Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Gabriela Joubert

Publicado 08/abr

A forte alta dos juros – nos EUA

Após ter atingido o pico do ano na semana passada, Ibovespa encerrou esta semana a 118.322 pontos caindo 2,67% e devolvendo ganhos, o que refletiu em uma maior aversão do mercado após a ata do Fed com tom mais hawkish de aceleração do aperto monetário. Para fechar a semana, a esperada divulgação do IPCA de março trouxe um indicador acima das expectativas e sacramentou a queda do índice local. A Petrobras trouxe volatilidade para o índice após a desistência dos indicados para conselheiro e diretor presidente, mas com nova indicação para a presidência alinhada ao mercado, a ação valorizou 5% na semana na contramão do Ibovespa. Com a expectativa de maior taxa de juros, os índices setoriais que mais sofreram na semana foram: IMOB (-7,58%) e ICON (-5,81%), seguidos pelo IFNC (-3,14%) e IMAT (-2,31%).

O destaque da semana foi mais uma forte alta das taxas de juros nos EUA. Mesmo ainda sem conhecer a inflação de março e com a acomodação das commodities nas últimas semanas e o petróleo voltando para o patamar de $100/barril, o mercado segue precificando mais altas de juros esse ano, e taxas longas também mais elevadas. O trilionário mercado de títulos do tesouro acumula perda de cerca de 7% no ano, resultado do aumento dos juros. A ata do Fomc elevou o tom de preocupação com a inflação e ressaltou a necessidade de altas do Fed Fund Rate em ritmo maior, além de um plano de redução do balanço que pode ser mais agressivo que o esperado. O Fed já estava “atrás da curva” e a curva ficou ainda mais inclinada. A divulgação do CPI de março na segunda feira pode colocar ainda mais lenha nessa fogueira, a expectativa é de uma variação de 1,2% no mês. O S&P caiu 1,3% na semana e o dólar, medido pelo índice DXY, teve mais uma alta encostando no patamar de 100 pontos.

Aqui no Brasil, a inflação também foi mais uma vez fonte de preocupação, com o IPCA de março surpreendendo em 1,62%, bem acima da nossa expectativa de 1,4%. Alimentos e combustíveis ainda representam a maior parte da variação, mas o risco de inércia fica mais elevado com o patamar acumulado de 11,3% em 12 meses. A curva de juros que havia dado alívio nas últimas semanas, com a queda do petróleo e valorização do real, voltou a subir e as apostas do mercado voltaram a incluir uma alta adicional na Selic além de maio. As perspectivas para a inflação tiveram melhora com o anúncio do governo da retirada da bandeira de escassez hídrica a partir de 16 de abril, o que deve impactar os índices de inflação de abril e maio. O dólar seguiu o movimento de fora e teve alta na semana de 1,5% na semana.

Empresas e Setores

Novela da Petro. O empresário Rodolfo Landim, indicado ao conselho de administração e Adriano Pires, indicado à presidência da Petrobras (PETR4) recusaram suas indicações para presidir colegiado da companhia. | Corporate Venture. A Americanas (AMER3) lançou um fundo de venture capital visando o investimento em startups que complementem o projeto da varejista. | 10 por 1! A Odontoprev (ODPV3) aprovou um desdobramento de ações na proporção de 10 para 1, a decisão valeu para os acionistas que detinham ações em 04/04/22, a partir desta data, os papéis passaram a serem negociados “ex-desdobramento”. | Retomando voos. A Azul (AZUL4) reportou alta de quase 33% no tráfego de passageiros ao longo do 1T22, a oferta de voos (ASK) da companhia aumentou na ordem de 26,4%, alcançando 9 mm de assentos. Além da Azul, a Gol (GOLL4) comunicou que houve aumento em 113,9% (a/a) na demanda por voos no mês de março, no qual a oferta já crescera 93% no mês passado levando a taxa de ocupação para 79,5% no mês citado. | Aumento de capital. A Gol (GOLL4) comunicou que irá aumentar seu capital social na ordem de até R$ 2,87 bi, a preferência para a subscrição de ações preferenciais será dos acionistas que já detêm ações da aérea. | Proventos à vista. As companhias BrasilAgro (AGRO3), Raia Drogasil (RADL3) e Odontoprev (ODPV3) anunciaram o pagamento de juros e dividendos na quantia de R$ 2,02, R$ 0,04 e R$ 0,079, respectivamente. Ressaltamos que para a Raia Drogasil haverá dedução de IR na fonte. | Realocação da produção. A Toyota (TMCO34) anunciou o encerramento das atividades de sua fábrica em São Bernardo do Campo, SP. Segundo a montadora as atividades serão realocadas para cidades do interior paulista como Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, assim buscando maiores sinergias entre suas plantas de produção. | Tuitou, comprou. Ações do Twitter (TWTR34) dispararam mais de 20% no início do pregão seguindo a notícia de que o bilionário Elon Musk havia comprado 9,2% da rede social.

IPOs & Afins

Nessa semana, Fras-Le e CBA deram continuidade ao processo de follow-on e precificaram suas ações em R$ 12 e R$ 19 respectivamente. Foram R$ 629 milhões levantados pela primeira companhia e R$904 milhões pela segunda. Para quem não leu o último mercado da semana, a oferta de distribuição da CBA foi 100% secundária, com o Banco Votorantim se desfazendo de parte de suas ações para aumentar a liquidez dos papéis e enquadrar a companhia nos critérios de free float do novo mercado. Já a controlada da Randon, a Fras-Le, realizou uma oferta primária e secundária e os recursos captados pela empresa serão utilizados na expansão dos negócios. 

Além disso, segundo os dados da B3, essa é a primeira vez em quatro anos que não houve nenhum IPO no primeiro trimestre do ano. Entretanto, as incertezas atuais e o cenário macroeconômico menos favorável não impediram os vários follow-ons que ocorreram no período. Fato é que as empresas listadas já são conhecidas pelo mercado, além de possuírem maior track record de divulgação de dados financeiros. Dessa forma, facilitando a captação de recursos em momentos como esse.

Fusões e Aquisições

Na segunda-feira (4), através de sua subsidiária, a Lojas Renner (LREN3) anunciou a aquisição de 100% da Uello Tecnologia, companhia de logtech voltada para entregas urbanas. A transação consolidará ainda mais o ecossistema da Renner, ao passo que irá aperfeiçoar a experiência de seus clientes. | Além disso, a Totvs (TOTS3) comunicou a compra de 100% da Gesplan por R$ 40 milhões. Segundo a companhia, os conhecimentos em soluções de planejamento e gestão financeira da adquirida, irá ampliar e fortalecer o seu portfólio de serviços. | Por outro lado, com objetivo de expandir o cross sell em produtos financeiros no seu ecossistema, a Dotz (DOTZ3) anunciou a aquisição de 49,9% da Noverde, por R$ 35,7 milhões. | Por fim, na quarta-feira (6) a controladora da JBS e da Eldorado Brasil, J&F Investimentos, informou o mercado que ingressará no segmento de mineração, com a compra das minas de manganês e ferro da Vale (VALE3), localizado no Mato Grosso do Sul, por R$ 1 bilhão. Para o lado a Vale, a venda de suas operações entra em linha com a estratégia de simplificação do seu portfólio, além do controle do capital.

Fundos Imobiliários

Em mais uma semana positiva, o IFIX teve ganhos de 0,36% no período. Segue os principais fatos relevantes da semana:

MCCI11: Foi aprovada a 6a emissão de cotas do fundo, no montante de, no inicial de 3.500.000 cotas podendo acrescer 700.000 cotas no loto adicional, no valor de R$ 99,60 cada cota do montante inicial e 96,76 no montante adicional. | RBRR11: Foi aprovado pelo administrador do fundo a 12a emissão de novas cotas, no montante inicial de 3.300.000 novas cotas escriturais, a serem integralizadas à vista no valor de R$ 92,51, totalizando um volume inicial de R$ 305 mm. | HCTR11: O fundo anunciou a 13a emissão de cotas, no montante de mínimo de 255.000 costas e no máximo 4.862.100 cotas, o valor das cotas será atualizado e informado aos cotistas através de um fato relevante divulgado em até 5 dias úteis.

Agenda da Semana

A próxima semana trará a divulgação de indicadores relativos à atividade econômica doméstica em fevereiro. Após o crescimento da indústria no mês, conheceremos o desempenho dos setores de varejo e serviços, e também o PIB mensal do Banco Central. Os dados de crédito, balanço de pagamentos e contas públicas seguem sem previsão de divulgação. Externamente, será publicada a inflação nos Estados Unidos, medida pelo CPI, que deve acelerar para 8,4% em 12 meses, incorporando os efeitos da guerra nos preços de diversas commodities. Já os salários, por outro lado, devem mostrar nova contração em termos reais. Na China, poderemos observar uma redução da taxa de juros para 2,75%, com a autoridade monetária dando mais um passo para conter a tendência de desaceleração do crescimento do país asiático.

Top da Semana

Após uma semana de valorização do dólar frente ao real, os frigoríficos tiveram uma boa performance, com destaque para Minerva (BEEF3), que subiu 10%. Além disso, com possível privatização de volta ao radar, Eletrobras (ELET3 e ELET6) teve uma alta de 9,1% e 6,4% em suas ações. Por outro lado, diante da alta no preço do petróleo, Petrobras (PETR3 PETR4) e 3R Petroleum (RRRP3) também tiveram forte alta na semana. Completando as altas estiveram as empresas Carrefour (CRFB3) e Eneva (ENEV3). A pior performance do período foi da empresa Méliuz (CASH3), que acumulou uma queda de 19,6%. As varejistas Via (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) tiveram um resultado negativo de 16,8%, 16,5% e 15,9% respectivamente. Com o setor de construção fragilizado, Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Eztec (EZTC3) fecharam a semana no vermelho e compuseram as maiores quedas do índice, cuja lista foi completada por Banco Inter (BIDI11), Locaweb (LWSA3) e Qualicorp (QUAL3).

Agenda da Semana

 

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