Macroeconomia


Por que ainda não revisamos nosso preço-alvo para o Ibovespa?

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Gabriela Joubert

Publicado 29/jun

Por que ainda não revisamos nosso preço-alvo para o Ibovespa?

Desde nosso último relatório de atualização do Ibovespa, há um mês (leia aqui) e no qual mantivemos nosso TP 2023 em 118 mil pontos, reforçando que apesar das incertezas o índice ainda tinha oportunidades de entrada (em especial quando excluíamos do cálculo os papéis de commodities e bancos), o índice brasileiro avançou cerca de 7%, e chegou a superar os 120 mil pontos. O movimento de alta foi impulsionado por expectativas de início de corte da Selic no segundo semestre deste ano, conforme o Arcabouço foi aprovado na Câmara, minimizando as incertezas quanto ao fiscal, e à ancoragem da inflação, concomitante às projeções mais baixas para o IPCA, inclusive no longo prazo. Somado a isso, tivemos melhora de perspectiva para o país e PIB acima do esperado, contribuindo para elevar os ânimos por aqui. Lá fora, as apostas de que o FED encerraria seu ciclo de alta em breve ganharam força, levando o S&P500 a um bull market, com avanço de mais de 20% desde o início do ano.

Com todas estas mudanças no cenário, como estamos vendo o Ibovespa até o fim do ano?

A alta do Ibovespa observada recentemente foi resultante de uma melhora nas expectativas macroeconômicas, com inflação para baixo e PIB para cima, além do cenário favorável ao início do ciclo de corte nos juros, o que influencia favoravelmente no prêmio de risco, fazendo com que as ações subam majoritariamente em um primeiro momento, sem importância a um ou outro setor específico. Quando observamos os subíndices, vemos um avanço significativo dos papéis de companhias voltadas ao mercado interno, como IMOB, que sobe mais de 30% no ano, e o IFNC, com alta de 17% no acumulado de 2023. Contudo, na contramão, o IMAT, principal índice de commodities, recua 8,75% no ano, mesmo com Ibovespa avançando quase 7%, espelhando as frustrações quanto à recuperação da economia chinesa e o efeito sobre as ações das empresas atreladas a ela.

Este é um reflexo da variação das expectativas de lucros para as empresas e o peso destes setores na bolsa brasileira, conforme gráfico abaixo:

Apesar disso, ainda vemos o P/L do Ibovespa em patamares extremamente baixos, negociando atualmente em cerca de 7x, o que poderia justificar uma alta potencial de mais de 50%, caso víssemos uma volta ao patamar histórico de 12x. Mas, em nossa opinião, este não seria o caso. Seguimos céticos quanto à recuperação do setor de commodities, em especial as siderúrgicas e mineradoras, uma vez que os dados advindos de China seguem desafiando as expectativas. Considerando o peso destes papéis no índice, vemos um limitador para fortes avanços do índice até o fim do ano, a não ser que vejamos mudanças significativas no cenário macroeconômico chinês. A grande incógnita fica por conta dos bancos, outro setor de grande peso no Ibovespa e que poderá ser beneficiado por um cenário mais favorável internamente, mas que ainda lida com alta inadimplência e crédito restrito (veja aqui relatório especial que soltamos sobre o setor).

Então, onde estamos vendo oportunidades? Seguimos apostando nos setores voltados ao mercado interno, como Varejo & Consumo, Real Estate, Saúde & Educação e Indústria, uma vez que estes foram os setores mais prejudicados pelo movimento de alta dos juros. Além disso, com uma perspectiva mais positiva de queda na inflação e nos juros, além de revisões para cima do PIB, devemos ver um ambiente mais favorável à demanda interna, o que deverá beneficiar também as receitas e os custos dessas empresas, levando a maiores margens.

A temporada de balanços do 2T23 mostrará não apenas os resultados consolidados do primeiro semestre do ano, mas trará uma visão atualizada quanto às expectativas das empresas para o restante de 2023, tanto com relação à demanda interna e sentimento da cadeia, quanto das expectativas de custos e despesas, o que poderia levar a novas revisões de lucros para as empresas mais beneficiadas por este cenário, conforme mencionamos acima. No que tange às exportadoras, as falas recentes do primeiro-ministro chinês, Li Qiang, sobre o comprometimento do governo em entregar um crescimento do PIB de 5% este ano pode trazer impactos positivos via estímulos adicionais na segunda maior economia do mundo. Entretanto, mantemos a cautela neste momento, até que estes benefícios se traduzam em dados palpáveis e reflitam-se na demanda e, consequentemente, nos números das exportadoras.


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