Macroeconomia


Seguradoras | Prévias 2T22

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Matheus Amaral

Publicado 04/ago6 min de leitura

Setor mantém ritmo de crescimento e recuperação, mas agro e auto ainda sustentam maior sinistralidade

Esperamos resultados mistos para as seguradoras no 2T22, direcionados pelo forte crescimento comercial visto no bimestre de abril e maio, quando o setor cresceu 20,5% em faturamento total (seguros, acumulação e capitalização) versus o mesmo período do ano passado. Em seguros, o setor avançou 22,4% a/a no bimestre, impulsionado pelos segmentos de automóveis e rural, além do consistente crescimento em cobertura pessoal. O cenário de alta inflação também tem implicado em maiores reajustes de apólices, atrelados à retomada da atividade e a maiores custos com sinistros. Alertamos que ainda deve ser um trimestre com pressão negativa na sinistralidade para companhias que atuam nos ramos automotivo e rural, com a sinistralidade ainda em ritmo elevado, fator que vimos impactar no 1T a BB Seguridade, a Porto Seguro e, principalmente, a resseguradora IRB Brasil, que possui exposição ao segmento agro no país. Apesar destes segmentos, as companhias que atuam nos ramos de pessoal devem continuar colhendo benefícios da normalização da sinistralidade após o maior controle dos óbitos por covid-19 com a vacinação. Para o 2T22, destacamos a BB Seguridade, que deve continuar mostrando bom desempenho comercial na Brasilseg e BB Corretora, mas ainda parcialmente compensados por uma pressão na Brasilprev e pelo segmento agro na Seguradora. Na ponta negativa, o IRB Brasil deve sentir os efeitos da alta sinistralidade no ramo rural e continuar reportando prejuízo, de acordo com o que foi apresentado no bimestre de abril e maio - quando a companhia somou R$ 365,8 mm de prejuízo.

Observamos um índice combinado total de 90% no bimestre, ante 103% registrados no 1T22, direcionados principalmente por uma ligeira melhora nos sinistros nos ramos automotivo e rural, mas que ainda figuram em patamares acima da média histórica. Considerando também o ambiente de alta nas taxas de juros, os resultados financeiros das companhias seguradoras vêm constantemente apresentando melhoras e o 2T22 pode continuar nesta tendência positiva.

BB Seguridade: Resiliente, mas sinistralidade no ramo rural pode atrapalhar

Esperamos um resultado positivo para a BB Seguridade no 2T22 com lucro líquido de R$ 1.172 milhões (+55,5%% a/a e -0,6% t/t) com ROAE de 58% (+1.510 bps a/a e -200 bps t/t). A companhia deve reportar um bom desempenho comercial, direcionado por uma boa demanda no mercado segurador e também pela reprecificação de apólices considerando um cenário inflacionário e de maiores riscos. Na Brasilseg, esperamos um bom desempenho em prêmios emitidos, principalmente vindo do ramo de cobertura pessoal e rural. Por outro lado, as boas vendas devem ser compensadas pelo alto índice de sinistralidade no ramo rural, que apesar de ter diminuído em comparação ao 1T22 nos últimos dados mensais de abril e maio, ainda observamos um nível elevado para a normalidade, devido a safras prejudicadas por efeitos climáticos. No bottom-line, a Brasilseg deve continuar reportando bons números, também direcionado pelo avanço do resultado financeiro com a alta da taxa de juros. Na Brasilprev, podemos observar uma performance mista, ainda impactada por efeitos negativos do descasamento contábil entre ativos e passivos indexados ao IGP-M e IPCA. Por fim, o resultado consolidado deve ser positivo, impactado pela menor sinistralidade no ramo pessoal e pelo melhor resultado financeiro nas subsidiárias.

Porto: Sinistro auto ainda pressiona

Esperamos um lucro líquido de R$ 317 milhões (-52% a/a e 69% t/t) com ROAE de 13,1% (+1.640 bps a/a e +1.110 bps t/t). O resultado pode apresentar uma melhora na comparação trimestral, mas ainda deve vir mais fraco que o apresentado no 2T21, isso porque, atualmente, com a retomada da mobilidade trazendo maior sinistralidade no ramo auto e a inflação no preço dos automóveis, devemos continuar observando pressão na principal vertical, a Porto Seguros. Por outro lado, a reprecificação de apólices no segmento deve levemente compensar a alta nos custos com sinistros e trazer forte crescimento nos prêmios emitidos, mesmo com a indústria ainda fraca em produção e emplacamento de veículos. Nas demais verticais, podemos esperar alguma pressão na Porto Seguro Bank, vindo de uma elevação nas despesas com PDD, devido ao cenário de elevação/normalização da inadimplência pressionado no principal negócio da financeira - cartão de crédito -, mas ainda assim, o negócio pode ser compensado por maiores spreads. A Porto Saúde pode continuar apresentando bom crescimento em prêmios e uma sinistralidade controlada, por conta de efeitos positivos da vacinação trazendo menos hospitalizações. Por sua vez, sua margem deve continuar mostrando melhor desempenho que o ano passado, quando o covid-19 trazia maiores custos com sinistros.

Sulamérica: melhor controle da sinistralidade após vacinação

Esperamos um resultado positivo para a Sulamérica no 2T22 com lucro líquido de R$ 76 milhões (+151% a/a e +218% t/t) com ROAE de 4,3% (100 bps a/a e 50 bps t/t). O tom deve continuar de recuperação e maior controle da sinistralidade, apesar de uma leve pressão nas receitas vindo de tickets menores em alguns segmentos e do avanço da companhia na estratégia de midticket. Com a redução de hospitalizações por conta do covid-19, a Sulamérica deve começar a sentir um alívio na pressão dos custos com sinistros, mas ainda assim, o trimestre deve mostrar um indicador alto, com demanda reprimida e uma onda de covid-19 no período, mas o resultado operacional já deve mostrar uma melhora comparado ao 2T21. Esperamos também benefícios de um resultado financeiro melhor, advindo da maior rentabilidade das aplicações com o aumento da taxa de juros. Desta forma, o resultado, que ainda não é o normalizado pode indicar o início de uma recuperação da rentabilidade da seguradora.

IRB Brasil: Efeitos pontuais no segmento rural devem trazer prejuízo no trimestre.

Esperamos que o resultado do IRB Brasil no 2T22 apresente um prejuízo de R$ 37 milhões, revertendo o lucro de R$ 80 milhões apresentado no 1T22, que havia trazido efeitos não-recorrentes, mas ainda assim, um resultado melhor que o reportado no 2T21. O IRB deve ainda sentir efeitos pontuais na sinistralidade, especificamente no Brasil no ramo rural, que passa por um período de safras prejudicadas por efeitos climáticos. Por outro lado, continuamos vendo melhoria gradual nos números apresentados, mesmo com esses efeitos que devem trazer um prejuízo no 2T22, e esperamos sinistralidade menor (83% 2T22 vs 96% 2T21). Devemos continuar observando a estratégia de re-underwriting sendo tocada e, consequentemente, uma redução proposital dos prêmios emitidos no exterior e um leve avanço dos prêmios emitidos no Brasil. Por fim, o resultado financeiro também pode contribuir para amenizar os efeitos operacionais negativos da alta sinistralidade e vir melhor que o 2T21 com a alta da taxa de juros. Não devemos ver um resultado animador, mas fora os efeitos pontuais, tudo dentro do esperado. Outro ponto a ser observado será o índice de solvência da resseguradora, que em seu último balanço se encontrava em 105% e deve sofrer alguma pressão negativa com as expectativas de prejuízo neste trimestre e por sua vez, alguma decisão futura de reforço de capital.


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