Mineração impactada por chuvas; custos pesam
Contrariamente à visão mais otimista que tínhamos para o início do ano, o 1T22 deve trazer desempenho similar ao observado no 4T21 no quesito receitas, bem como custos ainda elevados, como efeito da alta dos preços das commodities. As margens, por sua vez, devem vir mais pressionadas, no geral, tanto na mineração quanto na siderurgia.
Especificamente para a Mineração, os volumes de produção e vendas devem ser afetados pelas paradas na produção observadas no início do ano, em razão das fortes chuvas na região de Minas Gerais, que também devem impactar negativamente os custos fixos, com menor diluição no período, pressionando resultados. As exportações brasileiras de minério de ferro somaram 72,3Mt no 1T22, de acordo com dados da Secex, 21% abaixo do 4T21, e 11% menor que o 1T21, período também impactado pelas chuvas. Os preços cerca de 30% mais altos de minério de ferro no trimestre não devem ser suficientes para compensar a queda esperada nos volumes vendidos, minimizando receitas e a contribuição da mineração nas siderúrgicas. Os preços de frete que vinham seguindo uma tendência de baixa desde o fim do ano, devem vir, na média, abaixo dos níveis do 4T21, mas já vimos uma reversão deste movimento de queda com a alta dos preços dos combustíveis. Além disso, as companhias ainda seguem lidando com gargalos logísticos e limitações no transporte marítimo, intensificadas pelo cenário de guerra na Ucrânia. Quanto às importações de minério de ferro pela China, estas somaram 181 Mt nos dois primeiros meses de 2022 (últimos dados liberados pela WSA), em linha com o observado no mesmo período de 2021. A produção siderúrgica chinesa também teve queda no bimestre, em cerca de 9%, somando 157 Mt, o que traz questionamentos quanto ao apetite da indústria para os próximos meses.
Na siderurgia, devemos ver volumes em linha com o 4T21, também em razão da sazonalidade mais fraca do período. Porém, diferentemente do que vimos no trimestre anterior, devemos ver preços médios no mercado interno arrefecendo, reflexo dos descontos aplicados, principalmente na distribuição. Do lado positivo, os aumentos de preços no setor automotivo já estão em vigor e devem aparecer nos resultados ao longo do semestre. Uma vez mais, os custos dos insumos devem impactar os resultados, especialmente carvão e minério de ferro, e combustíveis, direta e indiretamente. A inflação também segue impulsionando as despesas das empresas. Assim, esperamos um trimestre levemente abaixo do 4T21, principalmente em razão da contração de margens esperada e os desafios ainda em curso em cenário de grandes incertezas.
Revisamos as empresas no setor, confira aqui.
CSN (CSNA3): Receitas avançam, mas bottom-line penalizado
Apesar da sazonalidade mais fraca, devemos ver ainda receitas crescentes para a CSN, resultado de uma política mais agressiva de preços na siderurgia, bem como recuperação de volumes e preços realizados na mineração, considerando a parada programada em novembro que limitou os volumes vendidos no 4T21. Assim, as receitas totais da companhia devem registrar R$ 11.495 mm, 11% acima t/t. Os custos devem seguir pressionando margens, em especial na siderurgia com coque e carvão. Com isso, esperamos que o EBITDA da CSN feche o 1T22 em R$ 3.665 mm, queda de 1,7% t/t, com margem de 31,9% (-4,1 p.p. ante o 4T21).
CSN Mineração (CMIN3): recuperação no tri contra tri
Com recuperação dos volumes em razão da parada para manutenção ocorrida em novembro, mesmo com os impactos das chuvas em janeiro, esperamos receitas avançando para a operação no 1T22, também ajudada pelos maiores preços realizados. Os custos devem vir em linha com o observado no 4T21, também trazendo menos diluição em razão da suspensão momentânea das operações e sentindo impacto dos maiores preços de insumos. O frete também deve pesar, mesmo que em menor proporção. Com isso, esperamos que a recei- ta contabilize R$ 3.679 mm, 40% maior t/t. Esperamos que o EBITDA feche o trimestre em R$ 1.333 mm, com margem de 36%.
Gerdau: ON América do Norte é destaque novamente
Esperamos desempenho mais fraco na ON Brasil em virtude da sazonalidade do período, o que deve limitar os volumes vendidos no mercado interno, parcialmente compensados por crescimento nas exportações. Os preços devem apresentar queda na comparação trimestral, devido à pressão na base, afetando negativamente as receitas. Os custos na operação devem sentir a alta das commodities, em especial minério de ferro e car- vão, mas a queda da sucata pode trazer certo alívio, mantendo-os em linha t/t, e pressionando as margens na operação. Na ON América do Norte, devemos ver leve expansão de volumes vendidos, mas preços subindo, acompanhando a forte demanda na região, elevando margens, mesmo com pressão de custos. A surpresa positiva fica por conta da ON Aços Especiais onde, apesar dos desafios da crise de semicondutores, devemos ver avanços nos preços, compensando a estagnação nos volumes, ajudando nas margens. Assim, esperamos que as receitas totalizem R$ 19.977 mm, 7,3% menor t/t, enquanto o EBITDA deve fechar em R$ 5.063 mm, queda de 15% (+17% a/a) e margem de 25,3%.
Usiminas (USIM5): trimestre difícil
Para o 1T22 da Usiminas, devemos ver volumes em linha como observado no 4T21. Contudo, os preços realizados na siderurgia devem sentir a pressão dos descontos do trimestre e limitar o avanço das receitas. Na Mineração, apesar do maior preço do minério de ferro no período, os volumes serão impactados pela parada em razão das chuvas, além do efeito do câmbio. Ressaltamos também a qualidade do mix, com os descontos de sílica suavizando. No consolidado, esperamos que as receitas da Usiminas fechem em R$ 7.147 mm, 11% menor que o 4T21. Os custos devem vir impactados pelo carvão, mais uma vez, mas os carrego do minério de ferro e placas mais baratas compensam parcialmente. Assim, o EBITDA deve ser reportado em R$ 1.715 mm, com margem de 24%.
Vale (VALE3): chuvas prejudicam volumes
Também impactados pelas chuvas do período, tanto no Sistema Norte como no Sudeste, os volumes de produção e vendas no trimestre para Minerais Ferrosos devem apresentar contração. Com relação aos preços, devemos ver efeitos positivos por conta de maior spread nos prêmios de qualidade, bem como preços provisórios elevados, parcialmente compensados por preços defasados mais baixos referentes ao 4T21. Com a menor produção, devemos ver menor diluição de custos fixos, elevando, assim, os custos da operação na comparação trimestral, mesmo com o efeito positivo de carrego de estoques do 4T. No segmento de Metais Básicos, na comparação t/t devemos ver maiores volumes de níquel e menores volumes de cobre em razão da parada para manutenção em Sossego. Os preços realizados de níquel devem ser beneficiados pela alta da commodity nos mercados internacionais, que também ajuda o cobre, mas em proporção bem menor. Os custos, no entanto, devem pressionar bem, comprimindo as margens no trimestre. Assim, esperamos que a Vale reporte receitas consolidadas de US$ 11.539 mm, 15% menor que o 4T21 e que o EBITDA venha em US$ 6.458 mm, alta de 33,8% t/t, quando vimos efeitos não- recorrentes de despesas referentes a Brumadinho, no montante de US$ 2.131 mm.