Macroeconomia


Projeção Ibovespa 2024

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Matheus Amaral

Publicado 01/dez5 min de leitura

Retrospecto 2023

Quatro sentimentos no ano.

Pessimismo: Começamos o ano com forte correção nos mercados que se estendeu até abril, influenciados principalmente pela percepção de que o Fed manteria os juros elevados por mais tempo, além de eventos como a quebra do banco SVB nos Estados Unidos colocando incertezas quanto ao sistema bancário americano. Além disso, a China continuava desapontado com sua desaceleração, o que foi colocando a demanda global sob judice constantemente e ainda segura o mercado. Por aqui, o caso de Fraude na Americanas trouxe mais um tempero ao sentimento de aversão ao risco e também tivemos uma grande espera relacionada ao arcabouço fiscal, o que levou o Banco Central a manter a taxa Selic em 13,75%, pressionando o endividamento das empresas. Diante de várias incertezas, o índice Ibovespa chegou a pontuar abaixo da barreira psicológica dos 100 mil pontos em março.

Otimismo cauteloso: Após afundarmos da barreira psicológica, alguns fatores começaram a mudar no sentimento do investidor. Mesmo com a inflação ao redor do globo ainda em níveis elevados e o Fed cauteloso, os ventos positivos vieram do controle da crise bancária nos Estados Unidos, mantendo um efeito concentrado em alguns bancos regionais e, por aqui, a divulgação do arcabouço fiscal, que trouxe algum alívio ao mercado, mas prevalecendo ainda os receios. Por outro lado, com a inflação por aqui mantendo o ritmo de desaceleração, as apostas para o ciclo de queda de juros ficaram mais evidentes e o mercado, principalmente o investidor estrangeiro, voltou às compras na bolsa, mas ainda de forma tímida e mantendo cautela. Enquanto o investidor institucional, principalmente os fundos de ações iam sendo pressionados por resgates mês a mês. Mesmo assim, de abril até julho, o Ibovespa atingia até ali seu pico do ano chegando a quase 122 mil pontos.

Cautela: Mesmo com um ciclo de corte de juros iniciado em agosto por aqui, o otimismo parecia ter sido interrompido, principalmente com o cenário no exterior ainda trazendo incertezas. Nossa projeção para o Ibovespa em 118 mil pontos que ainda embutia as incertezas quanto ao fiscal aqui e juros elevados lá fora, ia se materializando até então. Mas, o cenário macro ainda pressionava o mercado. A China continuava tentando resolver sua situação econômica, anunciando estímulos, principalmente para o setor imobiliário e o Fed, como esperado, ainda estava aumentando as taxas de juros e o call de recessão e a tão esperada desaceleração da inflação não chegavam. A curva americana e as Treasuries de 10 anos marcavam all time high e nenhuma notícia boa por aqui seria capaz de conter a força de um juro elevado nos EUA. O Ibovespa ficou lateralizado de julho até outubro e marcava os 114 mil pontos até o último ponto de inflexão do ano.

Otimismo: Contudo, no penúltimo mês do ano o humor global mudou e desta vez, o “buraco negro” das Treasuries americanas que atraía a liquidez global, perdeu um pouco da força, após o mercado entender nos últimos comunicados e falas dos membros do Fed que os juros americanos não devem mais subir. O alívio começou por aqui com o fechamento da curva de juros, auxiliada pela curva das Treasuries e o investidor estrangeiro que só em novembro já batia o recorde de aportes mensais para o ano. Desta forma, a bolsa por aqui ia deixando em segundo plano a temporada de resultados do 3T23, que mostrou leve melhora versus os trimestres anteriores mas ainda ressaltou dificuldades para frente, e já atinge o pico do ano de 2023 acima dos 125 mil pontos. Tendo em vista a recente alta e a virada de ano, quais são nossas expectativas para o Ibovespa em 2024? Está barato ou caro?

Ibovespa voltou a apresentar o melhor retorno entre outras classes de ativos e se destaca entre emergentes em 2023.

Campeões do ano na bolsa

Este ano o setor Imobiliário apresentou os maiores ganhos, na esteira da redução dos juros e de melhores dados operacionais. O segmento vai

encerrando o ano com quase 40% de ganhos. O setor financeiro ficou logo atrás com alguns players se destacando mais que outros, mas no

geral o ambiente de crédito mostrando sinais de melhora, em especial com inadimplência fazendo pico no segundo semestre, impulsionou as

ações do setor. Por outro lado, o mês de novembro trouxe recuperação para alguns setores que estavam combalidos com o cenário doméstico

no ano, caso de Consumo, Indústria e Commodities.

Expectativas Ibovespa 2024

Contra fluxo não há argumentos

Como mencionamos anteriormente, o fluxo comprador da bolsa neste ano tem sido do estrangeiro, que recentemente com o fechamento da curva de juros no exterior voltou a alocar em ativos de risco. O investidor estrangeiro, só em novembro, já acumula R$ 17 bilhões em posições líquidas, enquanto, no ano, este acumulado é de apenas R$ 24 bilhões, considerando que no ano passado até novembro esse saldo era de R$ 87 bilhões. Por outro lado, os investidores institucionais são os que mais vendem, pressionados pelos resgates ocorridos ao longo do ano e menos otimista que o investidor estrangeiro. Acreditamos que a medida que os fundos de investimentos fiquem menos pressionados e o cenário – principalmente fiscal – no país mostre alguma perspectiva de maior confiança, o investidor institucional local pode voltar a ter um fluxo maior de aporte, combinando também com um apetite do investidor estrangeiro.

Caro ou barato?

Ao longo de todo ano de 2023 em seus altos e baixos, o consenso no mercado era claro, o Ibovespa em múltiplo (Preço/Lucro) estava muito abaixo da sua média histórica de cerca de 13x lucros esperados. Desde 2021, o índice negocia abaixo de 8x lucros e por muito tempo ficou negociando a 6x lucros, o que acreditamos que vinha refletindo basicamente a aversão ao risco do investidor, já que o mundo vinha trazendo incertezas e os Estados Unidos estão até hoje em uma política monetária restritiva com os juros consumindo o apetite do investidor. Por outro lado, as expectativas pessimistas deveriam refletir em resultados muito aquém do esperado para que o índice regredisse às médias pela correção dos lucros. Mas, não foi isso que vimos. Os lucros até que mostraram uma desaceleração, mas ainda continua em níveis acima da média.

Spread entre Earnings Yield do Ibovespa versus NTNB 10 anos está acima da média.

O desconto da bolsa fica ainda mais claro quando observamos o Earnings Yield da Bolsa, que desde 2016 estava abaixo da média, refletindo os lucros das empresas ainda combalidos. Porém, à medida que os lucros foram avançando e as companhias reportando melhores resultados, à partir de 2021 a bolsa continuou subprecificada. O desconto da bolsa fica também evidente quando comparamos atualmente o spread entre o earnings yield da bolsa versus os cupons das NTNBs de 10 anos e mesmo com a curva em níveis altos, o spread ainda traz um prêmio elevado para a Bolsa.

Como estão os lucros das empresas?

Se de fato a bolsa reflete o lucro das empresas, a bolsa ainda se mostra descontada tendo em vista que as expectativas de lucro não trazem uma correção tão forte. Abaixo, listamos as perspectivas de lucros das empresas por setor para o ano de 2024 versus o esperado de um já praticamente dadoresultado de 2023. Majoritariamente, as expectativas são positivas, com destaques de redução para Óleo&Gás, Papel&Celulose e Real Estate.

Nosso Target para o Ibovespa: 142.000 pontos

Para 2024, esperamos tempos melhores para a bolsa, já que é um ano onde existe a expectativa de que o Fed comece a cortar os juros e, por aqui, a Selic continue em ritmo de queda – se o Fiscal ajudar, claro. Considerando que o mercado ainda está precificando a bolsa em 9x lucros mesmo com a recente recuperação e que nossa estimativa de lucro para 2024 é positiva, nosso Ibovespa esperado para 2024 é de 142.000 pontos. Acreditamos que potencial é alto para o Ibovespa, que continua descontado em diversas métricas, conforme abordamos neste relatório. Ressaltamos que nossa estimativa não é a mais otimista, levando em consideração que ainda esperamos um desconto frente à média histórica do seu preço/lucro esperado.

Motivos para comprar Bolsa

Vale a pena comprar Bolsa, mesmo em tempos de alta?

Comprar renda variável sempre coloca o investidor no velho dilema de market timing, ou seja, o medo de achar que está comprando na alta e que não está no melhor momento de entrar. Para tirar de vez esta dúvida, fizemos um estudo para mostrar que o melhor momento de comprar bolsa é de forma frequente, a fim de amenizar os efeitos de um timing errado. Nosso estudo considerou um investidor azarado que só investiu em bolsa em momentos de picos. Será que este investidor no longo prazo perdeu dinheiro? Observamos as janelas de 1, 2, 3 e 5 anos depois de uma compra “azarada” em um pico por diversas frequências e o que vimos é que o o investidor, na média, mesmo perdendo o timing, ganhou dinheiro no longo prazo e perdeu pouco para o CDI, inclusive na frequência mensal, que consideramos uma frequência normal de compras do investidor médio. Contudo, vale ressaltar, o teste foi feito nos piores momentos de compra e nem todo mês o momento de compra do investidor seria um mês de all time high da bolsa, o que traz ainda mais oportunidades de ganhos. No longo prazo como observamos no teste em frequências diárias, o que reflete o movimento do índice em quase sua totalidade, os ganhos são superiores ao CDI, mostrando que a bolsa ainda é uma boa alternativa para os seus investimentos.

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