O cenário para a renda fixa mudou?
Meu amigo, uma semaninha de férias... uma semaninha, e quando eu volto os juros futuros no Brasil superam os 14%, o prêmio do IPCA+ acima do 7,3%, dólar em R$ 6 e os últimos dados de inflação ainda acima das expectativas. Mas o que aconteceu?
Com todas esta mudanças de projeções e expectativas, seria o momento de revisitar sua carteira de renda fixa? E, falando em renda fixa, vamos entender o retorno dessa classe de ativos no ano?
Uma das sugestões de tema que recebi no meu e-mail foi falar sobre uma atualização de cenário. Embora não seja uma tarefa tão fácil tratar deste assunto em uma única News, acredito que consegui entregar um bom resumo.
Boa leitura!
O Governo e a expectativas
O tão aguardado pacote de cortes de gastos foi anunciado pelo Governo, mas decepcionou as expectativas de mercado, conforme comentado também pela nossa economista-chefe, Rafaela Vitoria, neste relatório: medidas insuficientes mantem risco fiscal no radar. Vale a pena a leitura.
Em resumo, o pacote que poderia sinalizar que o Governo tinha maior preocupação com a austeridade fiscal, objetivando estabilização das contas públicas e, por consequência, estabilização da dívida brasileira, apresentou medidas insuficientes para o biênio 2025-26.
Embora os cortes visem uma economia de R$ 30 bi no próximo ano e R$ 41 bi no ano seguinte, o calcanhar de Aquiles foi a antecipação da isenção de IRPF até R$ 5 mil reais, que pode limitar as medidas de economia propostas pelo governo, mesmo com a contraproposta de taxação sobre aqueles que ganham acima de R$ 50 mil.
De qualquer maneira, o ponto que ainda permanece é o déficit dos resultados, piorando a trajetória da divida interna.
Como o mercado é dinâmico, diversas outras variáveis também são afetadas, tanto os números correntes quanto as expectativas. Com a precificação de uma não contenção de gastos, as expectativa de inflação não param de subir, o que tem deixado muitos investidores e analistas em alerta. Vide o gráfico abaixo, destacando as projeções de inflação do Focus:
O impacto nos juros
Aqui faremos (i) um recorte dos juros futuros, (ii) da projeção dos economistas e (iii) uma junção de ambos. Conforme falado, com a frustação das expectativas do mercado com o pacote de cortes, os juros futuros tiveram mais uma alta significativa, com vértices curtos superando os 14%, patamar que relembra os momentos de crise vivenciados em 2014-15.
O impacto desta escalonada é considerável na economia, e preocupante, uma vez que pode desacelerar os investimentos, a atividade e outros. Mas acaba sendo a forma que o mercado tem reagido ao aumento de gastos do Governo, refletindo temores de uma inflação maior no futuro.
Já a mediana das projeções da Selic dos economistas dos principais bancos do país, via relatório Focus, não para de subir. Conforme o último boletim disponível, para 2025, as projeções já mostram uma Selic em 12,63%. Um patamar bem elevado e uma situação cada vez mais difícil.
Com um cenário de muitas incertezas sobre os próximos passado do governo nos próximos dois anos, até as eleições de 2026, existe uma divergência considerável no mercado. Os juros futuros têm precificado um patamar bem mais elevado do que os economistas, vide o gráfico a seguir.
A constatação que fica é de um cenário em aberto, ainda mais desafiador e mais volátil. O que por um lado pode representar perdas no curto prazo, no longo surgem as oportunidades...
E o que aconteceu os ativos de renda fixa?
Se você não é familiarizado com o conceito de marcação a mercado, leia este nosso conteúdo.
De toda forma, os ativos IPCA+ têm amargado uma marcação negativa nos últimos tempos. Os que possuem duration mais longa, representados pelo índice IMAB5+ da Anbima, tem um retorno de -4,1% no ano, bem aquém dos quase 10% do acumulado da Selic. Me perdoe repetir a tabela, mas era só para que não precisasse voltar a primeira página.
Os ativos pré, representados pelo índice IRF, também têm desempenhado abaixo da Selic em várias janelas de curto prazo. Situação explicada pelo aumento dos juros e marcação negativa. Mas vale a pena fazer algum tipo de mudança em nossa recomendação principal?
Qual título público comprar no atual momento?
Se vocês acharem que é valido, podemos esmiuçar este tema dos juros em si e quais oportunidades aproveitar com os títulos públicos na próxima News, comentem no meu post no nosso fórum.
De qualquer maneira, não vemos motivos para alteração nas nossas sugestões de alocação para este momento. O IPCA+ é a grande oportunidade do mercado, e “o que era bom, ficou melhor ainda”, sendo cotado a 7,3% ou mais. A nossa principal recomendação é o vencimento de 2045. Com uma duration mais longa, o seu investimento pode render mais por mais tempo, embora no curto prazo sofra com a marcação a mercado. Portanto, importante entender que esta recomendação é adequada para horizontes mais longos de investimento.
Para os investidores que não querem se expor a tanto tempo, a sugestão fica para a 2029. É um vencimento mais curto, mas com taxa boa. Porém, ressaltamos aqui que no vencimento, lá em 2029, pode não ser possível reinvestir o montante resgatado nas mesmas taxas de hoje. Fica a dica!
Quanto aos ativos pré também seguimos com o mesmo discurso, preferimos os que têm um vencimento de curto prazo, entre 12 e 24 meses, com baixa exposição de sua carteira, no máximo 5%.
Dica cultural
Como dito, ficaremos alternando entre livros e séries e a dica cultural desta semana vai para uma polêmica série americana, House Of Cards. Apesar da última temporada não ter tido aquele apelo todo, a trama se desenvolve sobre o cenário político nos EUA e seus bastidores. É cheia de reviravoltas, segredos e desentendimentos. Mas demonstra bem como o jogo politico é...