e 6,5 anos em termos nominais. Com taxas mais altas, você compra tempo!
Mas qual título comprar? Bom, acredito que agora você já compreendeu que temos taxas bem altas, equivalentes a momentos de estresse de mercado, como a crise financeira de 2008-2009 ou o processo de impeachment de Dilma Roussef em 2016. No entanto, quando olhamos os indicadores macroeconômicos, como PIB, mercado de trabalho e inflação, não podemos dizer que estamos em momento de crise, o que abre uma oportunidade. Com isto em mente, a estratégia seria comprar o título com um longo vencimento, assim o investimento renderia a uma alta taxa por muito tempo.
A nossa recomendação atualmente é a B-45, ou IPCA+ com vencimento em 2045. Mas calma, não se assuste. Primeira regra do investidor, não invista todo o seu patrimônio em um único ativo. Aqui, recomendamos que parte do seu investimento em renda fixa de longo prazo seja para a B45.
Mas por que a B45 em específico? Dos títulos de longo prazo, é o vencimento que apresenta uma taxa muito boa e com uma volatilidade condizente, sim, esses títulos têm marcação a mercado. Assim, como demonstrado nos gráficos abaixo, você estaria munido de um retorno muito bom, por um longo horizonte.
Eu entendo que muitos investidores não possuem um horizonte de investimentos tão longo ou tem receio de comprar um ativo com esse vencimento. O que recomendamos para estes é a B29, então. É um vencimento mais curto, trazendo mais conforto quanto ao prazo, mas sem abrir mão de aproveitar as boas taxas atualmente.
O risco desta opção, no entanto, é quando chegar em 2029. A que taxa você vai reinvestir? Pode ser em taxas mais altas ou iguais as atuais? Sim. Mas bem provavelmente que não será, uma vez que debatemos que as taxas atuais mostram uma oportunidade de momentos de estresse, e janela de oportunidades como estas não se abrem a todo momento. Então, invista com sabedoria.
Pré: oportunidade ou risco?
Por fim, dentre os três principais ativos, ficou faltando o Pré. A taxa de retorno deste é estabelecida no ato da compra, 11%, 12%, 13% ou o que for ao ano. Vale lembrar que este investimento possui marcação a mercado, assim tem uma alta volatilidade em seu preço de venda. Recomendamos uma menor exposição em sua carteira, cerca de 5%.
Dito isto, entendemos que existe uma oportunidade, repetindo, com muita moderação, nos vencimentos curtos, entre 12 meses e no máximo 2 anos. O primeiro gráfico abaixo demonstra a curva futura do pré abrindo contra uma semana, um mês e seis meses atrás. Os vértices curtos podem ser uma boa oportunidade, mas invista cautelosamente, uma vez que os juros podem continuar subindo, o que levaria à correção do valor investido, já que a relação entre valor de face e juros é inversa.
Dica cultural
Alternando entre livros e séries na dica cultural por aqui, Mad Men é uma série muito interessante. A trama se passa na Nova York dos anos 60, contando os bastidores de uma agência de publicidade que vivencia muitas reviravoltas. É possível aprender bastante com o mundo corporativo nesta obra, bem como situações de poder e jogos de interesse. É uma excelente escolha, embora eu não goste muito da última temporada, tem um final intrigante.