Guidance de produção revisado, desafios aumentam
Após os números reportados pela Vale em seu relatório de Produção e Vendas do 2T22, os quais vieram aquém do esperado, ressaltando as dificuldades da companhia em retomar seu ritmo anterior de produção, fazendo com que o guidance de 2022 fosse revisado, revisitamos nosso modelo e premissas, a fim de incorporar as novas expectativas da companhia, bem como o cenário mais desafiador quanto à demanda de aço e minério de ferro na China, bem como as pressões nos custos que devem perdurar para o ano.
Assim, incorporamos um cenário de demanda de minério de ferro arrefecendo para o segundo semestre do ano e adiante, porém mantivemos nossas projeções de preços para o MF62 (produto padrão) em US$ 100/t, considerando a indisponibilidade pelo lado da oferta, após cortes nos guidances para este ano de importantes players no segmento e, agora, também da Vale. Mantivemos nossas projeções de custos de frete para o fim do ano, mas elevamos nossas expectativas quanto ao custo Caixa C1 da Vale, devendo este agora ficar em torno de US$ 18,5 – US$ 19/t. No segmento de metais básicos, reduzimos os preços esperados de níquel e cobre para o fim do ano, incorporando as atuais tendências de correção dos preços das commodities metálicas. Ainda, ajustamos as estimativas de vendas de acordo com o novo guidance de produção divulgado.
Sendo assim, estipulamos agora um preço-alvo para VALE3 YE22 em R$ 83/ação (antes R$ 100) e US$ 17/ADR para VALE US (antes US$ 20) e mantemos a recomendação Neutra para o papel em razão do upside, mas contemplando os riscos ainda em curso para o segundo semestre deste ano.
Minerais Ferrosos: risco de hard landing na China deterioram perspectivas para o setor. Os receios quanto a uma desaceleração econômica mais forte que o esperado na maior economia asiática (e maior mercado consumidor de commodities metálicas) têm afetado negativamente o setor de siderurgia e mineração e demais setores vinculados ao mercado chinês. Dados do PIB do 2T22 abaixo do esperado (0,4% vs 1%) expõem os efeitos negativos da política de lockdowns e restrições adotadas pelo governo para conter o avanço do covid no país. Além disso, mesmo com o rol de estímulos recentemente anunciados, temos observado dificuldades no avanço de indicadores de atividade. O setor de Real Estate, importante representante da economia local, enfrenta seus próprios desafios, com incorporadoras mostrando dificuldades em cumprir prazos e consumidores ameaçando boicotes nos pagamentos de obras em atraso, o que poderia escalar ainda mais a situação já deteriorada do setor. Além disso, já temos vistos dados do segmento automotivo que se recupera, mas aquém do potencial. Com as expectativas deterioradas e demanda tendendo para baixo, poderíamos esperar correção mais forte dos preços de minério de ferro, entretanto, as restrições pelo lado da oferta têm contribuído para a manutenção de preços em níveis ainda elevados. Nossas expectativas continuam em um MF62 em US$ 100/t no fim do ano.
Metais Básicos: potencial de geração de valor, mas antes a casa precisa ser arrumada. A Vale tem enfrentado grandes desafios em sua operação de Metais Básicos, com greves no Canadá, paradas para manutenção mais longas que o esperado e outras não previstas, o que tem ocasionado disfunções na produção, fazendo com que a companhia revisasse o guidance para cobre de 330-355kton para 270-285kton para este ano. Mesmo tendo mantido as projeções para níquel, em virtude do que temos observado, acreditamos que dificilmente a meta será alcançada e já estamos considerando produção menor também para níquel em nosso modelo. Apesar das intempéries para este ano, ainda acreditamos no potencial deste segmento e no valor que esta unidade pode gerar aos stakeholders da companhia. As recentes parcerias para fornecimento de níquel de baixo carbono e alta qualidade para fabricação de baterias, especialmente em um mercado com grande potencial, como América do Norte, podem colocar a Vale um passo à frente dos seus competidores para um futuro cada vez mais eletrificado. Estaremos no Vale Investor Tour em setembro, visitando as minas de Níquel da companhia no Canada, momento no qual teremos a oportunidade de observar mais de perto as operações e avaliar oportunidades e riscos para o negócio.
Produção e Vendas - 2T22
A Vale reportou números aquém do esperado para sua produção no 2T22, mostrando ainda dificuldades, principalmente na operação de Metais Básicos, tanto para níquel quanto para cobre, mas também em Ferrosos, no Sistema Norte.
Minerais Ferrosos. No segmento de Minerais Ferrosos, a produção de minério de ferro somou 74.108 mt, 3,7% menor que nossas estimativas, mas 17% acima do 1T22, refletindo a recuperação do desempenho dos Sistemas Sul e Sudeste, após as fortes chuvas que afetaram a região no 1T22. O Sistema Norte também reportou crescimento, de 4% t/t, mas ainda apresentou dificuldades com o processamento dos jaspilitos que tem comprometido a qualidade dos produtos na região. Os novos britadores já estão em operação e os resultados deverão ser vistos a partir do 3T22. Já a produção de pelotas foi destaque, somando 8.672 kton, e 17% acima das nossas expectativas, beneficiada pela redução das atividades de manutenção em Omã e aumento de disponibilidade de pellet feed em Vargem Grande. Com relação às vendas, vimos aumento de 23% t/t nas vendas de minério de ferro (estável ante nossas estimativas) e 26% nas vendas de pelotas.
Metais Básicos. Tanto a produção de níquel quanto a de cobre ficaram abaixo do estimado, na comparação trimestral, anual. Com relação ao níquel, as paradas programadas para manutenção acabaram durando um pouco mais que o esperado, afetando a produção nas operações canadenses e na Indonésia. Em Onça Puma, após a parada programada no 1T22, as operações recuperaram o ritmo, avançando t/t, mas não o suficiente para compensar a queda das demais operações. Assim, a produção totalizou 35 kton, 24% menor t/t e 30% abaixo das nossas projeções. As vendas ficaram em linha, totalizando 39 kton, em razão da utilização dos estoques já antecipados para o período. Paradas para manutenção programadas e não programadas tanto em Sossego quanto em Salobo afetaram a produção total de cobre da companhia, que somou 56kton, 14% menor R/E e 1,2% abaixo do 1T22. Contudo, as vendas tiveram avanço de 2,4%, apesar de quase 10% menor que o estimado pelo Inter Research, devido ao adiamento de um embarque do final do 1T22 para o 2T22.