Inflação chega a 9,1% ao ano. E não estamos falando do Brasil
Em reflexo ao receio do mercado diante da inflação dos EUA e situação na China, o Ibovespa encerrou a semana com queda de -3,73%, suavizado após leve alta de 0,45% nessa última sessão, cotado em 95.551 pontos. Por um lado, ao longo da semana o índice espelhou a queda dos papéis de siderurgia e mineração, que acompanhou o recuo do minério de ferro diante de dados negativos do PIB chinês, além da situação do setor imobiliário e nova onda do Covid-19 no país. Nos EUA, apesar de alívio no último pregão com falas dos dirigentes do Fed, o cenário de cautela prevaleceu com inflação e princípio da pressão econômica nos balanços dos grandes bancos. Em vista disso, dentre os setoriais domésticos, o índice de materiais básicos (IMAT) caiu -5,77% acompanhando o movimento das commodities, em seguida vimos recuo de 3,90% do índice financeiro (IFNC). Além disso, os demais indicadores do setor imobiliário (IMOB), consumo (ICON) e utilities (UTIL) também repercutiram o cenário, fechando a semana com queda acumulada de 3,12%, 1,66% e 0,34%. Por fim, dentre as maiores altas da semana o destaque vai para Natura (NTCO3), que avançou 9,5%, seguido da BB Seguiridade (BBSE3) com 8,5% e Magazine Luiza (MGLU3) com 6,1%. Na outra ponta, em reflexo vimos forte queda de 13,6% da SLC Agrícola (SLCE3), assim como baixa de 12,6% da 3R (RRRP3) e perdas de 12,5% da Alpargatas (ALPA3).
A principal notícia da semana foi a inflação acima da expectativa nos EUA, chegando a 9,1% em 12 meses, a maior desde 1981. Apesar da recente mudança na postura do Fed, que já havia acelerado o ritmo de alta de juros para 75 bps na última reunião, o mercado reagiu mal e a curva de juros passou a precificar nova aceleração para 100 bps no próximo comitê em julho. Esse choque de juros no curto prazo tem como consequência aumentar o risco de recessão, que alguns analistas já antecipam para 2022. E é com esse pano de fundo, economia crescendo menos e juros maiores, que os mercados continuam voláteis na semana. O dólar teve nova alta frente à cesta de moedas e chegou no maior patamar em 20 anos, e voltamos a ver a paridade em relação ao euro. A aversão a risco continua impactando as bolsas e países emergentes e as commodities fecharam a semana com nova queda de 2%, com petróleo que chegou a ser cotado a $90/barril, revertendo parte da baixa e fechando em $97/barril. O PIB chines mais fraco também aumentou as preocupações com o crescimento global. A China apresentou queda de 2,6% no PIB no 2º trimestre, em relação ao 1º, e 0,4% de alta em relação ao mesmo período no ano anterior. O lockdown em diversas cidades cobrou seu custo, mas o desempenho ficou abaixo do esperado pelo mercado e compõe com a dificuldade de retomada do setor de construção, importante motor de crescimento na China. O cenário é de muitas incertezas, como podemos ver pelos movimentos nas taxas de juros americanas. A inversão entre a taxa de 2 anos e de 10 anos indica recessão, mas também indica que a inflação deve cair em breve e o ciclo de alta do Fed pode ser mais curto. Por enquanto, as apostas ainda são bastante especulativas e cedo ainda para conclusões muito assertivas, por isso, a cautela nas alocações de investimentos.
Aqui no Brasil, os dados de atividade mais recente seguem em alta com o setor de serviços com novo desempenho acima do esperado. Nós revisamos nossa expectativa de crescimento do PIB para o ano, mas também com inflação menor. As reduções de impostos devem trazer deflação em julho e a queda das commodities indica novo alívio na inflação de bens e alimentos, reduzindo também a expectativa para 2023. Claro, tudo depende de como será o fiscal no próximo governo. A aprovação da Pec essa semana deve injetar mais R$41 bi na economia, mais crescimento, mas também manter um risco de inflação em alta. Mas o maior risco é deixar o caminho aberto para novas medidas de aumento de gastos em 2023, que revertam a atual trajetória de melhora das contas fiscais e da dívida publica, já considerando uma redução da inflação e do ciclo de commodities. Nesse cenário de risco fiscal em alta, os juros seguem subindo e impactam a bolsa local. As taxas pré-fixadas de mercado apontam que a Selic pode superar 14% a.a.
Empresas e Setores
Redução de tarifas. A Aneel aprova redução média de 2,44% nas tarifas da CPFL Paulista, que tem operação no interior paulista. A diminuição vale a partir do dia 13/07 desta semana. | Exportações em queda, receita em alta. O Cecafé informou a redução de 13,3% no volume exportado de café no comparativo com o último ano-safra (2020/21), entretanto, a receita gerada foi recorde, na soma de US$ 8,12 bi. | Volume financeiro médio diário reduzido foi apresentado pela B3 (B3SA3), a companhia reportou uma queda de 8,4% no comparativo mensal e somou R$ 27,7 bi no mês de junho. | Emissão de debêntures. A BRF (BRFS3) aprovou sua 4ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, em duas séries. A empresa busca captar até R$ 1,7 bi. | Empreendimentos e resultados. A Cyrela (CYRE3) comunicou um Volume Geral de Vendas (VGV) na soma de R$ 2,33 bi (+21% a/a e +124% t/t) oriundos de 13 lançamentos feitos no 2T22. | Avanço das vendas líquidas foi comunicado pela Direcional (DIRR3) no 2T22, a empresa somou R$ 836 mm em vendas líquidas (+36% a/a). | Demanda nos ares. A Gol (GOLL4) anunciou um aumento de 54% na demanda por voos no mês de junho, já sua oferta acompanhou a demanda e cresceu 68,6% no comparativo anual do mesmo período. | Aquecimento. A Iguatemi (IGTI11) comunicou em prévia operacional o aumento de 30% nas vendas comparado ao mesmo período pré-pandemia (2019), o valor total somou R$ 4,3 bi. | Geração de valor ao acionista. O Hospital Mater Dei (MATD3) aprovou o programa de recompra de ações, a empresa busca recomprar até 5,6 mm de papéis (1,5% da quantidade total em circulação). | Bilhões em vendas. Foram anunciados pela MRV Engenharia (MRVE3) que reportou seus dados operacionais do 2T22, no período foi totalizado R$ 2,6 bi em vendas líquidas (+26,2% a/a). | Campo de Frade. O PetroRio (PRIO3) anunciou o aumento da produção de petróleo para próximo de 48,5 mil barris/dia com a revitalização de poços na Bacia de Campos. | Operação mais limpa. A Vibra (VBBR3) anunciou o início das entregas de combustível com caminhões tanque híbridos de diesel e GNV, reduzindo em 20% as emissões de CO2. Além disso, a empresa comunicou a criação de um fundo de Venture Capital com R$ 90 mm para investimento em startups focadas no segmento de energia limpa e mobilidade. | No cenário internacional, a varejista Alibaba (BABA34) foi alvo de investigação após a possível venda de mais de 1 bi de dados pessoais de chineses foram colocados a venda por cerca de US$ 200 mil.
IPOs & Afins
Nessa semana a Corsan informou ao mercado que desistiu do IPO. A estatal de saneamento básico do Rio Grande do Sul planejava abrir o capital na B3 como parte do processo de privatização. Entretanto o governo de RS retrocedeu após o Tribunal de Contas estadual determinar que a companhia precisaria corrigir o valuation. Segundo o fato relevante liberado para o mercado na quarta-feira (13), a revisão do modelo de avaliação inviabilizaria a operação na janela pretendida. Não obstante, o Estado do RS reafirmou sua convicção quanto à necessidade de privatização da Companhia, haja vista a demanda de recursos vultosos para realização dos investimentos para o atendimento das metas fixadas no “Novo Marco do Saneamento”. | Já na sexta-feira passada, 8 meses após o IPO, a Getnet (GETT11) aprovou em assembleia de acionistas o fechamento de capital. A PagoNxt, controladora da companhia, propôs o OPA em maio oferecendo R$4,72 por unit (R$ 2,36 por ação ordinária e R$2,36 por ação preferencial).
Fusões e Aquisições
Em semana amena para o mercado de M&A, vimos na terça-feira (12) o anúncio de mais uma aquisição pela Ambipar (AMBP3), dessa vez com a compra de 100% da canadense Graham Utilities, através de sua controlada. Com a transação a companhia consolida um montante de cerca de 35 empresas adquiridas desde o IPO, realizado no segundo semestre de 2020. Nessa caso o movimento tem como objetivo fortalecer as suas operações no país e continente, que já contam com quatro empresas no Canadá e onze na América do Norte. | Além disso, a divisão da Amazon (AMZO34) no Brasil comunicou a aquisição de uma parcela de 9,68% da Total Express, controlada pela Abril. A adquirida atua no segmento de logística, voltada principalmente para o e-commerce e grandes varejistas, de modo que a transação segue em linha com a estratégia de impulsionar as atividades da Amazon no mercado brasileiro, além ampliar as entregas em até 24h, já explorados pelos seus concorrentes.
Fundos Imobiliários
Seguindo a volatilidade do mercado, o IFIX cedeu -0,55% na semana. Seguem os principais fatos relevantes da semana: BBPO11: O fundo informou que o locatário Banco do Brasil S/A manifestou sua intenção de não renovar os contratos de locação de dois imóveis, localizados nas agências Carijós (Belo Horizonte-MG) e Ipiranga (São Paulo-SP). Em paralelo, o fundo afirma seguir negociando com o locatário a renovação dos contratos de locação de 04 imóveis, cujos prazos das respectivas locações igualmente se encerram em novembro de 2022: CSL São Paulo; CSL Curitiba; Ag. Belém e; Ag. Tamoios (Belo Horizonte-MG). | RBRY11: Foi aprovado pela administradora a 5ª emissão de cotas do fundo, no montante inicial de R$ 250 mm por meio da emissão de 2.454.349 novas cotas ao preço de R$104,96/cota, incluído da taxa de distribuição primária. | BRCO11: O fundo finalizou essa semana, com a locatária com a West Rock, a assinatura do contrato de locação de 14.212,00 m² do imóvel Bresco Itupeva, equivalente a 36,6% da ABL do imóvel. A área encontra-se atualmente locada e ocupada pela empresa Coopercarga, motivo pelo qual a locação está condicionada suspensivamente à efetiva desocupação do imóvel pela atual locatária, que deverá ser concluída em até 30 dias. Após o período de carência, o valor do aluguel do referido contrato voltará a representar, aproximadamente, R$0,02 por cota do Fundo ao mês, descontadas eventuais despesas e taxas. | HGRU11: Foi concluído pelo fundo a venda de uma loja localizada em Videira-SC e atualmente locada para a empresa Casas Pernambucanas. Em contrapartida, o fundo recebeu R$ 5,1 mm pela alienação do imóvel, o equivalente a R$ 5.500,51/m². Com o preço de venda 36% superior ao investido no imóvel, a transação gerou ao fundo um lucro caixa de R$ 1,4 mm, equivalente a R$ 0,07/cota. | BTLG11: O fundo comunicou as liquidações da 1ª série da 22ª e 25ª emissões de CRIs, no montante total de R$ 54,3 mm. A gestora estima que a liquidação gere uma redução da despesa financeira de, aproximadamente, de R$ 0,05 por cota nos rendimentos no fundo.
Agenda da Semana
A agenda da próxima semana trará indicadores importantes para a conjuntura fiscal brasileira. Será divulgada a arrecadação tributária referente ao mês de junho, que deve seguir mostrando crescimento expressivo. Além disso, o Tesouro disponibilizará o relatório de avaliação de receitas e despesas primárias do terceiro bimestre, que deve apontar para um quadro fiscal ainda controlado para esse ano, apesar das medidas políticas recentes. Completam a agenda interna a inflação medida pelo IGP-10 e o dado de criação de empregos formais em junho. Externamente, vale acompanhar a definição da taxa de juros na zona do euro, que deve aumentar para 0,25%, seguindo a alta expressiva dos números de inflação ao longo dos últimos meses.
Top da Semana
A companhia, Natura (NTCO3), teve um alta de 9,5%, sendo assim o maior retorno da semana, seguida pelo BB Seguridade (BBSE3), que apresentou uma alta de 8,5% com expectativas de dividendos robustos. Após fortes perdas durante o ano, a Magazine Luiza (MGLU3) apresentou retorno positivo teve alta de 6,1%. Com maior cautela, SLC Agrícola (SLCE3) caiu 13,6%, concomitante a uma queda de 12,6% da 3R (RRRP3) que sofreu com a queda do petróleo. Fechando a terceira maior queda com Alpargatas (ALPA4), que teve um desempenho negativo de 12,5%.