Números neutros, mas previsão de céu aberto
O otimismo observado desde meados de maio que levou o Ibovespa a uma alta de mais de 16% de abril a junho não se refletiu nos balanços das empresas. Os números da temporada de resultados do 2T23 mostraram mesma tendência observada no primeiro trimestre do ano. Receitas ainda limitadas pelo cenário restritivo de juros no país e inadimplência limitando o poder de consumo da população, bem como custos em patamar elevado, mas que demonstram sinais de desaceleração.
Surpreendendo negativamente, dados macroeconômicos mais fracos na China prejudicaram os balanços das exportadoras que mostraram performance negativa tanto no valor de suas ações quanto nos resultados do trimestre. Os preços das commodities mais baixos limitaram os avanços nas receitas que poderiam ter ocorrido pela retomada da capacidade produtiva, após o período sazonal mais fraco de chuvas no primeiro trimestre, em especial para as mineradoras. As siderúrgicas também observaram números mais fracos de vendas no mercado interno, que não reagiu ainda aos bons ventos esperados para a economia. Além disso, os custos de produção também pesaram, levando à corrosão das margens. Já para o setor de Óleo&Gás, apesar da queda do petróleo Brent no período, vimos resultados ainda muito fortes com eficiência de custos ajudando na evolução de margens.
Pelo lado positivo, seguindo o observado nas prévias operacionais, o segmento de construção foi destaque tanto pela performance dos números reportados quanto em relação às expectativas para o os próximos períodos em virtude do ciclo de queda dos juros e programas habitacionais do governo. O setor de Utilities apresentou desempenho estável com disparidades entre os segmentos e resultados operacionais heterogêneos entre as empresas, mas com expansão de receitas após reajustes tarifários anuais, o que levou à leve melhora de margens, refletindo também melhor controle de custos. No setor financeiro, os resultados dos bancos mostraram forte recuperação do NII e com resultados de tesouraria, apesar da inadimplência ainda preocupante. Os braços de seguros também contribuíram positivamente para os resultados, uma vez que os balanços das seguradoras trouxeram receitas crescentes com reajustes e melhor precificação, além de sinistralidade normalizada. No segmento de Varejo, no entanto, ainda vimos números desafiadores. No Varejo online, apesar de receitas e custos estáveis, o resultado financeiro acabou pesando, prejudicando a margem líquida. Mesmo desempenho ruim foi visto para as varejistas de vestuário que seguem sofrendo com o cenário macroeconômico ainda restritivo e o aumento da competição chinesa no país. No sentido oposto, o varejo voltado para a alta renda seguiu resiliente, com destaque para Vivara. Apesar de dependente do consumo, os Shoppings continuam apresentando números crescentes e bons patamares de rentabilidade, espelhando receitas que evoluem com aumento de aluguéis e vendas, e custos que continuam controlados.
No cenário macro, economia brasileira manteve a tendência no segundo trimestre de 2023. A atividade econômica continua desacelerando, com os principais setores da economia apresentando fraco desempenho no trimestre. Serviços ficou estável no 2º trimestre, enquanto varejo e indústria recuaram. Apesar disso, a economia cresceu 0,5% no período, de acordo com o IBC-Br do Banco Central. Isso sugere que um eventual crescimento do PIB no 2º trimestre irá vir do lado da oferta, assim como no primeiro trimestre. De fato, a safra e o abate de bovinos e frangos têm surpreendido positivamente, dando sustentação ao PIB enquanto a demanda enfraquece.
A inflação, apesar de ter acelerado em julho no acumulado dos últimos 12 meses, continua com dinâmica benigna, com os núcleos e a inflação de serviços controlados, dando maior tranquilidade para o Banco Central em seu ciclo de cortes, que foi iniciado em agosto, com corte inicial de 50 pontos-base. A expectativa é a manutenção desse ritmo nas próximas reuniões. Assim, aumenta a expectativa de melhora da economia no segundo semestre, o que é possível de se verificar na melhora substancial dos índices de confiança nos últimos meses.
O que esperar para o 2S23?
Mantemos uma visão mais construtiva para o segundo semestre deste ano, seguindo as expectativas de inflação desacelerando e melhora no PIB, conforme relatório FOCUS. A mensagem das empresas durante os calls de resultados também trouxe um tom mais otimista, apesar de comedido. As companhias voltadas ao mercado interno podem observar uma tendência de melhora, conforme a taxa de juros reduz e inflação traz alívio, juntamente com a inadimplência que pode ter chegado ao pico neste último trimestre, refletindo em melhora no poder de consumo da população. Ao mesmo tempo, poderemos ver custos arrefecendo, seguindo o observado nos preços das commodities e demais insumos, além de energia ainda em patamar estável. Quanto aos resultados financeiros, estes devem continuar comprimindo as margens, em especial às empresas mais endividadas, e poderemos ver também a alta do dólar pressionando via variação cambial. No entanto, o céu está mais claro e a atual conjuntura do país em momento de ciclo de corte de juros, menores pressões inflacionárias e crescimento econômico colocam o Brasil em posição favorável ante os pares emergentes e até mesmo desenvolvidos. O ponto de atenção fica na agenda política e as pautas ainda pendentes de avanço, bem como China, onde as incertezas pairam pelo ar, pressionando os papéis das exportadoras e, consequentemente, a bolsa brasileira.