Atividade mantém robustez em julho
Dos três setores pesquisados, apenas a produção industrial recuou, ainda assim, foi um desempenho bastante influenciado pelo comportamento das indústrias extrativas, que por sua vez foram influenciadas pela queda nos preços das commodities. Tanto o volume de serviços, quanto o volume de varejo surpreenderam positivamente e mantém tendência de crescimento dos setores. Por outro lado, há sinais de que a demanda não é tão dinâmica como aparenta, com o desempenho do setor de serviços mais ligada à atividades de oferta de serviços e o varejo mais dependente do desempenho de bens de consumo essenciais. Ainda assim, dado o desempenho surpreendente do PIB no 2o trimestre, antecipamos um crescimento para 2024 de 2,8%. Com os resultados setoriais, esperamos que o IBC-Br indique um crescimento de 0,20% da economia brasileira em julho.
Indústria recua 1,4% em julho
A produção industrial no Brasil teve queda de 1,4% em julho, acima da expectativa de -1%. Esse recuo vem do efeito base negativo após forte expansão no mês anterior, revisada de 4,1% para 4,3%, devido à retomada das atividades paralisadas no RS. Apesar da queda no mês, o acumulado em 12 meses mostra aceleração avançando 2,2% e, comparado a julho de 2023, a indústria cresceu 6,1%. O setor industrial tem tido uma alta confiança e acumula crescimento de 3,1% no ano, se destacando no PIB do 2o trimestre.
O índice de difusão aumentou de 64% para 72%, com predomínio de taxas positivas em 18 das 25 atividades pesquisadas. Os principais impactos negativos foram da indústria alimentícia (-3,8%), derivados de petróleo (-3,9%) e indústria extrativa (-2,4%), as atividades de maior peso no índice, que seguem sendo as maiores influências positivas nos últimos 12 meses. Já do lado positivo a maior contribuição veio de veículos, com forte expansão de 12%, em linha com os dados de produção da Anfavea. Os veículos foram o principal impacto na comparação ano contra ano, com avanço de 26,8%.
Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo semi e não duráveis recuaram 3,1% no mês e bens intermediários -0,3%. Já os bens de capital e de consumo duráveis tiveram variações positivas de 2,5% e 9,1%, respectivamente. O grupo de bens de capital é o único no campo negativo nos últimos 12 meses, mas em tendência de recuperação com perdas cada vez menores, refletindo no desemprenho de 2,1% da FBCF no PIB do 2o trimestre, o maior destaque considerando a ótica da demanda. Todas as categorias apresentam alta no ano e crescem a uma taxa anual acima da média histórica.
Serviços crescem 1,2%
O volume de serviços surpreendeu e avançou 1,2% em julho, bem acima da expectativa que era de estabilidade, renovando o ponto mais alto de sua série histórica. No acumulado em 12 meses, o volume de serviços acelerou para 0,9%, revertendo tendência de desaceleração iniciada em abril. No ano, o setor cresce 1,8%.
Em julho, três das cinco atividades pesquisadas apresentaram variação positiva. O grande destaque ficou por conta dos serviços profissionais, que avançou 4,2%, seguido dos serviços de informação e comunicação, com alta de 2,2%. Os destaques negativos foram os serviços de transportes, com recuo de 1,5% e os serviços prestados às famílias, com recuo de 0,2%. Portanto, vemos mais uma vez os setores mais associados à oferta ditando o ritmo do setor, enquanto a demanda, representada pelos serviços às famílias, continua a dar sinais de enfraquecimento. No acumulado em 12 meses, os serviços às famílias desacelerou para 3,9%, menor valor desde setembro de 2021. Além disso, o IBGE comunicou que volume dos serviços profissionais estavam sendo subreportados, pois uma grande empresa de publicidade estava informando receitas subestimadas, o que foi corrigida para o mês de julho, sem revisão sobre a série histórica. Esse erro explica grande parte da surpresa positiva de julho.
Mesmo com o bom resultado do mês, não devemos observar pressões inflacionárias de serviços, tendo em vista a demanda enfraquecida e essa questão da subestimação das receitas dos serviços profissionais. Além disso, com a iminente alta na Selic em setembro e o menor impulso fiscal no 2o semestre irá contribuir para conter a demanda ainda mais, aliviando possíveis pressões inflacionárias.
Comércio varejista avança 0,6%
O volume de varejo cresceu 0,6% em julho, levemente acima do crescimento esperado de 0,5%. Na comparação com junho de 2023, o volume de vendas avançou 4,4%, 14a alta consecutiva nessa métrica. No ano o setor já cresce 5,1%, enquanto nos últimos 12 meses o crescimento é de 3,7%. O varejo ampliado avançou 0,1%, também acima do esperado, que era um recuo de 0,5%, e mantém tendência de crescimento observada ao longo desse ano.
Das oito atividades pesquisadas, seis apresentaram alta. Os destaques positivos foram supermercados, com alta de 1,7% e maior impacto do índice, e equipamentos para escritório, com alta de 2,2%, acelerando frente a junho quando cresceu 1,6%. Na sequência, destacamos vestuário e móveis e eletrodomésticos, com alta de 1,8% e 1,4%, respectivamente. Os destaques negativos ficaram por conta de combustíveis e lubrificantes e artigos farmacêuticos, com recuos de 1,1% e 1,5%, respectivamente. Finalmente, as vendas de veículos avançaram 3,8% no mês, mantendo forte tendência de crescimento, que no ano já acumula alta de 13,4%.
Os dados de varejo continuam a indicar um forte dinamismo do setor, que nesse ano apresentou crescimento em seis dos sete meses já divulgados e é a grande surpresa em termos de atividade econômica em 2024. O bom desempenho do mercado de trabalho, a inflação controlada, a expansão fiscal observada no 1o semestre desse ano e o bom desempenho do crédito às famílias ajudam a explicar tal desempenho. Entretanto, há de se notar que o desempenho do setor nesse ano tem sido amplamente baseado no consumo de bens essenciais, com as vendas em supermercados e de produtos farmacêuticos respondendo por 87% do crescimento observado no ano, até o momento.
Para o restante do semestre esperamos uma acomodação do crescimento do setor devido ao menor impulso fiscal e ao aumento do aperto monetário, tendo em vista a expectativa do aumento da Selic a partir da próxima semana, o que deve contribuir para um aperto nas condições de crédito ao consumidor.