Dólar fecha em R$6,06 com Copom, intervenção do BC e risco fiscal em foco
O dólar fechou a última sexta-feira em R$6,06, baixa de 0,50% ao longo da semana, acumulando variação de -0,19% no mês e de 23,17% no ano. Apesar da sessão mais calma na segunda, houveram percepções de melhora de risco fiscal por parte de participantes do mercado no início do pregão de terça e no final do pregão de quarta que, apesar de terem apreciado a moeda brasileira, foram parcialmente devolvidas na quinta e sexta feira conforme a divulgação sucessiva de fatos associados ao potencial de diluição do pacote fiscal, que está atualmente tramitando no Congresso.
Em conjunto, vimos também um comunicado duro por parte do Copom na noite de quarta, que anunciou 100 p.b. de alta da Selic, com mais outros 200 p.b. de alta sinalizados até a reunião de março, em conjunto com o anúncio de US$4bi em leilões de linha, visando controlar a elevada volatilidade que temos visto recentemente. A reação imediata por parte do mercado foi positiva, com redução nos juros de longo prazo e forte queda do dólar, que chegou a acumular 20 centavos de queda entre as aberturas de quarta e quinta. Por conta desse movimento brusco, observou-se forte fluxo de compra de dólar na quinta, que acabou por anular completamente os efeitos de credibilidade na política monetária que observamos até então.
Visando, novamente, combater a escalada do câmbio, o BC anunciou um leilão à vista durante a sessão de sexta, que possui um perfil mais agressivo a despeito do volume menor, efetivamente reduzindo o volume de reservas internacionais. Após um período prolongado marcado por ausência de intervenções a despeito do câmbio volátil, enxergamos a possibilidade de que o Banco Central está “testando as águas” do mercado para mensurar a efetividade destas medidas no câmbio, visando dar fortes choques na cotação que poderiam liquidar as posições de institucionais alavancados contra o real.
Porém, o efeito destas medidas foi limitado e não se verificou a presença de apreciação adicional em seguimento aos leilões, reforçando o ponto de que a pressão contra o real está sendo motivada por uma falta de apetite geral, também observada nos títulos do governo, tendência que persistirá enquanto a questão fiscal não for devidamente equacionada.
Expectativas de mercado
Um achado importante desta semana foi a abertura da volatilidade implícita para os prazos mais longos, em contraste com o que havíamos notado na semana passada, possível resultado dos movimentos voláteis que temos visto com as intervenções cambiais do BC e que podem estar sendo precificadas como mais frequentes pelos participantes de mercado. Adicionalmente, a protuberância para o prazo de dois meses continua, e apesar de possivelmente benigna, realçamos que a continuidade da última observação deste evento culminou numa semana bastante volátil para o câmbio.
Destacamos, ainda, a contínua abertura da curva de juros prefixados que ocorre em conjunto com um juro real que se mantém relativamente contido. Essa informação sinaliza uma alta inflação implícita nos títulos de dívida, e que se situa acima das projeções de IPCA previstas no Focus. Isso pode ser visto como uma percepção aumentada de prêmios de risco por parte de participantes domésticos do mercado, que está desconectada da percepção de participantes estrangeiros como visto pelo CDS. Entendemos que essa assimetria deve se resolver com a eventual redução de prêmios de risco domésticos, que pode servir como um “gatilho” para a entrada de investidores estrangeiros que são tipicamente compradores de NTN-Fs, gerando fluxo de capital favorável para a cotação do real.