EBITDA em linha, mas 2022 traz desafios
O 1T22 da Vale trouxe desempenho em linha com o esperado para o EBITDA, apesar das receitas menores que as expectativas, afetadas pelos volumes de vendas de Ferrosos bem abaixo do projetado. Vemos desafios para 2022 tomando forma, com incertezas quanto à desaceleração econômica chinesa e seus possíveis efeitos na indústria siderúrgica, além de um cenário de custos elevados por um longo período ainda. Entretanto, mesmo com resultado mais fraco tanto na comparação trimestral quanto anual, lembramos que US$ 6.347 mm de EBITDA trimestral ainda é um valor considerável, o que coloca a Vale em posição confortável para suas obrigações futuras, mantendo-a como excelente opção para uma carteira voltada a dividendos.
Destacamos o anúncio de novo programa de recompra de ações da companhia, com prazo de 18 meses após o fim do programa corrente, visando 500 milhões de ações, o equivalente a cerca de 10% do total das ações em circulação, o que ajudaria a manter os preços das ações mesmo com provável pressão baixista advinda de possíveis quedas nos preços do minério de ferro. Com isso, mantemos nossa recomendação Neutra, com preço-alvo YE22 para VALE3 em R$ 100/ação e VALE US em US$ 20/ADR.
Minerais Ferrosos: mesmo com preços mais elevados, receitas recuam com queda dos volumes vendidos. A operação de Minerais Ferrosos reportou receita líquida de US$ 8.734 mm, 6% menor que nossas estimativas, 14% abaixo do 4T21 e 17% menor a/a, impactada, principalmente, pelos menores volumes de produção e vendas no trimestre, efeito da sazonalidade de chuvas em Minas Gerais, mas também de menor eficiência operacional no Sistema Norte, com S11D (veja mais detalhes no relatório de Produção e Vendas que elaboramos). Os menores volumes vendidos foram parcialmente compensados pelo maior preço médio realizado na comparação trimestral, o qual ficou em US$ 141,4/t, espelhando a alta de preços do MF62 (produto padrão), bem como maiores prêmios de qualidade no período. O cash cost C1 foi afetado por (i) menor diluição de custo fixo em razão da menor produção no período, (ii) maiores custos de demurrage, (iii) alta dos combustíveis, (iv) efeito positivo de consumo de estoques mais baratos, e totalizou US$ 21,0/t contra 18,8/t no 4T21; com isso, a companhia revisou para cima suas estimativas desta linha para US$ 18,5/t – US$ 19,0/t em 2022. Com relação às pelotas, os preços realizados ficaram em US$ 194,6/t, ante os US$ 182,6/t observado no 4T21, em virtude do cenário positivo de preços do MF65, somados aos prêmios pagos, porém compensados pelo efeito de preços defasados no trimestre. Assim, o EBITDA de pelotas somou US$ 837 mm, 31% menor t/t e o EBITDA do segmento totalizou US$ 5.802 mm, queda de 9% t/t. Por fim, lembramos que durante o trimestre, a Vale anunciou a venda de seus ativos de minério de ferro, manganês e logística no Sistema Centro-Oeste, no valor de US$ 1,2 bi, os quais contribuíram com US$ 110 mm ao EBITDA consolidado da companhia em 2021.
Metais Básicos: volumes ainda patinam, mas preços ajudam. As receitas do segmento de metais básicos somaram US$ 1.932 mm, 12% menor que o esperado, em linha com o 4T21, e 2% maior que o 1T21, refletindo (i) a queda de volumes vendidos de níquel com a menor produção no trimestre e movimento de composição de estoques em preparo para a parada programada para manutenção em Sudbury no 2T22, parcialmente compensada por maiores preços da commodities nos mercados internacionais e (ii) menores volumes vendidos de cobre devido à parada para manutenção em Sossego. O EBITDA da operação totalizou US$ 751 mm, contra os US$ 811 mm do 4T21. Nesta linha, conforme vinhamos falando, vemos grande potencial de destrave de valor para os negócios da Vale em virtude do possível incremento de demanda por baterias com a ascensão dos veículos elétricos e processo de eletrificação das coisas (IoT). Neste sentido, no trimestre, a Vale fechou parceria para fornecimento de níquel para a produtora sueca de baterias, Northvolt AB, em mais um passo em direção à maior criação de valor via operação de metais básicos.
Endividamento e Resultado Financeiro. A dívida bruta da companhia ficou em US$ 14 bi, em linha com o observado no 4T21, enquanto a dívida líquida avançou para US$ 4,9 bi, em razão dos pagamentos de dividendos, recompra de ações e efeitos de capital de giro no período, levando a alavancagem para 0,17x. O resultado financeiro líquido fechou negativo em US$ 242 mm, refletindo receitas de US$ 150 mm, despesas de US$ 445 mm, impacto negativo de variação cambial de US$ 817 mm, e operações com derivativos positivas de US$ 861 mm. Desta forma, o lucro líquido fechou em US$ 4,5 bi no trimestre.
Resultado Consolidado: em linha, forte, mas desafios aparecem. A Receita líquida da companhia totalizou US$ 10.812 mm, 6,3% menor que nossas estimativas, recuo de 20% t/t e 14% a/a, mostrando a recuperação dos preços e prêmios do minério de ferro e produtos de maior qualidade nos mercados internacionais, porém compensados negativamente pela queda expressiva de volumes e vendas no período, os quais foram afetados pela sazonalidade mais forte de chuvas. O CPV totalizou US$ 4.622 mm e nos surpreendeu positivamente, o que levou a um EBITDA em linha com o esperado (US$ 6.374 mm vs. US$ 6.458 mm), mesmo com a receita menor.