Macroeconomia


Câmbio | 09.Dez.24

gustavo

Gustavo Menezes

Publicado 09/dez2 min de leitura

Dólar fecha em R$6,09 com payroll, PIB e discurso tarifário

O dólar fechou a última sexta-feira em R$6,09, alta de 1,93% ao longo da semana, acumulando variação de 0,31% no mês e de 23,78% no ano.

Após a volatilidade na semana anterior, a atividade do câmbio na última semana começou mais benigna, com a abertura de segunda sendo influenciada pela digestão das repercussões pós-pacote fiscal e pela apreciação global do dólar motivada por novo discurso tarifário de Trump, desta vez utilizado contra os emergentes que compõem os Brics. Houve também notícias fiscais desfavoráveis na margem, com bloqueio orçamentário menor que o esperado.

O resultado mais forte no PIB de terça, mesmo que dentro das nossas projeções, motivou apostas mais agressivas na curva de juros e levou o dólar próximo ao nível de R$6,10 novamente, motivando anúncio de intervenção do BC via swaps no meio do dia, que acabou amenizando o movimento de alta ao longo do dia.

O cenário externo também dominou o pregão de quinta, marcado por apostas mais agressivas de cortes de juros por parte do Fedem meio à prévia de emprego da ADP mais amena, além de reações positivas quanto à aceleração da tramitação do pacote fiscal, que mitiga riscos de maior diluição das medidas já anunciadas até o sancionamento.

Em seguimento, os movimentos maiores vistos na quinta continuaram no fim da semana. Apesar da prévia amena da ADP, o payroll teve um qualitativo misto, com alta no desemprego e queda na participação misturados com salários e contratação mais fortes que o esperado. Isso ajudou a impulsionar o dólar frente a demais moedas emergentes, gerando pressão no câmbio brasileiro, apesar da reação ter sido desproporcional frente ao movimento externo. Entendemos que, além de fatores técnicos, o estresse fiscal continuado num pregão marcado por abertura moderada na curva de juros contribuiu para a maior sensibilidade da moeda brasileira frente à performance dos demais emergentes.

Expectativas de mercado

Notamos redução da volatilidade esperada em comparação com o último relatório, com uma elevação no vértice de dois meses possivelmente sinalizando o período de posse de Trump. Esse efeito, bem como o que vimos na volatilidade do período eleitoral, deve ser acompanhado de perto, mas lembramos que o processo de transição presidencial em si pode gerar surpresas para o câmbio antes da implementação de quaisquer medidas de fato. Adicionalmente, os trâmites do pacote fiscal no Congresso foram acelerados, mas o desfecho ainda não ocorreu e está sujeito a possíveis alterações, com consequências para as expectativas de mercado.

Em tempo, estimamos que o rali recente do dólar motivado por pautas comerciais americanas não deve ter efeito duradouro em si: apesar do frequente uso das ameaças tarifárias por parte da próxima administração presidencial, enfatizamos que as reações do mercado aparentam sobrestimar o poder de barganha que o país tem, sobretudo num contexto onde a China tomou o posto de principal parceiro de múltiplos países emergentes e onde americanos dependem mais de insumos estrangeiros baratos para aliviar as preocupações de inflação em meio à expectativas pouco ancoradas e consumo aquecido.

Denota-se, também, a divergência vista na precificação dos ativos locais com a percepção de risco fiscal dos estrangeiros por meio do CDS, que está substancialmente abaixo do patamar visto no período de estresse fiscal observado em 2015-16, quando as discussões de dominância fiscal também dominavam a pauta do mercado. O desconto da moeda brasileira frente aos pares brasileiros também segue abrindo espaço para uma perspectiva de reversão ao menos parcial da depreciação vista no real até agora.


Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail