Macroeconomia


Câmbio | 11.Nov.24

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Gustavo Menezes

Publicado 11/nov2 min de leitura

Dólar recua e fecha a semana em R$5,69 com Trump eleito, FOMC e aguardo do pacote fiscal

O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,69, baixa de 1,68% ao longo da semana. O câmbio em novembro conta com baixa de 3,07%, apreciando 15,72% no acumulado do ano.

A semana começou com forte baixa do dólar, compensando parte da forte alta vista na sexta anterior, causada principalmente por dados de pesquisas favoráveis à Harris, com alívio adicional proporcionado por notícia de que Haddad agilizaria o preparo do anúncio do pacote fiscal.

O momento de baixa continuou na terça e, ainda, na quarta, tendo sido suficientemente forte para anular a forte alta na abertura que se seguiu à notícia de que Trump será o próximo presidente dos EUA. Assim, a motivação dessa sequência de quedas tem um componente predominante de “stop loss” dos agentes de mercado, onde movimentos bruscos no preço forçaram o fechamento de posições contra o real e geraram pressão de venda de dólares.

De todo modo, vimos forte apreciação global do dólar no dia dos resultados, mostrando que ao mesmo tempo que a eleição de Trump representa um desafio para o câmbio brasileiro, temos um prêmio de risco fiscal relevante que torna os movimentos da nossa moeda descolados dos demais pares emergentes. Prova disso é a volatilidade do câmbio no pregão de quinta, motivada por informações preliminares acerca da “temperatura” da reunião organizada no Planalto entre Lula e ministros para o pacote de gastos.

A promessa de que uma proposta do pacote seria entregue ainda nessa quinta-feira não foi cumprida, adicionando ansiedade por parte do mercado na sexta de que os cortes não serão tão grandes quanto inicialmente prometidos. Por outro lado, a demora e a sequência de reuniões organizadas com Lula também indicam a possibilidade de que o governo está levando a pauta a sério, e que o resultado a ser anunciado não será apenas paliativo, visando estabilizar o mercado de câmbio. Vale ressaltar que, conforme relatamos na nossa cobertura de política fiscal, o governo deve contingenciar ou empoçar despesas na ordem de R$ 20 bilhões para cumprir a meta fiscal ainda deste ano, sendo que o desafio não termina neste patamar, dada a trajetória crescente de endividamento.

Expectativas de mercado

A apuração do vencedor deste ciclo eleitoral foi bem mais rápida do que a que vimos na eleição americana de 2020; por consequência, a volatilidade nos vértices mais curtos foi reduzida repentinamente para níveis mais usuais. De todo modo, notamos que a volatilidade esperada pelo mercado ainda difere do que teríamos em “tempos normais” em duas maneiras: o nível segue maior do que o usual, e a inclinação da curva sugere que essa incerteza adicional está concentrada nos prazos mais curtos, ao invés dos mais longos. As possíveis razões, além do pacote fiscal, estão associadas à política externa de Trump que é menos previsível e, na média, mais hostil para emergentes. Ainda que o próximo governo comece no dia 20/01/2025, nos mantemos atentos às possíveis divulgações de políticas com o comitê de transição presidencial, que poderão impactar os mercados.

Apesar do resultado do câmbio da semana ter sido uma surpresa, a performance do real brasileiro frente aos demais pares emergentes em conjunto com a queda abrupta do risco-país indica uma antecipação das expectativas do mercado frente ao anúncio do pacote fiscal, que tem motivado volatilidade nas últimas semanas. Isso motiva um ponto de cautela visto que uma frustração no tamanho do corte de gastos deverá motivar outra alta no câmbio.


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