Macroeconomia


Vale | Resultado 2T22

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 29/jul5 min de leitura

Receitas em linha, mas EBITDA fica aquém

Apesar de ter trazido receitas levemente abaixo das nossas expectativas, refletindo a recuperação dos volumes, porém afetada por preços de commodities menores na base trimestral, os custos pesaram mais e o EBITDA sofreu, ficando abaixo do esperado. Não só o efeito da queda das commodities impactou os resultados, mas também o sistema de ajuste de preços com maior presença de preços provisórios. Além disso, a menor participação de produtos premium nas vendas nos faz questionar as recentes informações apresentadas no relatório de produção quanto às dificuldades observadas no Sistema Norte e o impacto disso na qualidade geral do portfólio, apesar da companhia afirmar se tratar de movimento estratégico no trimestre. Com os resultados caminhando para patamares normalizados e as incertezas já mencionadas quanto à demanda futura na China em razão do cenário mais desafiador no mercado imobiliário no país, bem como projeções de desaceleração econômica mais acentuada para este ano, mantemos nossa recomendação Neutra, com preço-alvo YE22 para VALE3 em R$ 83/ação e VALE US em US$ 17/ADR.

Ao longo do trimestre, a companhia deu continuidade ao seu processo de descarbonização em vista à meta de reduzir suas emissões do Escopo 1 e 2 e concluiu o projeto na pelotizadora em São Luiz, no Maranhão, que agora passa a usar gás natural em toda a operação. Em mesmo intuito, a Vale firmou um MoU com a Nippon Steel Corp. em busca de soluções para siderurgia com foco no processo de produção neutra de aço, aderente à sua meta de reduzir em 15% até 2035 suas emissões de Escopo 3, podendo se utilizar de uso de metálicos (DRIs), ferro-gusa da Tecnored ou briquetes verdes. A empresa também anunciou o Projeto Zhongzhai, uma parceria inédita de pre-blending com a Shagang, no Porto Zingbo Zhoushan. Ainda, a Vale divulgou o estudo de pré-viabilidade de um projeto de sulfato de níquel em Quebec, Canadá, com capacidade de produção anual de 110 kton.

No que tange o asset allocation, a companhia concluiu a venda de suas operações de ferrosos no Sistema Centro-Oeste, bem como a venda da Pecém (CSP). Ademais, Vale anunciou a recompra de US$ 1,3 bi em bonds, diminuindo a necessidade de liquidez para os próximos cinco anos e alongando o prazo de sua dívida. Por fim, a empresa anunciou o pagamento de US$ 3 bi em proventos, R$ 3,572/ação, a serem pagos em 01 de setembro de 2022.

Minerais Ferrosos: menores preços realizados prejudicam resultados, mesmo com volumes recuperando. A operação de Minerais Ferrosos reportou receita líquida de US$ 9.025 mm, 3,6% menor que nossas estimativas, recuperando 3,6% ante o 1T22, mas ainda 37% abaixo a/a, impactada do lado positivo pela (i) recuperação dos volumes vendidos, após atenuação dos impactos das chuvas do 1T22, e do lado negativo (ii) pelos menores preços realizados de minério de ferro, em razão da queda do preço da commodity nos mercados internacionais, bem como efeito negativo do sistema de precificação, com a maior presença de preços provisórios. Os resultados de Ferrosos também foram afetados pela menor participação de produtos premium no portfólio, em razão do maior volume vendido de produtos de alta sílica, por questões mercadológicas, de acordo com a empresa. No entanto, devemos acompanhar estes indicadores nos próximos trimestres, uma vez que, de acordo com seu relatório de produção, a companhia tem tido dificuldades na extração de minério de ferro no Sistema Norte, o que vem diminuindo a disponibilidade de produtos naturalmente mais premium e que exigem menos esforços (logo menor custo de produção) para chegar em seu nível de qualidade. Com os efeitos acima mencionados, preço médio do MF realizado pela Vale foi de US$ 113/t, US$ 28/t menor que o 1T22. Falando em custos, o cash cost C1 ex-terceiros foi afetado (i) pela variação cambial no período, (ii) pelo maior consumo de estoques do 1T22, com preços mais elevados, (iii) maior custo de logística, especialmente no Sistema Sul e (iv) maiores gastos com combustíveis, e totalizou US$ 21,0/t contra 18,7/t no 1T22 (incluindo MD de terceiros, o Cash Cost C1 somou US$ 24,2/t). Com relação às pelotas, os preços realizados ficaram em US$ 201,3/t, ante os US$ 191/t observado no 1T22, em virtude do cenário positivo de preços, levando a um EBITDA de US$ 1.140 mm. Já o EBITDA total do segmento de Ferrosos ficou em US$ 5.147 mm, queda de 11% t/t e 14% menor que nossas estimativas.

Metais Básicos: produção e vendas em menor nível prejudica operação, mais uma vez. As receitas do segmento de metais básicos somaram US$ 1.875 mm, 7,7% menor que o esperado, 8,1% maior que o 1T22, porém 12,7% abaixo do 2T21, refletindo (i) menor preço realizado de cobre em virtude da queda dos preços spot, (ii) maiores custos de vendas de cobre, (iii) menores receitas com subprodutos, parcialmente compensados por (iv) maiores receitas de níquel, com preços realizados 18% acima t/t, devido aos maiores preços nos mercados internacionais, bem como maiores prêmios pagos. O EBITDA da operação totalizou US$ 603 mm, contra os US$ 751 mm do 1T22.

Endividamento e Resultado Financeiro. A dívida bruta da companhia ficou em US$ 11,0 bi, 11% abaixo do observado no 1T22, enquanto a dívida líquida avançou 9% para US$ 5,4 bi, levando a alavancagem para 0,2x. O custo médio da dívida está em 5,0% a.a., enquanto o prazo estendeu-se para 9,1 anos, após a recompra dos bonds. O resultado financeiro líquido fechou positivo em US$ 821 mm, refletindo receitas de US$ 137 mm, despesas de US$ 372 mm, impacto positivo de variação cambial de US$ 464 mm, e operações com derivativos negativas de US$ 270 mm. Desta forma, o lucro líquido fechou em US$ 4.093 mm ante US$ 4,480 mm no trimestre anterior. O FCL totalizou US$ 2.295 mm, reflexo da melhora do capital de giro e reversão do efeito de IR maior no 1T22.

Resultado Consolidado: EBITDA pressionado. A Receita líquida da companhia totalizou US$ 11.157 mm, 2,7% menor que nossas estimativas, avanço de 3,2% t/t e 33% menor a/a, refletindo o oposto do observado no 1T22, com volumes recuperando na base trimestral, mas compensados por preços realizados e prêmios menores, em especial do minério de ferro. O CPV totalizou US$ 5.950 mm, 3,7% maior que nossas projeções e, juntamente com despesas maiores, pressionaram o EBITDA, que fechou em US$ 5.534 mm, 16% abaixo das nossas estimativas (+3,5% t/t e -49,7% a/a).

Fonte: RI da Companhia e Inter Research

Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail