Qual é o cenário da renda fixa atualmente?
Neste conteúdo, vamos abordar o cenário da renda fixa brasileira. A ideia é passar pelas principais influências, como a própria atuação do Governo, orçamento, câmbio, inflação, juros e expectativas, uma vez que todo este contexto é de suma importância para os retornos dos ativos.
Sim, o cenário é bem complexo. Tanto as expectativas para inflação como para os juros seguem desancoradas e não param de subir. Os males são muitos, mas as soluções são cada vez mais escarças e distantes.
Com isto, nossa ideia é trazer um pouco de luz para este ambiente bem escuro, sobre onde a Selic irá parar? O que tem preocupado o Bacen?
O cenário da renda fixa atual
Nos últimos três meses o cenário para a renda fixa mudou bastante. Grande parte do mercado não esperava uma resiliência tão elevada da inflação, que permanece próximo dos 4,5% no acumulado 12 meses (lembrando que a meta é de 3%). E não só os números correntes se deterioraram, mas as expectativas também, uma vez que as projeções para o IPCA não param de subir. Para 2025, já espera-se inflação em 4%, segundo o Focus.
Sim, a economia brasileira tem tido bom desempenho. O PIB segue forte e o desemprego segue baixo, as exportações estão em bom patamar e o varejo tem evoluído também. Porém, grande parte deste crescimento é explicado pelo impulso fiscal, ou seja, o Governo tem gastado mais.
É ai que temos um problema. O fato de gastar mais em si, em termos macroeconômicos, não seria o mais agravante, mas sim as contas não estarem fechando, gerando então o chamado déficit fiscal (gastando mais do que arrecadando). A forma de solucionar esse problema no curto prazo pode ser via emissão de dívida, mas no longo prazo essa solução acaba não sendo sustentável, podendo tornar o país insolvente.
Mas como o mercado responde diante desta situação?
Uma das primeiras variáveis a sofrer pressão é o câmbio. O real se desvaloriza ante o dólar, ou seja, precisa de mais reais para comprar o mesmo US$ 1. No momento que vos escrevo este texto, a cotação está próxima dos R$5,70/US$, uma alta de quase 20% só em 2024. As expectativas de câmbio também não param de subir, confirmando o cenário de deterioração.
Outra importante variável que responde nesta situação é o juro futuro. Esta é fortemente afetada pelas expectativas, ou seja, em um cenário que o Governo tem um desempenho abaixo do que o mercado espera, a ponto de não se observar melhoras em um horizonte médio de tempo, os juros futuros se elevam. O capital de longo prazo para investir fica mais caro, afetando então a dinâmica macroeconômica.
Nos gráficos a seguir apresentamos a curva de juros da última quarta-feira, uma semana, um mês e seis meses atras. É visível a elevação da curva, com o mercado pedindo mais e mais juros. A curva NTN-B (IPCA+) e a curva pré seguem a mesma toada, uma elevação considerável em um curto espaço de tempo. O que entendemos é que o mercado tem cobrado uma diligência maior do Governo quanto ao orçamento e quer observar, na prática, os resultados se estabilizando.
O banco central também reage diante desta situação. Ele observa tanto a inflação corrente, uma vez que possui a meta de 3%, como também precisa se atentar às expectativas, para não ter o processo de desancoragem da inflação. Estamos vivendo este processo atualmente, uma vez que as expectativas estão acima da meta.
Uma das soluções do Bacen é aumentar a taxa básica de juros (Selic). Com isto ele consegue desacelerar a economia, derrubando os investimentos, desincentivando a atividade e influenciando na inflação, tanto de curto quanto de longo prazo. Mas com um preço a ser pago, impacto negativo no PIB.
O gráfico abaixo elucida bem o dilema. Existe o histórico da Selic, até o aumento de 0,5% da última reunião. E para o futuro? A curva em laranja mostra as expectativas do mercado sobre os juros futuros, precificando que o Bacen vai elevar muito a taxa de juros até 2026. A inferência é que o mercado tem cobrado uma resposta melhor dos números do orçamento do governo. Em marrom temos a projeção Focus, que são a expectativas dos economistas dos principais bancos do país.
Assim, o cenário tem sido bastante incerto, com impactos consideráveis nos juros, levando a muita volatilidade. Os ativos de renda fixa também não têm tido excelente performance, mas há esperanças de dias melhores.
Mas as perguntas que ficam são: Qual título público comprar? Qual a melhor estratégia a se fazer? Responderemos isso em nossa News de Renda Fixa, na quarta-feira!
Dica cultural
Nesta semana voltamos a indicar Howard Marks, com uma de suas obras mais populares: O mais importante para o investidor. É talvez um dos investidores mais brilhantes de todos os tempos, e felizmente escreve bastante, com diversos memos disponíveis gratuitamente. Mas nesta leitura, o autor explora ciclos de mercado, avaliação de risco, preço justo de ativos e técnicas por trás dos investimentos. Acredito que vale muito aprender com a experiência do Howard.