Mineração decepciona, siderurgia estável, mas riscos se intensificam com China
Após um primeiro trimestre de resultados aquém do esperado, impactado pela sazonalidade das chuvas na região Sudeste que prejudicaram o desempenho dos negócios de mineração, devemos ver um trimestre de recuperação, porém liderado pela performance da siderurgia que deve trazer receitas avançando em reflexo aos aumentos de preços implementados, compensando os altos custos já esperados para o período.
Mais uma vez, a Mineração deve apresentar impactos de externalidades, mas devemos ver volumes recuperando na comparação trimestral, com vendas avançando, seguindo a recuperação da demanda na China no período, com a produção siderúrgica mensal acima de 90 Mt, amenizando os efeitos do lockdown. Contudo, o avanço das receitas deverá ser impactado pelos menores preços realizados de minério de ferro, em virtude da queda de cerca de 8% do preço do produto padrão nos mercados internacionais, fechando o trimestre em US$ 146/t, o que pode afetar os valores reportados em razão da marcação a mercado. Os preços de frete aceleraram a tendência de alta, ficando em média US$ 29/t no 2T22 versus US$ 22,5/t no 1T22 e devem pressionar mais uma vez os custos. Aliás, os custos devem seguir elevados, pressionando margens no segmento.
Na siderurgia, após o recuo de volumes de vendas em razão da sazonalidade, devemos ver recuperação de vendas, especialmente no mercado interno. Dados da Anfavea mostraram avanço de 26% e 21% nos licenciamentos e na produção de veículos no 2T22 ante o 1T22. Mesma dinâmica foi observada nos dados do IABR que mostraram contínuo avanço de produção de aço bruto mês a mês, assim como nas vendas, tanto de longos quanto de planos. Os preços realizados também devem mostrar avanços, refletindo os aumentos de preços que foram anunciados ao longo do 1T22, mesmo com o recuo dos preços dos produtos de aço nos mercados internacionais, o que pode trazer desafios para o segundo semestre. No mais, os custos de insumos como minério de ferro, carvão e combustível devem pesar nas margens, mas não o suficiente para compressão na comparação trimestral.
CSN (CSNA3): Custos comprimem margens
Com menor contribuição do braço de Mineração, a CSN deverá trazer um resultado inferior na comparação trimestral, com receitas recuperando na Siderurgia, resultante de volumes de vendas em linha com o 1T22, mas preços maiores em reflexo aos ajustes de preços feitos no primeiro trimestre e incorporados ao longo do 2T22. No mercado interno, a companhia ainda deve observar crescimento das vendas, mesmo que em ritmo menos acelerado. Já no mercado externo, os efeitos da guerra na Ucrânia pesam nos resultados na Alemanha, limitando desempenho na região em termos de volume vendido, mas que devem ser parcialmente compensados pelos preços mais fortes. Em relação aos custos, estes devem seguir pressionando os resultados da companhia, com combustíveis, carvão e placas pesando em maior escala, compensando menores dispêndios com energia, minério de ferro e outros metais. Por fim, o negócio de cimento deve reportar números fortes em razão da melhor sazonalidade, com produção e vendas avançando e preços maiores, devido ao anúncio de aumento de preços de cerca de 20% feito pela empresa ao longo do trimestre, o que deve mais que compensar os maiores custos, levando à expansão de margens na siderurgia, porém limitada pelo recuo na mineração. Assim, vemos receitas totalizando R$ 10.574 mm, derivando em um EBITDA de R$ 3.335 mm, com margem de 32%.
CSN Mineração (CMIN3): Operação impactada por externalidades, novamente
Se no 1T22 a CSN Mineração conseguiu compensar os menores volumes produzidos e vendidos com os maiores preços realizados em função dos preços mais altos do minério de ferro no mercado seaborne, no 2T22 não vamos observar o mesmo efeito. A companhia deverá reportar recuperação dos volumes produzidos, avançando 33%t/t, contudo o alto volume de chuvas que impactou os embarques nos portos deve limitar as vendas observadas no trimestre e esperamos volumes abaixo do guidance trimestral, de 8Mt. Além disso, com menores volumes produzidos, a companhia deverá compensar via consumo de estoques, o que deve afetar a qualidade dos produtos e, consequentemente, os preços realizados, que devem refletir também a queda observada nos preços de minério de ferro nos mercados internacionais e os efeitos de um frete maior no t/t. Assim, esperamos receitas de R$ 2.819 mm, 28% menor t/t e 64% abaixo do 2T21. Os custos serão, uma vez mais, pressionados pelos preços de insumos, especialmente o diesel. Sob estes efeitos, esperamos um EBITDA de R$ 998 mm, 58% menor t/t, com uma margem de 35% versus os 62% observados no trimestre anterior.
Gerdau: ON Brasil recupera e América do Norte segue em evidência
A Gerdau deve mostrar resultados com avanço de receitas, mas com EBITDA em linha diante do 1T22, em virtude da pressão de custos que deve seguir afetando os resultados. Na ON Brasil, devemos ver forte recuperação de volume, principalmente no mercado interno, enquanto exportações devem seguir próximo ao patamar observado no 1T22, o que, somado a preços realizados que devem crescer no t/t, deverá se traduzir em receitas crescentes para esta unidade ante o trimestre imediatamente anterior. No que tange custo, mais uma vez, os custos de insumo devem pesar nas margens, compensando os avanços que vemos no top line, em especial devido a maiores preços de carvão e minério de ferro. A ON América do Norte, destaque dos últimos períodos, deve manter seu pódio e trazer novamente números saudáveis, beneficiada pelo bom momento do setor siderúrgico nos Estados Unidos. Como a empresa opera em plena capacidade, devemos observar volumes em linha e preços estáveis, apesar do arrefecimento de alguns produtos metálicos nos mercados internacionais, o que também contribuiu para a queda no preço da sucata, beneficiando as margens da operação. Já para Aços Especiais, devemos ver retomada dos volumes, conforme o mercado automotivo entra em rota de recuperação no Brasil. Nos Estados Unidos, os resultados devem ser compensados pelo menor custo de sucata e volumes em linha.
No consolidado, esperamos receitas somando R$ 22.258 mm, 7% superior ao 1T22, com destaque para a contribuição da ON Brasil. Com os custos pressionando, o EBITDA deverá vir 9% maior t/t, porém com margem estável, em 28%.
Usiminas (USIM5): siderurgia avança, apesar dos desafios na mineração
A Usiminas deve reportar números acima do observado no 1T22, beneficiada pela unidade de siderurgia que deve trazer volumes vendidos levemente abaixo na comparação trimestral, com recuo das exportações, mas preços avançando, refletindo a implementação dos aumentos às montadoras anunciado no início do ano. Na mineração, após um trimestre fortemente prejudicado pela sazonalidade de chuvas, que afetou a produção da MUSA no período, devemos ver recuperação do volume de produção e vendas, com dry stacking operando em capacidade total agora. Contudo, o avanço das receitas deverá ser limitado pela queda do preço realizado do minério de ferro em virtude da correção dos preços da commodity nos mercados internacionais. Na Soluções Usiminas, devemos ver mais um trimestre forte, confirmando a recuperação do negócio.
Os custos seguem como os vilões do desempenho da companhia e devemos ver o CPV/t avançando mais uma vez, na contramão das expectativas de uma retração, isso porque problemas nas coquerias seguem pressionando o desempenho da operação, juntamente com os preços de insumos como minério de ferro, placas, carvão e coque. Assim, esperamos um EBITDA ajustado de R$ 1.944 mm, 25% maior t/t, mas 62% menor a/a. A margem EBITDA deverá avançar para 24%, acima do 1T22, porém bem inferior ao resultado recorde do 2T21.
Vale (VALE3): trimestre de recuperação, mas desafios aumentam
Após a divulgação do relatório de produção e vendas na semana passada, no qual a companhia reportou novamente dificuldades em suas operações do Sistema Norte no segmento de Ferrosos e efeitos mais longevos da parada para manutenção nas suas operações de Metais Básicos, revisamos nossas projeções e preço-alvo para a Vale, e esperamos que a companhia traga receitas acima do 1T22, porém inferiores ao recorde observado no 2T21. No segmento de Ferrosos, devemos ver receitas avançando 4% t/t, em razão da recuperação dos volumes vendidos, após retomada da produção que foi prejudicada pelo efeito de chuvas no 1T22, porém limitada pelo menor preço realizado de minério de ferro, em virtude da queda dos preços das commodities nos mercados internacionais, mesmo com prêmios de pelotas contribuindo positivamente. Em Metais Básicos, as receitas devem avançar 8% ante o 1T22, com volumes vendidos acima t/t, mas compensadas negativamente pela queda de preços de níquel e cobre ao longo do trimestre.
Na parte de custos, o cash cost C1 da companhia deve ter forte impacto da variação cambial, inflação e combustíveis, bem como efeito negativo pela maior incidência de minério de terceiros. Com despesas gerais levemente abaixo, devemos ver um EBITDA em US$ 6.608 mm, 3,5% maior que o 1T22, mas 40% abaixo do 2T21.