IPCA+ é imbatível no curto e no longo prazo?
Nas duas últimas News, falamos sobre o atual cenário para a renda fixa e qual título público comprar, um pano de fundo do nosso contexto e como se posicionar. Em resumo, destacamos que o IPCA+ é o grande investimento da vez, com taxas bem elevadas, sendo poucas janelas nas quais se é possível aproveitá-las.
Mas o IPCA+ é imbatível mesmo? Tanto no curto quanto no longo prazo? Na News desta semana tratamos de responder tais questões. Como é um titulo que chamamos de híbrido, existe uma parte pós-fixada, que é a inflação, mas também uma parte pré-fixada, o juro real, e que é passível de marcação a mercado, sofrendo então com volatilidade.
Então, a pergunta que fica é: é imbatível?
Antes de tudo, o que é a marcação a mercado?
Esse é um conceito muito importante no mundo da renda fixa. Ao compreender tal conceito você poderá dominar melhor as estratégias de investimento em renda fixa.
Quando falamos em marcação a mercado, estamos nos referindo à prática de atualizar o valor de um ativo financeiro conforme os preços que estão sendo praticados no momento. Isso significa que, a cada dia ou a cada momento em que se deseja avaliar o ativo, seu valor é ajustado para refletir o que ele realmente valeria se fosse vendido naquele instante.
Complicou? Vamos colocar de forma mais simples então. Os títulos de renda fixa possuem o Preço Unitário (PU), que nada mais é que o preço que cada uma unidade vale naquele momento. Mas esse PU varia? Sim! Caso o titulo tenha uma taxa pré-fixada e como os juros variam, o seu PU também vai variar.
Como os juros oscilam constantemente, a cada nova informação, a cada expectativa, a cada movimento do Governo ou mercado, o PU do seu investimento também vai variar.
A relação entre PU e juros é inversa. Quando os juros sobem o PU cai, quando os juros caem o PU sobe. À primeira vista isto parece contraintuitivo, mas a ideia é simples, quando os juros sobem o custo do dinheiro fica mais caro, então o PU reflete isto, ficando mais barato.
Vamos a um exemplo em números para encerar o assunto de vez. Imagine que você comprou um título que vencerá em 1 ano. A taxa de juros é de 10%. Você receberá R$ 1.000 no vencimento, uma vez que comprou o investimento por R$ 909,09. Mas vamos supor que os juros subiram logo depois do seu investimento, indo para 20% a.a. Neste caso, o seu PU iria para R$ 833,33, sofrendo uma marcação a mercado negativa. Supondo o contrario, os juros caindo para 5%, o seu PU seria de R$ 952,38, sofrendo uma marcação positiva.
Com tais exemplos, você ganhou ou perdeu dinheiro? Depende! Caso precise ou desfaça do investimento, no primeiro caso perderia dinheiro e no segundo ganharia. Mas, caso levasse o seu investimento até o vencimento receberia os 10% ao ano.
De qualquer forma, a estratégia correta pode ser muito interessante, acelerando os seus ganhos.
No curto prazo, a dor da marcação a mercado.
Compreendido o conceito de marcação a mercado, você já deve ter percebido que existem dois lados de uma mesma moeda, a marcação positiva e a negativa. No momento atual, com os juros subindo, os títulos com taxa pré ou parcialmente pré (IPCA+ é um exemplo de parcialmente pré) estão sofrendo a marcação negativa, dado a escalada de juros no país.
Assim, quando comparamos o retorno do IPCA+ no curto prazo, o investidor tem se decepcionado um pouco. O IMA-B, índice Anbima que mede o retorno dos IPCA+, tem uma performance de 1,2% em 2024, enquanto o IMA-B5+, que considera com prazo de vencimento superior a 5 anos, rende -2,9% no mesmo período, muito aquém da Selic, que acumula 9,3%. Vide a tabela na primeira página, ou os gráficos abaixo considerando 12 meses. Lembrando que quanto maior o vencimento, maior tende a ser a volatilidade.
Calma, não se assuste com o gráfico abaixo! Vamos te explicar tudo! É uma análise bem interessante. Pegamos o retorno dos diversos índices IMA-B, ao longo de 12 meses, e subtraímos pela Selic, também sua taxa de 12 meses. Assim, os pontos acima de zero indicam o retorno do IPCA+ superior à Selic, abaixo de zero é o retorno inferior à Selic.
É perceptível que em várias mini-janelas de tempo, considerando esse período curto de 12 meses, a Selic tem uma performance melhor, em outros períodos o IPCA+. Isso corrobora dois pontos: 1) mantenha a sua carteira diversificada; 2) existe bastante volatilidade no curto prazo.
Desta forma, os investidores de IPCA+ estão passando um “calor” no curto prazo, em especial no último ano, mas a questão que fica é:
E no longo prazo?
No longo prazo, IPCA+ é imbatível?
Apesar deste “calor” no curto prazo, o jogo se inverte em períodos mais longos de forma considerável. Ampliando a janela de horizonte um pouco, agora 60 meses, já podemos perceber o poder deste título. No estudo que fizemos transposto no gráfico abaixo, pegamos o IPCA ao longo do tempo, consideramos 7%, taxa de retorno próxima à atual, e acumulamos o retorno nesta janela de 5 anos.
Como a realidade da economia brasileira era bem diferente no inicio do século, passando por amplas reformas, diminuição da dívida, entre outros, a Selic superava os 20% ao ano, tornando-a bem mais atrativa do que muitos investimentos. Agora com outra dinâmica, mesmo com o patamar de juros atual, o IPCA+ tende a performar melhor em janela de horizonte maior.
Reforçando mais ainda este ponto, acumulamos o retorno do IMA-B desde 2018, bem como a Selic, comprovando agora o ponto de que no longo prazo a performance é muito superior. Devido ainda às altas taxas de inflação no Brasil e os prêmios de juros também elevados, o IMA-B acaba sendo uma opção muito rentável, principalmente alongando a janela.
Por fim, destacamos um titulo de IPCA+ que foi emitido em 2004 e venceu recentemente em agosto de 2024. O retorno foi de incríveis 1.337%, quase 14% a.a., contra 717% do CDI (que reflete a Selic) e 315% da inflação. Ter aplicado em 2004 e só vendido no vencimento, 20 anos de aplicação, você teria multiplicado seu capital por 14 vezes.
A conclusão em que chegamos é que sim, existe bastante volatilidade no IPCA+ no curto prazo, mas no longo prazo ele se torna imbatível. Desta forma, mantenha uma carteira diversificada, com IPCA+, Selic, Pré, fundos, ações e outros ativos, de acordo com seu perfil de investidor.
Dica cultural
A dica cultural desta semana vai para o livro Cisne Negro do grande Nassim Taleb. É uma obra muito interessante, que abriu a minha cabeça e pode te ajudar a entender que as incertezas e eventos raros moldam o mundo. O imprevisível é uma variável muito complexa, que torna a vida, o mercado e outras coisas incertas, convidando-o a repensar em sua estratégias.