Volumes em queda tiram brilho de retomada de preços
O início de ano para as companhias no setor de Papel e Celulose apresentou tendência positiva de elevação de preços das commodities nos mercados internacionais, mas os efeitos indiretos da guerra no transporte marítimo internacional devem limitar os embarques e vendas no trimestre, afetando as receitas. Além disso, com custos ainda pressionados por maiores preços de insumos, além de menor diluição de custos fixos em razão de paradas programadas para manutenção, deveremos ver compressão de margens das empresas, tanto na comparação trimestral quanto anual.
Os preços de celulose têm observado uma tendência de alta desde o fim do ano passado, em um processo de recuperação após retomada de demanda na China e recuperação de margens das papeleiras, principalmente. O setor de papel no país asiático tem mostrado resiliência, permitindo repasses e implementação de preços que, de fato, devem ser traduzidos em maiores preços FOEX na comparação trimestral. Contudo, apesar do menor impacto direto da guerra no setor, devemos ver efeitos indiretos como as limitações logísticas no transporte marítimo internacional que limitou embarques de celulose ao longo do trimestre, atrasando a chegada de volumes nos portos. Em consequência, devemos ver efeitos de preços defasados limitando os avanços de precificação realizados das companhias na comparação como 4T21.
Contudo, mesmo com os contratempos apresentados, as perspectivas de demanda seguem positivas. O consumo por papel na Europa e nas Américas segue em ritmo forte, especialmente nos Estados Unidos, importante mercado consumidor, contribuindo para boa dinâmica do mercado. Falando em Estados Unidos, a maior demanda por papel manteve o ritmo de exportações em níveis mais baixos, reduzindo oferta internacional e contribuindo para preços sustentáveis de kraftliner. Na ponta negativa, elencamos os efeitos do prolongamento da guerra na Ucrânia no crescimento do PIB na Europa e a demanda geral por produtos, incluindo papel, bem como os sinais de desaceleração econômica na China, que podem afetar negativamente a demanda por papel, limitando repasse de preços na cadeia e pressionando margens das papeleiras, trazendo um cenário mais ácido para negociações.
Aqui no Brasil, a sazonalidade natural do trimestre deve impactar as vendas no mercado interno, apesar de esperarmos ainda boa performance do setor de Alimentos e Bebidas, principalmente para os frigoríficos, beneficiando demanda por papéis para embalagens. Entretanto, para o mercado de embalagens de papelão ondulado (P.O.), dados da Empapel mostraram recuo de 10% ante o 1T21 na expedição de caixas de P.O., abaixo do observado nos últimos dois anos, mas com volumes ainda em patamares elevados.
A pressões de custos e inflação devem, novamente, impactar as margens das empresas, com alta de preços dos insumos, em especial químicos e combustível. Além disso, paradas programadas para manutenção ao longo do período devem afetar o custo fixo, devido a menor diluição.
Perspectivas 2T22: A queda recente nos preços de algumas commodities pode trazer certo alívio nos custos para o próximo trimestre, apesar do cenário de continuidade de pressões inflacionárias. Esperamos que os volumes vendidos apresentem recuperação em virtude da maior disponibilidade produzida e chegada dos embarques ainda represados, o que, juntamente com preços realizados mais elevados, poderão beneficiar as receitas das empresas, levando a margens mais elevadas. Mantemos o alerta quanto aos recentes dados de desaceleração da economia chinesa e os efeitos de um provável novo pacote de estímulos, além dos impactos da guerra da Ucrânia na demanda geral na região.
Irani (RANI3): margens devem se manter, mesmo com queda esperada nas receitas
Assim como no 4T21, esperamos um resultado afetado pela conjuntura interna de menor demanda sazonal e efeitos de custos e inflação ainda elevados. Devemos ver menores volumes vendidos de caixas sustentáveis, seguindo o movimento de queda no mercado interno, apesar de ainda em patamares elevados ante os níveis históricos. A menor expedição de caixas de P.O. devem também impactar a demanda por papéis para embalagens, reduzindo volumes vendidos no período. No que tange os preços, contudo, podemos ver leve avanço na comparação trimestral, refletindo estratégia da companhia de preço sobre volume.
Com relação aos custos, mais uma vez a companhia terá que lidar com custos mais elevados de insumos como químicos e combustível e pressão de inflação, mas o menor preço das aparas pode compensar parcialmente estes efeitos. Assim, apesar da queda esperada nas receitas no t/t, vemos o EBITDA em linha, ficando em R$ 131 mm, com margem subindo para 33%.
Klabin (KLBN11): desafios em pauta, diversificação ajuda
A Klabin também não deve passar ilesa pelos desafios trazidos pelo primeiro trimestre de 2022, mas acreditamos que os impactos, quando comparado com demais pares, devem ser relativamente menores, em razão de sua diversificação que, uma vez mais, fará diferença em momentos de adversidades. No segmento de celulose, deveremos ver preços mais elevados na comparação trimestral, beneficiado pela melhor dinâmica na celulose de fibra longa, em especial na Europa; contudo os volumes deverão ser prejudicados em razão das limitações logísticas observadas ao longo do período que retardaram embarques, bem como efeito de menor produção em razão da parada programada para manutenção em Puma, ocorrida em fevereiro. No segmento de papel, esperamos números fortes para kraftliner em razão da demanda forte no mercado externo, que deve compensar os menores volumes vendidos no mercado interno. Aliás, devemos ver queda também dos volumes vendidos de caixas de P.O., seguindo a retração observada nos números reportados pela Empapel. Em termos de preços, ainda devemos vê-los em patamares satisfatórios, apesar do efeito negativo esperado pela variação cambial no período.
Novamente, os custos no geral devem pesar no balanço, principalmente de combustível e químicos, estressando as margens da companhia. Assim, esperamos que a receita total reportada venha em R$ 4.434 mm, queda de 3,2% t/t. O EBITDA, por sua vez, deverá totalizar R$ 1.532 mm, sentindo os efeitos da compressão de margens, que deverá ser reportada em 35%.
Suzano (SUZB3): celulose e custos pesam negativamente
Esperamos um resultado fraco para a Suzano no 1T22, impactado por desempenho aquém do esperado no segmento de celulose, com embarques e preços realizados ainda afetados por restrições logísticas no transporte marítimo internacional, o que intensificou a sazonalidade mais fraca do período. Os preços médios de celulose devem ter avanço no tri a tri, entretanto, o atraso dos embarques deve trazer maior participação no mix de produtos com preços defasados, segurando os avanços que poderíamos ver comparado ao FOEX, que evolui, seguindo os anúncios de aumentos de preços que vimos ao longo dos últimos meses. Além disso, podemos ver impactos da forte desvalorização do dólar nas receitas no trimestre.
Em relação ao segmento de papel, desconsiderando o efeito da sazonalidade mais fraca do primeiro trimestre, devemos ver números bons, com preços médios avançando, seguindo a demanda ainda robusta no mercado interno.
No entanto, os custos seguem pressionando margens, em especial insumos como combustíveis e químicos, em razão da forte alta das commodities nos mercados internacionais. Para a Suzano, devemos ver ainda efeito das paradas programadas para manutenção que ocorreram no trimestre em Imperatriz, Jacareí, Mucuri (Linha 1)e Três Lagoas, diminuindo a diluição dos custos fixos.
Com isso, esperamos receitas totais para a companhia em R$ 9.813 mm, queda de 14% t/t (mas 11% maior a/a), e EBITDA reportado em R$ 4.869 mm, com margem reduzindo para 49,6%.