Risco fiscal e juros mais altos limitam ganhos para 2023
O cenário político econômico conturbado precificando um provável descontrole das contas públicas após aprovação da PEC da Transição e um possível avanço do risco fiscal levaram à revisão das projeções de afrouxamento da política monetária por parte do Bacen em 2023, pressionando os ativos locais no curto prazo e, consequentemente, as expectativas para os ganhos para o próximo ano. Se nos últimos meses vislumbrava-se um alívio monetário já no 1S23, por conta da desaceleração da inflação, agora se precifica juros elevados por mais tempo, o que deve seguir pressionando os resultados financeiros das companhias, impactando a margem líquida ao longo de todo o próximo ano. Além disso, juros mais altos deverão restringir o avanço na demanda que esperávamos para o próximo ano, limitando os ganhos esperados para alguns importantes setores da nossa economia. Por fim, o prêmio de risco que caminhava para níveis mais baixos volta a subir e juntamente com custos de captação mais elevados alavancam as taxas de desconto para precificação dos modelos de avaliação, levando à cortes de projeções para o próximo ano.
Se antes descolada dos pares internacionais que ainda lidam com ciclo de aperto monetário e inflação em patamares historicamente altos, agora a bolsa brasileira descola mais uma vez, na contramão da recuperação observada nas últimas semanas das bolsas lá fora. Para 2023, vemos um cenário mais restritivo quando comparado com nossas projeções anteriores, e ainda impactado por um cenário externo recessivo, o que pode limitar a contribuição das commodities na economia.
Cenário Externo: políticas monetárias restritivas e recessão no radar.
No cenário internacional, a inflação apresenta sinais de arrefecimento, mas segue acima do nível histórico, além do patamar desejado de 2% dos principais BCs no mundo. Com isso, apesar da suavização do ritmo de aperto monetário esperado para as principais economias desenvolvidas, em especial Estados Unidos e União Europeia, ainda teremos 2023 cerceado por juros mais elevados, restringindo o crescimento econômico e limitando o avanço do comércio global. A China e seu processo de flexibilização das restrições anti-covid servem como um upside para o cenário. No entanto, o cenário de recessão e desaceleração global podem limitar a retomada do crescimento no país, bastante dependente do comércio internacional.
Onde estão as oportunidades, então?
No lado das oportunidades, inflação desacelera, mas deve seguir em patamar ainda elevado, o que deve continuar beneficiando companhias com receitas atreladas aos índices como IPCA e IGP-M, como é o caso de algumas Elétricas. Os juros elevados podem contribuir para o spread bancário e impulsionar receitas financeiras dos bancos e das seguradoras, mas a inadimplência e menor apetite por crédito por parte das instituições financeiras podem limitar os avanços nos resultados. Por outro lado, no ramo de seguros, podemos ver normalização das operações e da sinistralidade contribuindo positivamente para os resultados, junto com receitas financeiras maiores. No segmento de Varejo, o setor alimentício deve se sobrepor aos demais, com renovação dos benefícios sociais. Dentre as commodities, apostamos na continuidade do bom momento do setor agrícola, bastante resiliente, mesmo em momentos de desaceleração global, e o setor de Papel e Celulose, ainda favorecido pelos choques de oferta no continente europeu.
Novo Target-Price IBOVESPA 2023 – 118.000 pontos
O ano de 2022 foi um ano de reajuste de expectativas. Enquanto o lucro das empresas, mesmo que robusto, foi sendo reajustado, o Ibovespa foi precificando incertezas globais e domésticas com inflação elevada no exterior, recessão global e cenário fiscal incerto no Brasil para o ano que vem. Desta forma, o índice opera a mínimas históricas em termos de Preço/Lucro, hoje a 6x lucro, abaixo da média dos últimos 5 anos de 12x, e abaixo até mesmo da média de tempos recentes mais pessimistas, a 8x nos últimos 2 anos. Desta forma, com nossas expectativas de lucratividade das companhias para 2023 atualizadas, o índice continua sustentado pelo desconto frente ao potencial de lucratividade das empresas para o ano que vem, onde encontramos um múltiplo justo sendo negociado a 7,2x podendo retornar à média de 8x, gerando um upside de 12% a 118.000 pontos para 2023. Corroboramos também com a perspectiva de earnings yield das companhias (Lucro/Preço) para 2023, que mostra uma taxa média de 11,4%, corroborando nosso target.