Saldo positivo no geral, mas brasileiro ainda não investe pensando na aposentadoria
A Anbima em conjunto com o Data Folha divulgou a 6ª edição do seu estudo Raio X do Investidor Brasileiro, que traça um olhar sobre a população brasileira e como ela está lidando com seus investimentos. Nesta edição, foram observados os dados de 2022 sobre 2021, um período em que o brasileiro ainda via a inflação comprometer a sua renda. É importante entender que a geração X, formada por pessoas de 41 a 60 anos, é a maior parte da população economicamente ativa no país, e essa geração possui perfil mais conservador e sempre teve preferência pela poupança. A renda média daqueles que foram considerados investidores é de cerca de R$ 6.067,00 e as dos não-investidores foi de R$ 3.476,00.
Quem conseguiu economizar? Com a perda de renda em 2022, investidores retiraram dinheiro de aplicações, outras reservas e também recorreram à venda de bens, entrada em cheque especial, crédito rotativo no cartão de crédito e empréstimos. Apesar dos desafios, houve crescimento dos poupadores em todas as classes, onde no total, as pessoas que conseguiram economizar saíram de 27% da população para 32%, apesar de ainda não ser maioria nas classes mais baixas. O principal meio de economia veio da Diminuição de Gastos, representando 44%, seguido de Evitar Compras Desnecessárias, com 24%.
Produtos financeiros, principal destino do dinheiro. Do dinheiro economizado, 38% foram direcionados a produtos financeiros, sendo este o principal destino. Por outro lado, esse percentual ficou estável na comparação com 2021, mas vale notar que na classe D/E o percentual voltado para produtos financeiros saiu de 18% para 23%. Vale ressaltar também que as pessoas que economizaram e mantiveram o dinheiro guardado, sem fazer nada, aumentaram de 10% para 13%.
Número de investidores avançou em todas as classes sociais. Segundo os dados da Anbima o percentual de investidores saiu de 31% para 36% em 2022, ou quase 60 milhões de brasileiros. A classe que mais avançou neste sentido foi a classe C saindo de 29% em 2021 para 36% em 2022.
Investidor prefere produtos financeiros pela segurança financeira e depois o retorno. Cerca de 44% dos investidores, e foi um padrão em todas as classes, escolheram como principal vantagem de investir em produtos financeiros a Segurança Financeira, seguido por Retorno Financeiro, com 27%, e Poder Retirar o dinheiro em caso de necessidade em terceiro lugar, com 8%.
Conhecimento sobre produtos financeiros avança em todas as classes. Previdência ainda evidencia o baixo investimento em aposentadoria e a dependência do INSS. Apesar do avanço no conhecimento de todos os produtos financeiros, aqueles que não conhecem ainda representam 60% da população. Contudo, dos que conhecem os produtos financeiros, a Poupança ainda é o investimento mais comum, com 20% do conhecimento da população e é ainda mais relevante para as classes D/E. Em seguida, para a amostra da população, os produtos mais conhecidos são ações na bolsa de valores com 13%, títulos privados e fundos de investimento com 9%. Destacamos que a previdência privada representa apenas 3% do conhecimento da população sobre o produto e que é ainda menor nas classes C (2%) e D/E (1%). Apesar do conhecimento em outros produtos financeiros, o investidor ainda aloca seus recursos de forma relevante na poupança, principalmente nas classes C, D e E.
O que fazem com o retorno dos investimentos? O vencedor unânime entre todas as gerações é a compra de um imóvel/casa própria. O uso para a velhice/aposentadoria ainda é abaixo da média, mas avança para o máximo de 11% das respostas, na Geração X. Entendemos que a população em geral, e principalmente os assalariados ainda contam em grande parte com o sistema de previdência social, o que tem impactado os números das reservas financeiras para aposentadoria.
Segundo a pesquisa, maioria dos não aposentados ainda não começou, mas pretende investir para a aposentadoria. A parcela da população em geral que começou a investir para a aposentadoria ficou em 18%, valor ainda baixo e concentrado nas classes A/B, dado claro a disponibilidade de renda, o que denota que 60% das pessoas das classes D/E pretendem começar. A média de idade que as pessoas pretendem se aposentar está em 59 anos, independente do perfil.
Expectativas. Metade dos não-aposentados espera depender na maior parte da previdência pública (INSS), apesar disso, houve queda dessa expectativa de 50% para 44% das pessoas que esperam depender do INSS. Outros 19% esperam que a maior parte dos recursos virá do próprio salário, já que pretendem continuar trabalhando, 9% de aplicações financeiras e 4% de previdência privada, e cerca de 16% não sabem.
Neste sentido, essa expectativa pode ser perigosa, já que a depender da renda de hoje, pode haver a necessidade de complemento de renda, já que é rotineiro uma aposentadoria pelo INSS oferecer um salário menor que o custo de vida do trabalhador ao final do seu tempo de contribuição. E como pudemos observar no Raio X, os objetivos dos investidores ainda não são em boa parte direcionadas à velhice/aposentadoria. A realidade é que quanto mais o tempo passa, mais tempo de contribuição e maiores salários vão sendo necessários para se aposentar próximo ao teto, que hoje é de cerca de R$ 7 mil. Além disso, em muitos casos, a depender do cálculo ao se aposentar, o salário pode ser menor que o teto, mesmo com um salário elevado ao final do seu período de contribuição, já que a previdência considera um salário médio ao longo do tempo de contribuição. Em 2024 a regra muda, o ponto de partida começa pela idade mínima de aposentadoria, que hoje é de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. O tempo de contribuição também mudou para 35 anos para homens e 30 para as mulheres. Essas regras são válidas para quem começou a trabalhar depois da aprovação da reforma em 2019. Já para as pessoas que estavam no mercado de trabalho antes de 2019 seguirão as regras de transição, que são variadas entre regra de pontos, aposentadoria proporcional e aposentadoria por tempo de contribuição.
Realidade. Como observamos no Raio X, 86% dos aposentados hoje dependem mais do INSS, valor muito diferente da expectativa entre todas as classes, que hoje que é de 44%, sendo que os que dependem do salário/bicos são 2% e Previdência Privada também 2% (expectativa 4%). Vale lembrar que ao excluir a Classe A/B, os indicadores são ainda piores para outras fontes de renda que não o INSS, o que engloba diversos fatores, principalmente a condição financeira, mas também a educação financeira.
Além de todos os diversos pontos levantados pelo Raio X, ficou evidente a concentração de investimentos do investidor brasileiro hoje em poupança e baixa utilização de outros produtos de investimentos, mas observando a evolução dos dados, isso tem melhorado. Um comportamento mais agudo é que o investidor ainda não investe pensando na sua aposentadoria, logo, o que vimos nos dados sobre os aposentados é que muitos ainda dependem do INSS como sua fonte de renda principal e ainda subutilizam a previdência privada que pode ser uma ótima fonte de renda complementar para aposentadoria.