NTN-B: a bola da vez?
Os últimos acontecimentos elevaram as incertezas no mercado de juros e adicionaram volatilidade também ao mercado brasileiro. Internamente, o orçamento do governo volta ao radar, em meio às incertezas quanto à elevação dos gastos públicos e as dificuldades das negociações do Governo com o Congresso para aprovação de pautas importantes para o aumento da arrecadação. Outro aspecto de importante acompanhamento é a inflação. O dado mais recente de março mostrou uma alta de 0,16% no mês e 3,93% no acumulado de 12 meses, abaixo do esperado, podendo trazer certo alívio aos questionamentos levantados pelo Banco Central na última ata, mantendo a perspectiva de mesmo ritmo de cortes na Selic para as próximas reuniões.
Por outro lado, a curva de juros nos Estados Unidos começou a apresentar viés de alta novamente, com a parte longa da curva (10 anos) próximo dos 5% a.a., o que impacta diretamente as curvas brasileiras. O ritmo persistente da inflação neste início de ano, com o CPI (inflação ao consumidor) de março vindo acima das expectativas elevou as incertezas do mercado quanto ao apetite do FED para cortar os juros ainda este ano. De fato, a economia norte-americana demonstra resiliência, assim como o mercado de trabalho que ainda sinaliza condições apertadas, apesar da desaceleração.
Assim, o cenário da trajetória dos juros brasileiros tem ficado cada vez mais incerto. Observa-se uma ampliação na curva DI, que seria a dinâmica do mercado, versus a projeção Focus, expectativa dos econômicas. Enquanto os economistas veem espaço para mais cortes, o mercado ainda não precifica essa possibilidade.
Quando observamos os juros reais das NTN-Bs, precisamos levar em consideração as distorções da média histórica, dado que o cenário anterior a 2010 apresentava um patamar mais elevado em razão da crise de 2009. O prêmio real atual está acima da média, mesmo considerando as distorções anteriores, o que sugere um bom patamar de compra, até mesmo para os títulos mais longos, acima de 10 anos, que estão sendo precificados em IPCA +6%, aproximadamente. No entanto, ressaltamos que, assim como a maioria dos investimentos de longo prazo, a volatilidade acaba sendo maior.
Em termos de retorno, é de se esperar que IPCA+6% seja algo difícil de ser batido no longo prazo. Mas no gráfico abaixo, observamos que o IMA-B, índice da Anbima que captura a performance das NTN-Bs, supera a performance de outros ativos em várias janelas diferentes.
Vale sempre lembrar que proteção contra a inflação é um tema que passa despercebido para a maioria dos investidores. Grande parte deles aloca seu patrimônio em ativos que rendem juros reais baixíssimos, como a poupança. Ao fazer isso, esses investidores têm a ilusão de que seu patrimônio está crescendo, afinal, os juros estão sendo pagos. Entretanto, a pessoa que não se protege do efeito corrosivo da inflação pode ver seu patrimônio ser dilapidado, ficando mais pobre em termos reais, diminuindo sua capacidade de consumo. Por esta razão, em nosso relatório de alocação estratégica, sugerimos sempre uma parte da alocação em Renda Fixa indexada à inflação, sendo essa, desde o ano passado, nossa principal sugestão, considerando o cenário ainda incerto de preços e os prêmios oferecidos atualmente.